AÇÃO CULTURAL


AÇÃO CULTURAL: RECONHECIMENTO E VALORIZAÇÃO

O CRB-8ª. Região, na última e recente edição do Prêmio Laura Russo (2007), contemplou o bibliotecário Marcus Vinicius Rios de Macedo pela ação cultural desenvolvida nas bibliotecas do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo.

 

Esse fato é amostra da valorização  de uma prática mais atual em centros de informação, onde não basta centralizá-la, organizá-la e disponibilizá-la, apenas vinculando-a à demanda explícita do usuário. Uma biblioteca dinâmica, por exemplo, não só cumpre os preceitos tradicionais de organização e desenvolvimento de um acervo bem administrado, mas procura acelerar o processo de encontro e assimilação da informação pelo usuário, a fim de que ele chegue objetiva e rapidamente ao conhecimento, criando-se então novas, atraentes e instigantes possibilidades de conexões cognitivas.

 

Como vimos em texto anterior, a ação cultural (AC) envolve a prática articulada e concomitante das ações de informar-debater-criar, não necessariamente nessa ordem, mas envolvendo modalidades múltiplas para cada um dos termos. Daí a sua potencialidade notável com vistas à dinamização e à eficiência informativa de qualquer centro de informação, na sua variada tipologia.

 

Até mesmo em comunidades de pós-graduandos, é possível observar a diversidade do grupo, quer no nível sócio-cultural, quer no econômico, que permitem constatar claramente que esses são fatores ponderáveis no trato com a informação e no traquejo quanto ao seu uso e aproveitamento. Numa fase aguda de necessidade de assimilar informações úteis para transformá-las em conhecimento próprio – e, na seqüência, possibilitar sua “metamorfose” em novas informações – , é possível perceber, mesmo informalmente, que as oportunidades prévias de contato com livrarias, bibliotecas, e suportes variados de informação agilizam o processo de busca e o resgate da matéria-prima para a construção do conhecimento almejado. Assim, a ansiedade da informação (pela quantidade e pela qualidade) fica menor e menos estressante no processo obrigatório da revisão bibliográfica que gera o referencial teórico de cada dissertação e/ou de cada tese, em qualquer campo do conhecimento; mas, destaca-se aí, com ênfase especial, a importância  dos programas ligados à educação do usuário, muitas vezes negligenciados nas bibliotecas e congêneres.

 

Todo esse processo de busca e encontro com a informação pode ser menos árido e mais prazeroso se passar pelas vertentes da AC, que nada mais é do que uma estratégia pedagógica, extremamente apropriada para ocorrer nos tipos diversificados de centros de informação. Tanto faz que seja um arquivo, uma biblioteca ou um museu, direcionados para adultos ou crianças, pesquisadores seniores ou escolares; a essência da AC continua sendo a mesma, sintetizada na fórmula informar-debates-criar/recriar conhecimento. Nos dias de hoje, com as facilidades de acesso e de uso das tecnologias de informação e comunicação, as possibilidades de interação se multiplicam e a AC também. Mais dinâmico, o centro de informação é bem aceito na comunidade que atende, além de ganhar espaço entre a comunidade externa, acentuando a própria divulgação em termos de excelência.

 

Embora a essência da AC seja a mesma sempre, em qualquer contexto, a sua prática precisa estar adequada ao projeto elaborado, aos objetivos, ao público e aos recursos disponíveis. Assim, mesmo que o tema seja o mesmo, a abordagem será diferente, em se tratando de uma biblioteca escolar ou um museu pedagógico; um arquivo histórico desenvolverá a temática da vinda de Dom João VI para o Brasil, em 1808, diferentemente do que o fará uma biblioteca especializada, ainda que se refiram aos fatos que ocorreram naquele mesmo momento histórico. Porém, sempre estarão na base da ação os três verbos encadeados: informar-debater-criar conhecimento, sem o quê não haverá verdadeiramente AC, conforme o conceito de Milanesi, exposto em Centro de Cultura: forma e função, no início dos anos noventa.

 

Se antigamente contava-se apenas com material bibliográfico, livros impressos na sua quase totalidade, hoje a fartura e a variedade do material permitem o exercício muito mais flexível de atividades culturais e de AC, com base em itens bibliográficos e não bibliográficos, audiovisuais ou não, dependentes de velhas e novas tecnologias de comunicação. Por isso, é possível “transportar” o público para espaços e tempos fora da sua realidade concreta, para que ele possa “vivenciar” até virtualmente o que se pretende informar, debater ou criar. As possibilidades são muitas e dependem de quem coordena o projeto de AC, liberando-se e liberando a criatividade dos planejadores e da equipe operacional, e do público (crianças ou adultos, especialistas ou iniciantes), para que voe alto, na construção do conhecimento.

 

Ora, quando falamos em centros de informação, estamos nos referindo tanto aos mais gerais quanto aos temáticos e aos especializados. Igualmente, a AC pode ter um caráter mais abrangente, como pode se aprofundar num determinado tópico, quer de uma forma mais superficial, quer mais verticalizada, sempre dependendo das características e do nível de conhecimento do público. Tomando como referência os fatos históricos de 1808, pode-se abordar os mesmos episódios da fuga da família real portuguesa e de sua comitiva para o Brasil, em linguagem acessível e no patamar de compreensão do público comum, bem como se deter e explorar, por exemplo, a imprecisão das listas de embarque, supostamente do interesse de historiadores e de genealogistas.

 

O que se propõe, nesta coluna de Infohome, é que não se perca a oportunidade de oferecer a informação de forma pragmática, pensando no seu potencial transformador, desde que seja trabalhada de forma eficiente com vistas à eficácia do seu uso, mesmo sem saber qual será o produto final, o que nem deverá ser uma prioridade.

 

Se a biblioteca pública pretende comemorar uma determinada efeméride, por exemplo, através de uma palestra, de um filme ou de uma exposição legendada, ela estará informando seu público-alvo sobre o contexto, os fatos, discutindo eventuais controvérsias que podem estar ligadas àquela data, além de criar oportunidade para esse público conhecer versões diversas sobre os fatos ocorridos e que formem sua própria opinião. Criar conhecimento, no caso, pode significar ir atrás de comprovações e de novos parâmetros, através do que sua inspiração e seus talentos permitirem avançar em aspectos literários, científicos, culturais, filosóficos, etc.

 

Ao final das contas, essa é a soma de incentivos, oportunidades e uma estratégia para aprender e se desenvolver, formando-se na informação, na leitura de materiais variados e no senso crítico cada vez mais necessário para sobreviver num mundo tão complexo e competitivo.

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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior