AÇÃO CULTURAL


DA DIFERENÇA ENTRE ATIVIDADES CULTURAIS, PROGRAMAS E AÇÃO CULTURAL, NA PRÁTICA

Se atividade significa ação, programa quer dizer uma série de compromissos por atender, ou conjunto de princípios ou relação de objetivos de indivíduo, como explica o Minidicionário Aurélio...

 

Nesse sentido, qualquer centro de informação (biblioteca, arquivo ou museu) pode optar por eventuais atividades culturais ou com elas montar um programa cultural (mensal, semestral, anual), que envolva seu acervo informacional ou parte dele, com o intuito de acrescentar conhecimento ao seu público ou de contribuir para o seu lazer, independentemente das tarefas técnicas que lhe são próprias.

 

Estive recentemente em Ubatuba-SP, em viagem de pesquisa, que também envolveu a FUNDART, fundação responsável por zelar pelos edifícios ligados à história e à cultura locais e da região, ela própria sediada em casarões históricos tombados pelas repartições públicas competentes.

 

Mesmo a FUNDART fazendo tudo o que pode, em termos de atividades e programas culturais, dá pena ver o estado em que se encontram muitos dos “cartões postais” de Ubatuba: deteriorados pelo tempo e pela ação do homem, que não valoriza e não preserva a memória, até por desconhecimento da história e dos usos e costumes.

 

Ubatuba, no século XIX, viveu uma época de fausto e requinte social e cultural, em que se destacava o movimento do porto (sem cais!) por onde escoavam os produtos agrícolas locais e do Vale do Paraíba, gerando divisas que, por três vezes, suplantaram os resultados da Capital. Nessa época, sua população entre cidadãos livres, escravos e libertos girava em torno de apenas três mil habitantes.

 

Sua rica e interessante história menciona a existência de ateneus, teatros, e a construção inicial de uma estrada de ferro, na ânsia de se assemelhar e de se comunicar com o Rio de Janeiro (a Corte), além das cidades e das figuras de destaque do Vale do Paraíba.

 

Em que pese ser hoje um pujante município favorecido pelo turismo, motivado pela exuberante natureza, com inúmeras e belas praias e cachoeiras, desfrutadas por banhistas, surfistas e navegadores, Ubatuba poderia oferecer opções de turismo cultural e/ou histórico, caso pudesse preservar melhor o legado que lhe chegou do século XIX.

 

Sei que há muitas dificuldades e os famosos entraves burocráticos que impedem determinadas providências. Sei, também, que não basta uma portaria, um processo terminado ou uma lei para determinar que as coisas se concretizem: é preciso haver a verba correspondente e que ela seja liberada.

 

Enquanto isso, muita coisa vai se perdendo pela inoperância administrativa,  pela destruição do tempo, por acidente ou pela ignorância humana. Porém, o pouco que cada um – institucionalmente ou individualmente – puder fazer, juntará “as andorinhas para fazerem o verão”. Quero dizer, com isto, que a Prefeitura, à qual a FUNDART está subordinada, poderia preparar tecnicamente determinados funcionários, já dotados de aptidões, para serem os disseminadores das ricas peculiaridades de Ubatuba e de sua gente, do passado e do presente, que acolheram e acolhem com tanto calor os visitantes, mas, sem saberem contar os “causos” e os fazeres locais de sua cidade. “Seu” Filhinho (o historiador e farmacêutico Washington de Oliveira) parece ter levado com ele para a Eternidade, as glórias e a história de Ubatuba; a menos que o Casarão do Porto, o que sobrou da propriedade do dr. Esteves da Silva, as cerimônias religiosas incontáveis realizadas na Matriz, os documentos do Arquivo Municipal, os vestígios da antiga fábrica de vidro possam ser melhor organizados para, talvez a partir de um singelo folheto, por exemplo, dizer aos alunos da rede pública de ensino quais os vultos de destaque que fizeram de Ubatuba a linda cidade que ela é hoje. Talvez, o turista também possa aprender, aqui e ao vivo, mais do que aprendeu da história do Brasil nos bancos escolares.

 

A Biblioteca Pública  de Ubatuba recebeu recentemente uma nova profissional, formada em Biblioteconomia, com especialização em museus. O Arquivo já conta com uma arquivista experiente. Se houver uma política pública municipal de valorização dos funcionários que promova a educação continuada desses e de outros elementos do funcionalismo público municipal, todos sairão lucrando e o Município ganhará novo destaque.

 

Nosso litoral tem muito o que contar, mas é preciso saber qual a melhor maneira de fazê-lo e de mostrar o que tem e o que já teve. De tal forma que, entre outras, a cidade e a gente de Ubatuba sintam-se (mais) orgulhosas de se apropriar da ação cultural, ao informar-debater-criar conhecimento, como a FUNDART já chegou a fazer no passado não muito distante. Por outro lado, é recomendável que vejam o que em outros lugares se faz, para que haja motivação e possam se inspirar nos exemplos alheios, sem grandes traumas ou melindres.


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior