AÇÃO CULTURAL


DISSEMINAÇÃO DA INFORMAÇÃO E AÇÃO CULTURAL

A disseminação da informação é a idéia básica da biblioteconomia mais moderna.

 

Ter a informação bem organizada já não basta, como antigamente: é preciso levá-la aonde ela não chegou, aonde as pessoas, por algum motivo, não puderam ou não podem acessá-la.

 

Daí a razão de ser de nossa última coluna em Infohome (janeiro de 2011), em que pleiteávamos o voluntariado dos profissionais da área para, usando a fórmula da Ação Cultural (informar-debater-criar conhecimento), movimentassem o espaço de abrigo dos flagelados das chuvas – os “sem teto” – com informações e conhecimento, num flagrante de quebrar o ócio e o tédio visível, mostrado seguidamente pela TV, quer para adultos, quer para crianças e adolescentes.

 

Não podemos nos esquecer que muitas das escolas foram destruídas e as aulas suspensas indefinidamente nas regiões castigadas de vários estados brasileiros, muitos dos empregos ficaram incertos, sem uma perspectiva clara de quando tudo voltará à normalidade para todos.

 

Enquanto isso, a título de prestação de serviço de extensão, a leitura pode ser incentivada, a contação de histórias pode ser oferecida para o público adulto, juvenil e infantil, além da própria ação cultural em si, com os objetivos já abordados nesta coluna, com aspectos sérios ou apenas lúdicos. Tudo isso “in loco”, já que há muita gente ainda abrigada de forma improvisada em escolas, ginásios de esporte, igrejas, etc. Há, também, muita gente que se encontra ilhada, em locais praticamente inacessíveis, seja na região serrana do Rio, em Minas Gerais ou até em Santa Catarina. Por esse motivo, lembrava eu da possibilidade muito falada e pouco praticada das alternativas biblioteconômicas, tais como o bibliobarco, a caixa estante, etc.

 

Volto a lembrar que não é prerrogativa do bibliotecário exercer ele próprio o papel de contador de histórias, nem atuar à frente da ação cultural; mas, ele tem o compromisso social de trabalhar profissionalmente com informação e leitura (em qualquer meio ou suporte) em busca de que seu público, usuário ou não usuário da biblioteca (ou de qualquer instituição que entendamos como sendo um centro de informação e cultura, a exemplo dos arquivos e museus), possa dela usufruir, para saber mais, para passar o tempo ou até para quebrar o marasmo e o tédio. Conhecimento e informação não precisam ser obrigatoriamente graves e sisudos.

 

Li, em algum lugar e há muitos anos atrás, um texto super interessante, talvez de um autor norte-americano, que dizia que, durante as horas em que alguém se encontra acordado, ele lê a bula do remédio que toma em jejum, lê o jornal enquanto toma o café da manhã, lê as placas que sinalizam o roteiro do transporte que usa, lê os manuais, instruções e relatórios referentes ao seu trabalho, lê o cardápio (e eventualmente a tradução do cardápio) de onde almoça, lê os livros e revistas de sua predileção, ao que poderíamos acrescentar legendas de filmes e vídeos, bem como o conteúdo da Internet, dos e-mails e das redes sociais; isso sem falar que todo esse processo é de mão dupla, o que requer o outro lado da comunicação e, obviamente, da disseminação da informação – a escrita, a fala ou a imagem, ou as três articuladamente.

 

Voltando à abordagem inicial, o trabalho muito nobre da extensão em biblioteca de levar a informação para além dos seus limites físicos (e museus e arquivos, igualmente) é uma ação solidária e benéfica para todos aqueles que foram atingidos por uma série de lamentáveis acidentes da natureza, agravados pela imprudência de uns, pelo capricho de outros e pela falta de opção de muitos.

 

Creio que, como profissionais da informação, estamos capacitados a exercer esse tipo de tarefa, para ajudar a minorar as dificuldades por que passam os flagelados das chuvas exageradas ou das secas inclementes. Para quem é bibliotecário, o curso desenvolve a disciplina Disseminação da Informação, que procura abordar suas ramificações, já mencionadas acima. Portanto, nenhum profissional pode alegar desconhecimento de como aplicar a teoria.

 

Solidariedade não significa apenas angariar roupas, material de higiene pessoal ou alimentos não perecíveis. É louvável que o espaço da biblioteca seja utilizado como posto de arrecadação; mais louvável ainda é que, num programa de extensão, a biblioteca use as competências de seus recursos humanos, saia de sua zona de conforto para minorar o sofrimento de um público talvez “não usuário”, com o qual não estamos acostumados habitualmente a nos deparar. É para esse público, principalmente, que precisamos mostrar quem somos, a que viemos, o que sabemos e podemos fazer, de uma forma genuína  e original, diferente de uma multidão de outros profissionais que já lá estão, dedicados tanto quanto gostaríamos de ser e reconhecidos como gostaríamos de ser.

 

Assim, volto à idéia e à proposta: que as bibliotecas mais próximas das regiões afetadas organizem-se para montar projetos de extensão, em prol da disseminação da informação, fazendo a escolha adequada e o uso correto das atividades englobadas por ela, com recursos humanos próprios ou coordenados por eles, com os recursos convenientes à situação configurada em cada local, em cada paragem, em cada estado.

 

Não estávamos acostumados a que as calamidades naturais se abatessem sobre nós com tanta intensidade. Elas chegaram e fizeram muito estrago.

 

Repetindo, saiamos da zona de conforto profissional e cuidemos dos sobreviventes com competência e espírito de cidadania solidária.


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior