MENOS SEXO, MENOS CIDADE
Os amantes da série “Sex and the city” provavelmente ficaram perplexos ao assistirem ao filme que leva o nome da série. Esperado ansiosamente por quatro anos, quando apresentado o último episódio, eis que finalmente, depois de contratempos o filme chega à telona. Surpreendentemente em Sex and the City – o Filme (EUA, 2008), embora as personagens principais sejam preservadas, há, na trama, um empobrecimento emocional e psicológico das personagens que buscam relacionamentos fixos. Ou seja, no conjunto, o filme revela o contrário da série.
Na década de 1990, precisamente no ano de 1994, surgiu uma coluna publicada no The New York Observer denominada Sex and the City, cujo objetivo era destacar as aventuras amorosas das mulheres solteiras, na faixa dos 30 anos, liberadas e bem sucedidas. A coluna, que logo se tornou popular pelo tema das crônicas urbanas noturnas, tinha como responsável a jornalista Candance Bushnell, virou livro, e posteriormente série de TV, em canal fechado.
A coluna retratava as experiências amorosas da cronista e de algumas amigas solteiras, que expunham os seus relacionamentos nem sempre “normais”, segundo as próprias, pois elas consideravam-nos “malucos”. A série da TV, com base nas colunas expunha as relações femininas sem o sentimentalismo e emoções rotineiras, mas verdadeiros, universalmente e não apenas Newyorkemente. Os episódios, sempre interessantes, eram a catarse necessária para a contínua liberação daquelas quatro mulheres. Era diversão da melhor qualidade, sem a quimera das reprovações, dos remorsos, e das masturbações reflexivas.
Por que ainda estavam solteiras? Era a pergunta necessária e a busca de respostas, que elas mesmas se faziam. Bonitas, cultas, profissionais realizadas, e bem sucedidas financeiramente, enrolavam-se freqüentemente com homens que as desejavam e as deixavam, ou eram deixados. Algumas buscavam o casamento, mesmo que veladamente, outras buscavam relacionamentos, declaradamente. Mas buscavam acima de tudo a afirmação como mulheres maduras, independentes e ativas sexualmente.
E vem o filme. E o que mostra? Quatro mulheres, das quais três profundamente (e profanamente) arraigadas às emoções rotineiras. Nada ficam a dever às mulheres que conscientemente colocam a relação permanente com o sexo oposto (ou o mesmo, dependo da opção) como o princípio básico da sobrevivência.
Assim, a série que celebrava o relacionamento entre casais de forma menos convencional, que apresentava casais sem as amarras das convenções de todos os dias, transforma-se em um filme que busca e condiciona o relacionamento aos princípios da convenção. A começar pela necessidade de um casamento como mandam os padrões da Santa Madre Igreja. E é justamente ai que reside a trama e a pobreza do filme, o
Na série, as quatro amigas discutiam as suas relações sem a preocupação de que no final das suas vidas estariam sozinhas ou acompanhadas. Cada uma buscava alguém, mas dentro de uma proposta única, apresentavam-se de forma coerente com seus estilos: Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker), o eixo da amizade, na sua busca constante por um grande amor; Charlotte York (Kristin Davis), com seu desejo de apaixonar-se perdidamente, mesmo admitindo que fosse meter-se
Assim, o filme arrasta-se em direção ao nonsense. As mulheres até então soberanas, desafiadoras, impávidas, tornam-se mulheres dependentes, seja do outro (caso de Carrie e Charlotte), ou da intolerância (caso de Miranda), verdadeiras mulheres dominadas pelas convenções. Salva-se a personagem Samanta, que fiel ao seu instinto predador, quer continuar solteira e fazendo dos homens as suas vítimas.
Lamentavelmente o filme fica muito a dever à série, pelo argumento projetado e principalmente por mostrar menos sexo e menos cidade.
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