AÇÃO CULTURAL


OS MULTIPROPÓSITOS DA AÇÃO CULTURAL

Estamos no início do Ano Novo, e todos desejamos que seja feliz e produtivo para nós. Como profissionais, queremos nos desenvolver e que o nosso trabalho avance em qualidade e em resultados. Que o nosso esforço se traduza em benefício do usuário da informação organizada e da comunidade a que se destina, a qual dela se apropria através da nossa mediação competente. Há um aspecto social importante aí imbricado.

 

Hora de analisar o que ficou para trás e hora de planejar o que faremos nesse próximo período.

 

Desde o início desta coluna, vimos falando insistentemente sobre a necessidade de conhecermos o usuário da informação, no contexto do centro de informação e cultura em que atuamos e que ele frequenta ou pode vir a frequentar, seja com as características de arquivo, biblioteca ou museu. Para isso, vimos recomendando estudos locais periódicos, com metodologia específica, de teor científico; não podemos nos esquecer que o público usuário muda, embora não seja necessário recorrer a esse procedimento cotidianamente.

 

Como prestadores de serviço, é preciso que conheçamos a quem servimos, para não desperdiçarmos esforços, energia e recursos na busca de atingir os objetivos que nos propusemos, os quais devem estar “casados” com os dos usuários.

 

Na análise de que falamos, precisamos saber o que deu certo e o que não deu - uma boa base para ações futuras. No mínimo, o público estará um ano mais velho (e a nossa equipe também). Um ano a mais significa ganhos e perdas, acréscimos na quantidade e na qualidade; significa que o mundo mudou e fatos novos aconteceram ao nosso redor ou mais distantes, mas tudo isso nos afeta e gera informação e conhecimento.

 

Nesse universo em que trabalhamos, as tecnologias de informação e comunicação que nele incidem são vitais e, a cada dia, nos levam mais longe e praticamente decidem o destino de indivíduos bem como de sociedades inteiras. Hoje, podemos ter a notícia (informação) disso em tempo real.

 

Ora, temos um estoque de informação à nossa disposição, que pode ser uno ou compartilhado, graças às tecnologias e à maneira moderna de gerir o acervo, que vai muito além de classificar, catalogar e indexar material bibliográfico inerte.

 

No universo cada vez mais volumoso e dinâmico da informação, em seus suportes cada vez mais variados, usufruídos por um público cambiante e composto por camadas surpreendentes, não podemos ficar indiferentes a esses fenômenos concomitantes. É desejável que estejamos atentos, abertos e preparados para uma nova maneira de atuar.

 

Um centro de informação e cultura, de qualquer tipo, não pode mais permanecer na inércia. “Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé”. Sabedoria popular que, no caso, pode ser interpretada como anti-inércia, isto é: não basta estar em meio a um acervo plenamente satisfatório, bem organizado, se não for bem usufruído pela comunidade real e potencial que lhe é própria, transformando a informação ali disponível ou acessível em conhecimento pessoal e/ou comunitário, para seu benefício/progresso/avanço. Para tanto, é preciso, pois, que a informação chegue até o público a que se destina.

 

A modalidade usual de “self service” da informação, praticada na maioria das unidades de informação, costuma deixar de lado oportunidades excelentes de bem inserir o usuário nesse universo, quais sejam: a visita monitorada e explicativa do seu funcionamento, os procedimentos para bem estudar e bem pesquisar, além de registrar e lidar com as referências bibliográficas e não bibliográficas de interesse.

 

Deixamos para o final destas observações o que diz respeito à Ação Cultural, propriamente dita. Ela é a antítese do centro de informação e cultura inerte ou mais ou menos inerte, porque cria uma dinâmica interna significativa, quer de energia (e de destaque) profissional para a equipe que ali atua, quer para a comunidade usuária, que tem seus horizontes de conhecimento ampliados de forma atraente.

 

Não vemos necessidade de voltar aos fundamentos da Ação Cultural, expostos anteriormente nesta coluna de Infohome, cuja estrutura permite que todos os textos continuem disponíveis e possam ser acessados a qualquer momento, para consulta. Portanto, vale destacar que fazer uso da Ação cultural, como atuação programada para o ano que se inicia – desde que tenha como meta levar os usuários a um patamar inovador de curiosidade construtiva, com vistas à busca de informação ampla e de novos conhecimentos –, é considerá-la como transformadora e que a nossa atuação é de prestação de serviço de cunho social, socializado e socializante, mesmo aquela inserida em unidades especializadas.

 

É neste ponto que queríamos chegar, para atingir o sentido do título que encabeça este texto. “Multipropósitos”, no caso, pretende que a Ação Cultural contemple públicos diversos, com necessidades informacionais variadas, em graus diferentes de conhecimento. Portanto, os propósitos, em qualquer caso ou característica, desde o planejamento, são prioritariamente de ordem informacional, instigadora, além de pedagógica, esclarecedora, transformadora em alguma medida e, quanto possível, lúdica e prazerosa.

 

A um profissional da informação preparado e atento não deve passar desapercebida a necessidade de informação do usuário ou da comunidade usuária que seja próxima dele. É comum que o público da unidade da informação – entendida como centro de informação e cultura, principalmente de ordem pública – não tenha claro para si qual o teor da informação que necessita em determinado momento, a menos que tenha alguma indicação ou que lhe seja sugerida por alguém em quem acredita e confia, interna ou externamente à unidade em que esteja integrado.

 

Assim, “com um olho no peixe e outro no gato”, o profissional (arquivista, bibliotecário ou museólogo) deve lembrar-se que é ele o mediador entre a informação e o usuário e     vice-versa, mantendo a informação (o acervo informacional) organizada e disponibilizando-a de forma dinâmica, para facilitar o encontro entre ambos (sujeito e objeto da busca), com vistas à fruição e à renovação do conhecimento ali reunido, bem como ao desenvolvimento intelectual desse público, mesmo  que os resultados ocorram em pequena medida.

 

É um trabalho de criatividade, consciência e dedicação profissional,  que justifica todos os procedimentos técnicos que tradicionalmente o antecedem.


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior