MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO


  • Reflexões sobre a Mediação da Informação, englobando aspectos teóricos e práticos.

MEDIAÇÃO DO MUNDO

Nossa relação física, concreta, sensorial com o mundo é muito pequena. É quase inexistente se o parâmetro for a infinita possibilidade de contatos e a enorme gama de espaços a serem conhecidos. Basicamente, nosso contato resume-se aos trajetos e caminhos que usamos para chegar ao local de trabalho e à escola, no caso dos que estão estudando.

 

Nossos gostos nos remetem para a seleção de determinadas formas de lazer e de entretenimento. Há os que preferem o cinema, outros o videogame, outros o teatro, outros ainda a música; também há aqueles que optam pelas exposições de artes plásticas, de passeios pelos parques das cidades (quando não foram destruídos em nome do progresso ou de necessidade de espaços para moradia, etc.), de caminhadas, de viagens. Até mesmo a leitura pode ser incluída no rol dessas escolhas.

 

Conversar com colegas em bares ou restaurantes é uma opção freqüente. Quando da decisão pelo local em que se dará o encontro, é comum que as pessoas se entreolhem buscando no outro a solução para o impasse. A indicação recai, invariavelmente, no local de sempre, o mesmo, aquele ao qual já se está habituado.

 

Assim, retornando, nossa relação física, concreta com o mundo é mínima. Pouco conhecemos dele. Mais um agravante: os caminhos que cotidianamente percorremos, o fazemos em um determinado período, em um horário fixo, quase sempre o mesmo. Desconhecemos como é o local trilhado em outros horários. Não sabemos, também, quem são os moradores, o que fazem, o que pensam da rua, do bairro, por que vivem ali, etc. Nada sabemos deles. Possuem cachorros (além daqueles que vemos ou ouvimos), gatos, tartarugas; são felizes; passam por problemas?

 

Realizamos nosso itinerário até mesmo sem o perceber conscientemente. Sou levado, de maneira automática – pensando no que me espera o dia, ou nos problemas que enfrento no momento, ou sei lá em quê –, pelos caminhos que trilho sem prestar atenção ao entorno, às ruas e aos acontecimentos daquele instante,

 

Os que mais viajam, mesmo assim, acabam por conhecer algumas (poucas) cidades e, nelas, passam poucos dias, reduzindo, quase sempre, suas visitas aos espaços dedicados aos turistas e estes, como é sabido, não representam nem refletem a vida dos que lá habitam.

 

Nas ruas que percorremos usamos a mesma calçada; em casa, sentamos no mesmo lugar nas refeições, na mesma poltrona, dentre as possíveis, na sala; dormimos no mesmo lado da cama – e outras coisas que fazemos sempre de modo idêntico. Olhamos o mundo e nos relacionamos com ele a partir de um mesmo ponto de vista (este, o ponto de vista, será o tema do próximo texto).

 

Se nosso contato físico com o mundo é tão pequeno, como podemos conhecê-lo?

 

Nós o conhecemos pelos olhos dos outros; nós o conhecemos mediado pelos olhos dos outros.

 

Sei de fatos que ocorreram há pouco, do outro lado do mundo, pela televisão, pelo rádio; às vezes, pelo relato de um amigo ou por ter ouvido a conversa entre dois transeuntes, passageiros de ônibus, desconhecidos para mim. Os costumes, alimentos, danças, etc., de povos antigos, eu deles fico sabendo pelos livros, em sala de aula, em filmes históricos...

 

Experiências de vida nos são relatadas por pessoas próximas, por biógrafos, nos depoimentos de pioneiros, de idosos, etc.

 

Somos dependentes dos outros na construção de nosso conhecimento. O mundo nos é dado – sempre parcialmente – a partir dos outros, na relação com os outros. Vale a pena dizer: a partir da compreensão, do entendimento que o outro faz do mundo. Ele determina a forma, os aspectos, os limites de cada fenômeno.

 

O mundo que nos é mostrado, não é um reflexo, mas uma refração (assim como a informação – mas esta é uma outra história que fica para uma outra vez).

 

Isso significa que sempre veremos o mundo de maneira deformada, a partir desses olhares? A chave é essa: são vários olhares e, estes, nos permitem confrontá-los, estabelecer relações, identificar interesses. O “nosso” olhar crítico possibilita uma aproximação com o real (este é um termo complexo, mas, de maneira simplista, pode ser empregado aqui).

 

Em suma: nosso conhecimento se constrói mediado e, da mesma forma, somos mediadores na construção do conhecimento dos outros.


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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.