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BIBLIOTECÁRIO, OPAC AGORA OU QUAL O WEBOPAC PARA SEMPRE?

O catálogo bibliográfico online de acesso público é um importante instrumento de auxílio para os usuários localizarem e acessarem os materiais de uma biblioteca ou de uma rede de bibliotecas. Atualmente, observa-se que as pessoas experimentam, por meio da internet, serviços como o da Amazon, do Google ou do YouTube, entre outros populares recursos que apresentam interessantes sistemas de  catálogos, mais até que os apresentado pela biblioteca. Aliás, o Google Acadêmico (Google Scholar) tornou-se preferência para busca acadêmica, assim como o Google Livros (Google Books) um mecanismo para localizar livros, que permite a leitura de trechos e, às vezes, acesso a obras completas ou quando a visualização do conteúdo não é possível, é apresentado o registro bibliográfico do item.

 

A situação se apresenta como oportunidade para que as bibliotecas tradicionais e outros serviços documentais revisem seus projetos de catálogos eletrônicos, avaliando melhorias que indicam tendências da Internet e colaborem para melhor competitividade na busca de informação, no futuro.

 

As ideias dominantes defendem a geração de OPACs baseados nos conceitos de Web 2.0. É importante avançar na evolução dos catálogos bibliográficos, porém, tais avanços devem estar baseados em pesquisas sobre as necessidades dos usuários e de suas preferências.

 

Pensar a tecnologia pela tecnologia e sob a ótica exclusiva do gestor do serviço de informação é comprometer qualquer projeto evolutivo. Ainda neste aspecto, será que um catálogo repleto de penduricalhos baseados em Web 2.0 é interessante aos usuários da biblioteca?

 

Tais aspectos são abordados por  Tam, Andrew e Bussey no artigo: “Student user preferences for features of next-generation OPACs” (Program, 2009), no qual comentam ideias e propostas para uma próxima geração de catálogo bibliográfico que possibilite: melhor funcionalidade em termos de serviços e de experiência de busca acesso a coleção da biblioteca para os usuários. Uma preocupação que decorre do descontentamento crescente nos últimos anos com os modelos bibliográficos de OPACs. O artigo citado é a base deste texto.

 

Os catálogos bibliográficos atuais são pobremente projetados para as tarefas de buscar, recuperar, selecionar o conjunto de materiais físicos e digitais disponíveis nas bibliotecas. Ademais, o processo de buscas destas informações com as ferramentas tradicionais mostra-se frustrante e demorado para muitos usuários.

 

Fornecedores de sistemas para automação de bibliotecas já atentam para  essa questão e a demanda nascente por uma nova geração de OPACs. Sistemas como:  Aquabrowser da Medialab, Encore da Innovative Interfaces, Primo da Ex Libris, Prism 3 da Talis, WorldCat Local da  OCLC; e softwares de fonte aberta como: Vufind, Library Find e Koha-Zoom, entre outros projetam as novas tendências. O ponto principal não é o de fornecer apenas uma condição melhor de busca, mas o de proporcionar uma experiência social de biblioteca à comunidade usuária, buscando aplicar conceitos de redes sociais.

 

Nesta linha de questionamentos, a comunidade bibliotecária criou a lista NGC4Lib para discutir questões e ideia em torno da próxima geração de catálogos de bibliotecas. Das mensagens até agora postadas na lista emergem características que se agrupam em três categorias:

 

§  Aquelas que melhoram a funcionalidade de busca;

§  As tecnologias Web 2.0 e as características recomendadas; e

§  Conteúdo enriquecido.

 

Em termos de melhora da funcionalidade de busca nos OPACs, as sugestões salientam uso de navegador com interface que agrupe os resultados de pesquisa em categoria do tipo: autor, assunto, conteúdo, formato, idioma e ano. Contendo cada categoria, o número de itens resultados exibido entre parênteses.

 

O catálogo conteria também um ranking de relevância, ou seja, os usuários podem ter seus resultados de pesquisa classificados por ordem de valor. São sugestões baseadas nas experiências que os usuários já possuem ao utilizarem mecanismos de buscas como: Google, Yahoo e Amazon que fazem uso do recurso de ranking nos resultados das pesquisas.

 

As características da Web 2.0 é outro ponto focado no desenvolvimento de uma nova geração de OPACs. Algumas ideias tomam por inspiração os serviços online do eBay e da Amazon, adaptando ao catálogo da biblioteca recursos do tipo: “quem pediu emprestado este item também pediu esses outros” ou “quem consultou o material deste tema também consultou”.

 

Outras ideias enfatizam que a Web 2.0 evidencia que o futuro é a participação da comunidade usuária. Sob o conceito da “Biblioteca 2.0”, “Biblioteca Social” ou “OPAC social” são propostas ferramentas bibliográficas integradas às ferramentas de gestão de redes sociais que permitam autonomia e envolvimento dos usuários na revisão dos itens indexados, inclusão de comentários e avaliações, bem como utilizar recursos de RSS e das “nuvens de etiquetas” (tag cloud) para acelerar a experiência de consulta do catálogo.

 

O conteúdo enriquecido do OPAC é destaque não só com o acréscimo de índice de assuntos e do resumo do material cadastrado, mas da exibição visual, por exemplo, da capa do livro e da já mencionada “nuvens de etiquetas” (etiquetas de termos adotados na indexação). Especialistas dedicados ao estudo da interface humano-computador sugerem que a interface do usuário deve proporcionar uma representação visual estimulante.

 

Experiências de bibliotecas envolvendo tais ideias citadas no artigo consultado são:

 

§  University of Huddersfield Library

 

§  Napier University Library catalogue

 

§  Ann Arbor District Library Catalogue

 

 

Os autores realizaram, em julho de 2008, pesquisa junto a 153 bibliotecas universitárias no Reino Unido, sobre a adoção de características da Web 2.0 nos catálogos bibliográficos. Constataram que o desenvolvimento da próxima geração de OPACs ainda está em uma fase muito inicial.

 

Das instituições consultadas, apenas uma já havia implementado catálogo com tais características, baseado no sistema Encore do Innovative Interface. Mais de 60% dos OPACs não apresentavam nenhuma das novas características. Porém, era intenção futura das bibliotecas fazer uso de recursos como ranking de relevância, imagem da capa de livro e outros materiais, nuvens de etiquetas. Observaram que os bibliotecários têm priorizado características que melhoram a funcionalidade da busca e de conteúdo enriquecido, em relação a outras características propiciadas pelas tecnologias da Web 2.0.

 

A situação reflete uma realidade verificada na preferência dos usuários. Embora a literatura sobre as experiências de usuários ou sobre as preferências de usuários em relação a uma nova geração de OPACs seja escassa, até pela novidade do tema, há alguma movimentação das instituições. Bibliotecas que se encontram na fase de selecionar produtos ou de customizar os sistemas implantados têm buscado nos “estudos de usuário” desenvolver pesquisa sobre as preferências dos usuários.

 

A revisão de alguns destes trabalhos constatam que apesar da pouca maturidade das pesquisas, já se visualiza algumas características populares e outras menos junto ao público. As características mais populares são o ranking de relevância e o pedido de empréstimo (reserva online), recursos que os usuários querem nas próximas gerações de OPACs.

 

Já, nas características menos populares se encontra o RSS, a inclusão de resumos e comentários, e de etiquetagem feitos pelos próprios usuários; além da possibilidade criar perfil de interesse de pesquisa ou de armazenamento das buscas recentes. Parece que os usuários estão menos interessados em recursos de Web 2.0. 

 

O informe indica que eles preferem características que melhorem a experiência de busca em lugar da sua participação em um “catálogo bibliográfico de uso social”. Detecta-se que os catálogos de bibliotecas acadêmicas devem ser diferentes dos catálogos comerciais ou de web sites de entretenimento. Catálogos bibliográficos precisam ser objetivos em lugar de incluir comentários subjetivos e que expressam opiniões pessoais, de dúbia utilidade.

 

Os autores também apresentam o resultado de entrevista realizada com 16 estudantes estrangeiros da universidade de Sheffield, sobre o catálogo da biblioteca e suas preferências com relação às características da Web 2.0. Os entrevistados costumam fazer uso do catálogo para realizar suas tarefas disciplinares ou preparação para os exames. Utilizam para busca de materiais impressos, mas não para recursos eletrônicos.

 

A prática de busca da comunidade discente se encontra condicionada pelo modelo Google, utilizado constantemente para todo tipo de pesquisa. Os resultados da entrevista apontam que recursos do tipo: nuvens de etiquetas, ranking de relevância e solicitação de reserva online são características apreciadas pelos estudantes e indica compatibilidade de resultados com os estudos existentes do tema.

 

Por outro lado, recursos de RSS e de avaliação e resumos elaborados pelos usuários não despertam o mesmo interesse. Porém, esses resultados não podem ser generalizados tendo em vista que diferentes usuários em diferentes contextos têm necessidades distintas. O RSS se apresenta ainda de utilidade incerta para a maioria, e de potencial auxílio na obtenção de literatura recente desde que o recurso esteja relacionado ao fornecimento de assunto pesquisado.

 

Geralmente as expectativas dos estudantes em relação aos OPACs não são altas, independente da sua origem cultural e educacional. Basicamente, eles se manifestam pela rapidez, facilidade de usar e que atendam às suas buscas. Entretanto, as visões dos usuários são aspectos essenciais para considerar ao se desenvolver ou customizar um catálogo bibliográfico online centrado no usuário.

 

As bibliotecas precisam ser proativas no conhecimento e consideração das preferências de seus usuários e na identificação das suas diferentes necessidades ao prover um OPAC. Explorará essas informações para fazer-se mais significativa ao seu público.

 

O artigo indicado é uma contribuição introdutória à temática do desenvolvimento de catálogos bibliográficos baseados em características da Web 2.0. É um alerta aos gestores de bibliotecas, em especial as universitárias, que nem todas as características são pertinentes ou aplicadas em todo contexto do serviço bibliográfico, em especial aquelas que ao invés de levar o individuo para o seu foco principal de informação o possa levar a distração.

 

Fazer uso da tecnologia apenas como chamariz de público pode não ser uma estratégica eficiente a médio ou longo prazo. Nenhum serviço de informação sobreviverá apenas oferecendo acesso à internet ou maquinário computacional de última geração, embelezado por produtos baseado em qualquer dos recursos da web 2.0. Modismos são passageiros. Bibliotecas que seguem um modismo acabam por não consolidar nada para o seu público e nem consolidar o público para os seus serviços. Identificar preferências e avaliar pertinências de recursos é procedimento adequado neste período de plena horizontalidade das mídias sociais.

 

 

Indicação de leitura e acesso:

 

TAM, W; COX, A M; BUSSEY, A. Student user preferences for features of next-generation OPACs: A case study of University of Sheffield international students. Program: electronic library and information systems, vol 43, n.4, pp. 349-374, 2009.

 

NGC4Lib Mailing List Home Page: http://dewey.library.nd.edu/mailing-lists/ngc4lib/

 

University of Huddersfield Library: http://webcat.hud.ac.uk/ipac20/ipac.jsp?profile=cls

 

Napier University Library catalogue http://nuin.napier.ac.uk/F?RN=530950405

 

Ann Arbor District Library Catalogue: http://www.aadl.org/catalog


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.