AÇÃO CULTURAL


UM PÉ DE FEIJÃO

A professora Teresa explicou a seus alunos que deveriam, em casa, pedir à mãe uma caixinha vazia de margarina ou alguma coisa parecida; que a lavassem e deixassem livre de qualquer gordura. Em seguida, deveriam forrar seu fundo com algodão, embebê-lo em água e ali depositar alguns grãos de feijão cru. Durante quinze dias, observariam tudo que ocorresse com aqueles grãozinhos e, a cada dia, iriam anotar as novidades, como numa reportagem. Se fotografassem ou filmassem, seria até melhor!

 

Quem não conhece esse experimento, próprio do ensino fundamental?

 

A escola de Teresa tem uma biblioteca escolar muito ativa, em que o bibliotecário é um jovem atento e ligado no que se passa nas salas de aula. Ao saber de antemão da matéria que seria trabalhada com aquela turminha, separou algumas pranchas com ilustrações de plantas em desenvolvimento e das partes que formam sua estrutura. Expôs, também, alguns livrinhos fáceis (tipo cartilha) que a biblioteca havia recebido da Secretaria da Agricultura, e que ensinavam como plantar o feijão numa horta caseira, como fazer os canteiros, a mistura do solo e a melhor maneira de regar.

 

Na hora do conto, ninguém melhor do que a Sueli para entreter a classe da professora Teresa com a história atemporal do menino que subia no pé de feijão!

 

Porém, a coisa não parou por aí.

 

O bibliotecário inventou dois concursos: um, da melhor fotografia (sementes como prêmio para o primeiro colocado e certificados de honra ao mérito para os demais participantes); o outro, da melhor reportagem (um exemplar da fábula para o vencedor e exemplar das cartilhas recebidas em doação para todos os outros colegas)

 

Continuando na sua programação, o bibliotecário conseguiu emprestado um vídeo com cenas da vida rural, em que os alunos, nascidos e criados “no asfalto”, puderam conhecer uma fazenda, cuja lavoura de soja é mostrada desde a lavra até a colheita, passando pela fase do preparo do solo, da adubação, do uso das diversas máquinas agrícolas, da prevenção e do combate às pragas – até por meio de avião -, da irrigação e da colheita, com espaço reservado para perguntas e discussões.

 

Em sala de aula, a professora Teresa perguntou à classe quantos tipos de feijão eles conheciam e quais os pratos que gostavam de comer, entre doces e salgados, tendo o feijão como ingrediente.

 

Aqui, quero chamar a atenção de quem porventura estiver acompanhando este texto para alguns pontos a serem ponderados:

1-           a interação entre a professora e o bibliotecário;

2-           a didática de ambos, até dispensando a aula expositiva;

3-           a prática do experimento em casa – como extensão da sala de aula – e da biblioteca, como extensão da sala de aula;

4-           a informação e o conhecimento proporcionados pelas instruções da professora, pelas cartilhas e pelo vídeo exibido;

5-           a observação, a leitura e a escrita que se complementam;

6-           o aspecto lúdico proporcionado pelos concursos criados pelo bibliotecário;

7-           a atuação do bibliotecário ao se programar e dedicar parte do tempo na biblioteca à ação cultural, utilizando os recursos de que ali dispõe.

 

Há músicas que falam de feijão; há novelas que falam de feijão; há prosa e poesia que falam de feijão, assim como há outros que falam de fome. Nestes tempos de tanta chuva e de tanta estiagem, porque não mostrar aos pequenos (e aos grandes) escolares o que se passa na roça e repercute na nossa mesa?

 

O tema do feijão é assunto para a imaginação e também para a realidade do cotidiano. Dá margem a considerações ecológicas, econômicas ou culturais. Como se diz, “dá muito pano pra manga”.

 

Entretanto, uma boa relação entre profissionais inteligentes explora esse e mil outros temas, seguindo o esquema básico da ação cultural (processo pedagógico-informacional), sem precisar de muitos recursos, nem de muita verba. Mas, é preciso interesse, dedicação profissional e persistência, sem achar que a atuação na biblioteca é apenas uma festa e, aí, descuidar-se da organização e da administração da informação. Seria uma lástima!

 

Este recado serve tanto para o bibliotecário em atividade quanto para a bibliotecária. Não é uma questão de gênero. Serve para ambos.


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior