AÇÃO CULTURAL


O PODER DA IMAGEM

Recentemente, nesta mesma coluna, abordamos a questão da oralidade nos centros de informação e cultura, incluída aí a biblioteca em seus acervos e nas possibilidades proporcionadas pela disseminação da informação oral, mais especificamente pela contação de histórias, naquilo que se insere na prática da programação cultural.

 

Hoje, queremos pôr em destaque a imagem, nesse mesmo contexto, pelas  características de universalidade que ela apresenta, o que a torna importante quanto ao aspecto da disseminação da informação da informação e da ação cultural, nos mesmos centros de informação e cultura, “pari passu” com a oralidade e os registros orais produzidos e/ou lá estocados para serem acessados pelo público.

 

Quando se fala em imagem, fala-se na representação gráfica, plástica ou fotográfica de pessoa, objeto ou paisagem; mas, antes de tudo, da sua representação mental, quase sempre investida de intenções – portanto, com carga ideológica – para produzir uma determinada idéia, fantasia ou devaneio e criar uma situação de metáfora.

 

A imagem pertence à esfera do imaginário e da imaginação, pela abordagem aqui pretendida. Caso contrário, poderíamos apenas ligá-la ao que os olhos vêem e o cérebro assimila, em graus e intensidades diversos, com mais ou menos nitidez, por motivos variados. Entretanto, mesmo essa imagem percebida e recebida pelo aparelho óptico atinge o imaginário pela imaginação, levando o receptor a elaborá-la e reelaborá-la de acordo com seu repertório e sua experiência prévia, seja ela prazerosa ou não.

 

Uma imagem pode ser repassada para portadores de dificuldades de visão, sem que eles percam o impacto que tal imagem possa lhes ocasionar; e, daí à imaginação e à fantasia, há um curto passo que irá oferecer-lhes motivo não só de informação como tal, mas de enriquecimento interior em termos de desenvolvimento intelectual e psicológico.

 

Para uma criança, a idade pode ser um empecilho para a compreensão plena de uma imagem, por faltar-lhe um referencial específico a esse respeito, podendo ela fantasiar à vontade (e/ou não conseguir atribuir-lhe um sentido plausível); mas, a imagem – ilustração, foto, etc. – fica retida em seu aparato imagético, para ser resgatada e ser conectada com sentido, mais adiante; ou ficar no olvido, inerte, até que surja a oportunidade adequada para seu aproveitamento.

 

De qualquer forma, a imagem nos acompanha desde o nascimento e, para analfabetos, portadores de deficiências ou crianças, em geral, ela é importante, podendo ser alterado o foco, o valor, a oportunidade e o significado, ao longo do tempo e do desenvolvimento.

 

Antigamente, os acervos eram antes de tudo bibliográficos e as ilustrações serviam para enfatizar o conteúdo dos textos, fossem eles para adultos ou para crianças, oferecendo uma riqueza artística e gráfica notáveis. Também, devem ser lembradas aqui obras inteiras compostas só com imagens e que dispensam textos escritos; há exemplos muito interessantes disso, sem nos atermos a grandes autores ou grandes títulos, que vão desde “cartas enigmáticas” até obras infantis que se especializam nessa linha, trabalhando com os traços artísticos de ilustradores que “contam”, até mesmo em almanaques, uma história cheia de aventuras divertidas e instigantes.

 

Para trabalhar só com imagens, privilegiando determinados públicos e situações, pensemos nos mapas e croquis arquitetônicos, além de filmes, CDs, DVDs, e outras tecnologias atuais que, numa biblioteca, num arquivo ou num museu, podem levar platéias inteiras a discutir e a criar novos conhecimentos, acrescentando novos aportes informacionais ao seu repertório, independentemente e mais além do acervo unicamente literário, ou mesclado com ele.

 

Estejamos atentos ao que se passa à nossa volta, sem perder de vista as práticas mais atuais, em que arquivos e museus, por exemplo, estão cada vez mais aparelhados para a exibição de imagens, fazendo uso delas de forma criativa, “inventando” mesmo condições cenográficas de vulto e de impacto para o público, em mostras e exposições maiores, embora ainda em pequena escala e quase todas nas capitais do País. E as bibliotecas?

 

Outra abordagem que pretendemos fazer aqui é sobre um recurso muito simples e de baixo custo, que poucas bibliotecas escolares e públicas utilizam: o arquivo de recortes (figuras e textos). Essa não é uma prática recente nem ostentosa; funciona como um banco de imagens (ou de textos), em pastas de arquivo físico ou computacional, as quais se acrescentam aquelas de interesse presente ou futuro, com a possibilidade de descarte, podendo também servir para eventuais permutas e promoções julgadas convenientes. É comum tomarmos conhecimento de queixas de falta de verbas e de recursos em bibliotecas públicas e escolares, do Interior e da Capital. Como a prática aqui exposta é econômica e fácil de ser elaborada, a recomendamos como um ótimo recurso para todos os centros referidos, até para aqueles que dispõem de provisões orçamentárias satisfatórias.

 

Nesta temporada ainda próxima dos jogos da última Copa do Mundo, quando a moda das figurinhas e álbuns foi resgatada depois de anos de desuso, podemos pensar em promoções nelas inspiradas, tendo em vista que estudantes e jovens sempre recebem a tarefa individual ou em grupo de encontrar imagens que possam ilustrar seus trabalhos de pesquisa, de qualquer matéria do currículo, em níveis diversos da escolaridade. Como unidade de apoio ao ensino e incentivadora na busca de (mais) conhecimento, a biblioteca pode e deve criar oportunidades criativas para atingir seus objetivos e cumprir sua missão. Portanto, a pasta de recortes pode estar na sua mira, com grandes benefícios para seu público. Melhor do que tudo, com pouco trabalho e baixo custo.

 

Na oportunidade e na hora julgada propícia para a prática da ação cultural, a imagem adquire uma importância sem par, explicitando-se o seu poder, em qualquer etapa da sua utilização: seja quanto à informação, à discussão ou à criação de conhecimento, não necessariamente nessa ordem. Daí, também, a vantagem de se ter à mão o banco de imagens, que facilita a compreensão de idéias para qualquer público, independentemente da compreensão de idioma ou de vocabulário, por exemplo.

 

Finalizando este texto, lanço o desafio aos profissionais da informação, entre eles os bibliotecários, a fazerem uso mais intenso e divulgação constante da imagem e do som, além de textos escritos. Repito, mais uma vez, que é preciso ter “a casa em ordem” e a informação bem organizada e administrada; porém, isso não basta nos dias de hoje: é preciso usar o conceito e a prática da ação cultural numa investida proativa, promovendo efetivamente o encontro entre o público e a informação, de uma forma crítica, sem esperar sentado e pretender que esse encontro se dê de forma espontânea, tão somente porque a informação está bem organizada e “a casa está em ordem”. Isso não cabe mais!


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior