AÇÃO CULTURAL


UM MUSEU NO VALE DO PARAÍBA

Sempre escrevo sobre biblioteca; hoje vou escrever sobre um museu.

 

Estive visitando Pindamonhangaba-SP, com o intuito de lá fazer determinadas pesquisas. Antes, resolvi procurar na Internet algumas informações sobre a cidade – já que nunca havia estado lá –, para que não chegasse na ignorância total a respeito do que iria ver e encontrar.

 

Não foi muito fácil; ou melhor, eu é que não me satisfiz com facilidade. Acho que os sites disponíveis podem ser melhorados e atrair ainda mais a atenção dos interessados, aguçando-lhes a vontade de conhecer a cidade pela sua história, pelos seus monumentos e pela lindíssima paisagem que meio que esconde e meio que descortina: os remansos do Paraíba e os contornos da Mantiqueira.

 

Ao buscar informações (“onde fica?”, “como chego?”, “próximo de quê?”), fui conhecendo pessoas generosas e gentis que me contavam fatos e “causos”, tornando-se meus cicerones fortuitos, durante o tempo em que lá fiquei.

 

Uma dessas pessoas insistiu em que eu deveria conhecer sua prima, responsável pela restauração do Museu Histórico e Pedagógico D. Pedro I e Dona Leopoldina, o qual já tinha deixado que eu me deslumbrasse com apenas duas fotos vistas na Internet. Após as apresentações, agendamos o encontro para o dia seguinte, a portas fechadas, pois, ao que consta, o Museu será reaberto no próximo mês.

 

Que museu é esse? Mais um histórico e pedagógico inexpressivo, dentre tantos os que existem esparramados pelo interior paulista?

 

Pindamonhangaba conheceu uma época áurea com o ciclo do café. Lá correu muito dinheiro, no século XIX. O lucro foi grande e provocou a mudança de hábitos e costumes; da cultura, enfim. A gente que vivia e sobrevivia da lavoura, pôde aumentar seu patrimônio em terras e escravos e, aos poucos, mudar seu jeito de ser. A rusticidade rural foi perdendo espaço para desejos de consumo mais urbanos e os senhores da terra passaram a investir também o que possuíam em construções na cidade, onde despendiam o tempo das principais festas religiosas e familiares.

 

Ainda hoje, pelo que restou, percebe-se que entre os amigos e a parentela de então, houve, subliminarmente, uma certa competição: daí os palacetes, solares, casas assobradadas, chalés. Se as construções eram de vulto e de muito conforto para a época, não menos eram a mobília, os adornos e as obras de arte que as completavam. O dinheiro dava para importar tudo o que quisessem: mármores, estatuária, baixelas, prataria, além de artistas que embelezassem suas mansões e os retratassem para a posteridade.  A frugalidade cedeu lugar ao luxo, a festas e a jóias magníficas.

 

Do século XIX ao século XXI, muita coisa ocorreu: o declínio do café na região, a dificuldade para manter as propriedades rurais e urbanas, bem como o tempo que atuou severamente sobre as construções de taipa de pilão.

 

O Museu é um dos poucos edifícios que, a duras penas, sobreviveu ao ciclo do café; pertenceu ao barão e visconde da Palmeira e chegou a hospedar a família imperial brasileira, no 2º. Império, com testemunhos documentados.

 

O solar do barão e visconde da Palmeira merece ser visitado. É lindíssimo! Falo dele aqui pelo potencial que apresenta como centro de ação cultural que será, conforme os planos da historiadora que vem cuidando, ao longo dos anos, de seu criterioso e detalhista processo de restauração.

 

O edifício sofreu muitos danos após a venda pelos herdeiros, até a desapropriação pela Prefeitura. Parte do prédio chegou a desmoronar. O mobiliário original se dispersou e quase nada restou do arranjo antigo. Assim, a perseverança da equipe e a sensibilidade de doadores permitiu que, aos poucos, o imóvel restaurado fosse ganhando vida novamente, pela verossimilhança com a composição dos ambientes, muitos deles montados com móveis e adornos da mesma época que os originais: ora as alcovas, ora a capela, ora a sala de reuniões políticas e de negócios ou o salão de festas.

 

O porão ainda não está pronto. Provisoriamente, está lá um acervo de livros e documentos, “a procura” (diria eu) de um bibliotecário devotado, apaixonado, e com conhecimento especializado.

 

Um museu vive de mostras e exposições. Sua alma depende do exibir(-se) e, intrinsecamente, do informar, até pela leitura que o público possa fazer do que vê, seja  ele o escolar, o turista ou o pesquisador.

 

Por outro lado, o salão de antigas reuniões políticas, no caso, está sendo destinado a preleções, cursos e debates que levantarão tanto questões históricas, quanto sociológicas, econômicas, arquitetônicas, sobre a moda da época, discutindo aquele universo de meados do século XIX.

 

A região do Vale do Paraíba é um celeiro de pesquisas genealógicas e tem vocação para abrigar e desenvolver pesquisa arquivísticas da maior importância. Se já estão configuradas as ações de informar e debater, nos planos dos atuais responsáveis pelo Museu, certamente o projeto completo de ação cultural envolverá muitas vertentes e oportunidades para o criar, após o funcionamento pleno dessa marcante instituição e equipamento cultural de Pindamonhangaba. Será um ganho para a região, para nosso estado e para o País.


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior