AÇÃO CULTURAL


ALFABETIZAÇÃO INFORMACIONAL E AÇÃO CULTURAL – II

Retomando matéria anterior desta mesma coluna, pego a idéia de que não se pode informar (parte do tripé da Ação Cultural, como a defendemos aqui) sem que o usuário da informação tenha uma iniciação prévia no processo de buscá-la, acercando-se dela em ambientes formais, sejam bibliotecas, museus, arquivos e seus congêneres.

 

Desde algum tempo atrás, os cursos de Graduação em Biblioteconomia ofereciam e oferecem a disciplina Estudo do Usuário em que, além de os alunos aprenderem a delinear por processos metodológicos próprios o perfil do usuário e/ou da comunidade usuária da informação, questionam e discutem as práticas voltadas ao trabalho direto com a clientela. Considero que essa disciplina foi e continua sendo básica para que conheçamos os usuários a quem servimos, possibilitando-lhes e facilitando o acesso à informação na biblioteca e, por extensão, no arquivo e no museu.

 

Entretanto, nos dias de hoje, apenas conhecer a clientela é insuficiente; daí que o plano de ensino da disciplina citada mostra-se incompleto quanto à aplicação prática. Portanto, conhecer ou montar esse perfil é apenas um ponto de partida quando pensamos que o objetivo maior é a educação do usuário, no sentido de instrumentalizá-lo para usar melhor e tirar o melhor proveito da informação disponível e acessada. Isso envolve também (ou ainda) conhecer melhor o ambiente informacional, as regras locais vigentes, explícitas e implícitas, as diferentes modalidades de uso do local, da instituição e do estoque de informação disponível “in loco” ou virtualmente.

 

Esse processo complexo só se realiza com sucesso diante do acoplamento de conhecimentos buscados em outras disciplinas – complementares, a meu ver – como Disseminação da Informação, Ação Cultural, etc., que tratam de temas muito próximos, mas de acordo com as orientações curriculares de cada curso e, também, com as concepções ideológico-pedagógicas de cada docente.

 

Esse é um dos motivos pelos quais os egressos de cada curso se diferenciam dos demais. O currículo mínimo, isto é, o “núcleo duro” que todos devem seguir, de acordo com o que o MEC define, faz com que todos os egressos do curso conheçam os procedimentos fundamentais do fazer profissional, basicamente de ordem técnica.

 

Mas, as rotinas de qualquer biblioteca envolvem muito mais do que isso; vão além disso. Não se pode esquecer que, “do lado de lá do balcão”, está o cliente usuário, que tem uma expectativa de atendimento e uma demanda informacional mais clara ou menos clara; cujo conhecimento sobre o universo da informação pode envolver vivências, boas ou não, incorporadas ao seu repertório pessoal. Além de que não existem duas bibliotecas (ou arquivos, ou museus) iguais, pois cada uma tem suas características particulares e/ou únicas.

 

Assim, nos cursos, fala-se e discute-se o cenário em geral, bem como as facilidades e dificuldades apresentadas por esses ambientes; quando muito, os estágios levam a uma compreensão um pouco mais apurada do assunto tratado. A abordagem, muitas vezes, limita-se à análise geral dos centros informacionais e das tarefas que tocam ao profissional que lá atua.

 

Os programas disciplinares tratam também de um tópico chamado de Educação do Usuário, com indicações sobre as ocasiões e os procedimentos adequados, mais no sentido de preservar a boa ordem no ambiente, na relação com o espaço físico e as coleções, tanto quanto no convívio com os demais freqüentadores do mesmo ambiente.

 

Estou tentando mostrar que o que se tem é uma “colcha de retalhos”, pelo lado acadêmico, no que tange os cursos da área, mormente no Brasil e, quiçá, na América Latina.

 

Por outro lado, existe um movimento de âmbito amplo e bastante forte na Austrália, no Canadá e em outros países do Ocidente e de parte do Oriente, em que se vem falando de “Information Literacy”, entendida por muitos como alfabetização informacional, como desenvolvimento de habilidades informativas por alguns, e que a Comissão de Educação do Conselho Regional de Biblioteconomia-8ª Região recém denominou de Capacitação Informacional.

 

Com isso, pretende-se agregar os conhecimentos desenvolvidos e disseminados por meio de diversas disciplinas obrigatórias e optativas dos cursos de graduação em Biblioteconomia, cada um à sua própria maneira: Estudo do Usuário (quem é ele, como levantar seu perfil, qual e como é o uso que ele faz da informação e dos seus suportes, ofertas e demandas informacionais, diagnósticos, etc.), Disseminação da Informação (métodos, técnicas e estratégias para estabelecer o vínculo com os mais diversos públicos, no encontro com a informação, seja ela utilitária, científica, cultural ou de lazer, utilizando processos de comunicação), Ação Cultural (prática mais recente, de ordem informacional-pedagógica, em que temas diferenciados podem ser abordados, até para se chegar à educação do usuário relacionada com o uso do recinto, a leitura, o estudo, a pesquisa, a preparação de trabalhos escolares e acadêmicos, bem como a redação mais elaborada e densa envolvendo texto, som e imagem)

 

Pretende-se assim, introduzir uma discussão, nesse sentido, que leve à consolidação de uma idéia recente entre nós, por meio de uma prática pioneira e inovadora, o que se traduz pela consolidação de um campo e de uma prática profissional mais esclarecida, em benefício real do usuário.

 

Congregam-se criticamente saberes concretos mas até certo ponto esparsos, além de elevar o nível das condições do profissional que está em contato mais direto com o indivíduo/a comunidade que busca ou precisa de/da informação, agora sob a égide da Capacitação Informacional, mais ampla e complexa do que a Alfabetização Informacional. Como vemos, vários tijolos anteriores foram necessários para se chegar à construção atual; foram necessários conhecimentos e discussões prévios para que se pudesse falar, hoje, em Capacitação Informacional, uma via de mão dupla, em termos de preparo do profissional da informação,  para que ele esteja apto e consciente de que é o formador do usuário da informação, na outra via.


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior