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FORMANDOS EM BIBLIOTECONOMIA: O SUCESSO DO BIBLIOTECÁRIO DE SUCESSO

Dedico este texto aos formandos em Biblioteconomia do Brasil, em especial, os formandos da UNIFAI (Centro Universitário Assunção), que gentilmente me convidaram para assistir a formatura, ocorrida no dia 02/02/2011. A turma teve como paraninfa a bibliotecária Regina Celi de Sousa. Não pude estar presente, mas externo aqui meus cumprimentos e votos de sucesso aos novos bibliotecários.

 

Aproveito para parabenizar, também, os professores. É uma sensação gostosa, olhar o capital humano capacitado a trilhar uma vida profissional de desafios e realizações. Aptos a sonharem seus próprios sonhos e a buscarem suas próprias emoções.

 

Toda formatura é cercada de significados afetivos e simbologia profissional. Representa a conclusão de uma fase formal de estudos; a realização de uma conquista pessoal e, até mesmo, da superação de dificuldades pessoais na busca de um objetivo ou esperança.

 

Na simbologia, tão importante quanto os significados pessoais, a formatura de novos bibliotecários é o renascimento, a renovação, a expansão e o fortalecimento da profissão. É, também, a certeza de transformações. Uma profissão só se transforma e se realiza pelo desejo e ação dos seus membros.

 

Minhas palavras são de incentivo aos novos colegas que adentram profissionalmente ao universo bibliotecário. Colegas que acreditam na profissão, e querem por meio dela alcançar realizações pessoais e profissionais.

 

São palavras que podem ser (ou não) acrescentadas às mensagens recebidas dos padrinhos de formatura e, ainda, agregadas aos conselhos que irão receber ao longo da vida profissional, de profissionais mais experientes. Lembrando-se de um clichê básico e verdadeiro: o sucesso só vem antes de trabalho, no dicionário.

 

Em trinta anos de vida profissional (um dia, fui formando na querida PUC Campinas), tenho tido a oportunidade de conhecer muitos bibliotecários e, com alguns, o prazer de conviver.

 

Uma característica visualizada na maioria dos bibliotecários é a alegria com a profissão, o real sucesso com a carreira advém desta empatia com a área.

 

Ao longo da vida de bibliotecário e, mesmo, desde os tempos de estudante de biblioteconomia, procurei observar, tanto nos professores e, posteriormente, nos colegas de profissão, aspectos que pudesse aproveitar na própria formação e comportamento profissional.

 

Anotei que o comportamento, no caso um comportamento assertivo, é algo tão relevante como a própria competência profissional. Entendendo como “comportamento assertivo” uma atitude ativa, objetiva e honesta, transmitindo a impressão de respeito consigo e respeito pelos outros.

 

Bibliotecário assertivo se sobrepõe pela influência, atenção e negociação de argumentos, oferecendo ao outro a opção pela cooperação. Que estimula a comunicação de mão dupla com seus pares e subordinados. O bibliotecário assertivo sabe dizer "Sim" e "Não" quando for preciso. Destas observações e entendimentos é que teço minhas palavras aos novos colegas:

 

Bibliotecários, que mesmo na função de chefia, têm o comportamento de elogiar e agradecer as pessoas. Valorizar o trabalho bem realizado. Estimular o potencial dos membros de sua equipe ou os funcionários da organização na qual trabalham. Tais bibliotecários não passam um dia sem cumprimentar ao menos uma pessoa. E o elogio também está em dizer: bom dia, boa tarde, boa noite. E, principalmente, dizer: por favor e muito obrigado.

 

A palavra de elogio e de agradecimento é um incentivo dedicado ao outro. Um comportamento natural no bibliotecário de sucesso. É, também, uma maneira de valorizar e, essencialmente, de não privar ninguém de esperança. Pois pode ser que a pessoa só tenha isso, esperança.

 

Há bibliotecários que na recepção ou cumprimento a alguém, têm no aperto de mão a transmissão da sensação de firmeza. Demonstram confiança e segurança ao seu interlocutor. Na atividade, não basta simplesmente dar uma informação ou facilitar o acesso; é preciso agregar a sensação de segurança e confiabilidade, ao que está sendo transmitido.

 

Profissionais que no trato com pessoas, durante uma conversação, olham o interlocutor nos olhos. Demostram que o seu interlocutor é alguém mais importante, naquele momento. É uma atitude de respeito e consideração.

 

Um profissional de sucesso não reclama do salário. Não que esteja satisfeito com a remuneração, ou acomodado com o mesmo. O sucesso não se mede pelo aspecto financeiro (ou não deveria). Ocorre que é preciso saber administrar os proventos, gastar menos do que se ganha. Planejar bem a vida profissional e pessoal de maneira harmoniosa. Ter a preocupação de pagar as contas em dia, para evitar contratempos. Quando buscar novas oportunidades, o profissional deve querer é desafios compatíveis com um bom salário, que sabe ser merecedor, e não para sanar os rombos do orçamento mal administrado. Evite usar, como muletas de sustentação financeira, cheque especial ou cartão de crédito. Gerenciar os próprios ganhos com atenção e zelo é demonstração de competência. Separar um pouco do que se ganha para aplicar no próprio desenvolvimento pessoal, essencial.

 

Adote por comportamento, o equilíbrio espiritual. Exercite a harmonização dos sentimentos. Evite cultivar gastrites e ódios perenes. Enquanto bibliotecário amenize os sentimentos de revolta ou raiva contra alguém, no desempenho da vida profissional. Complexamente simples, os bibliotecários de sucesso aprenderam a perdoar a si e aos outros. Da mesma forma, dedicam consideração na interação com as pessoas, ou seja, tratam as pessoas como gostariam de ser tratados. Há um mantra que diz: “comportamento gera comportamento”.

 

Aspecto que enriquece a vida profissional, não é a remuneração ou títulos honoríficos, nem mesmos os títulos acadêmicos. O que enriquece é saber desenvolver a capacidade de fazer amigos. Afinal, o bom desempenho profissional é fruto da colaboração entre profissionais. Na Biblioteconomia, rede de contatos é a mais eficiente fonte de informação. Assim, é importante construir uma rede solidária de amigos.

 

O bibliotecário, no ambiente de trabalho, deve conhecer seu público, ouvir as suas necessidades, oferecer opções de escolha às pessoas. Um comportamento, portanto, fundamental é o de saber guardar segredos ou ser discreto. Isto é uma arte, em tempos de redes eletrônicas, em tempo de paredes com ouvidos. A atividade bibliotecária permite saber muito das pessoas e das instituições, das suas necessidades e interesses. Esta capacidade deve ser sempre usada para unir as pessoas e não para criar cizânias.

 

Essencial no comportamento de bibliotecários é o bom-humor. Há colegas que não adiam uma alegria. Tornam a alegria em algo contagiante. Transformam tudo ao seu redor em energia positiva.

 

Bibliotecários (chefes) que surpreendem a equipe com gestos de integração. O aniversário de cada membro é lembrado e comemorado. A data é compartilhada por todos. Datas pessoais devem ser comemoradas da mesma forma como saudamos as datas históricas. Afinal, também somos importantes no nosso contexto profissional.

 

Ainda, relacionado com o bom-humor, deve-se aprender a sorrir. Deveria constar do regulamento da biblioteca, que todo usuário será recepcionado com um sorriso. O sorriso está na face de todo bibliotecário de sucesso, mesmo que o coração passe por alguma amargura.

 

Outro aspecto, relevante, é a humildade, mas não no sentido da subserviência, da bajulação. Afinal, ninguém é mais do que ninguém, todos temos valor e capacidade. Profissional arrogante ninguém suporta. Não desperta a oferta de ajuda, de uma mão estendida. Ademais, só recebe ajuda quem tem o costume de ajudar, de colaborar, de contribuir com todos e não apenas usar das pessoas para beneficio próprio. Em outro sentido, a humildade descrita insere o comportamento assertivo, principalmente nas vitórias e conquistas.

 

Algo que aprendi na infância, mas na vida profissional encontrei vários praticantes foi o de não rezar para pedir coisas. Rezar para agradecer.

 

O exercício da chefia é uma arte. Trabalhei sob a supervisão de bibliotecários que tinham um senso de justiça em suas ações. Confesso, no começo de carreira cometi erros, recebi reprimendas que serviram de orientação, e aproveitei para aprimorar-me como profissional. Estes bibliotecários tinham o bom senso de dar às pessoas uma segunda chance. Entretanto, não vacile, não demonstre descaso com a oportunidade ou nova chance dada.

 

É recomendável ao profissional, não tomar nenhuma decisão quando cansados ou nervosos. Aliás, é comportamento importante para o bom desenvolvimento da atividade bibliotecária. Cansados ou nervosos podemos comprometer seriamente o serviço prestado, e o usuário será o maior prejudicado. Eis o motivo de desenvolver sempre o bom humor e o equilíbrio emocional. Mesmo internamente, ao tratar de algum assunto com um colega ou com a chefia, observe o melhor momento e o estado de espírito com quem irá tratar.

 

O maior segredo do bibliotecário de sucesso está em dar o melhor de si no seu trabalho. Desempenhando sua atividade com o prazer em fazer bem feito.

 

Neste sentido, o comportamento só é possível se você REALMENTE amar o que faz. Bibliotecário sem paixão de ser bibliotecário é apenas uma frustração.

 

Encontrei profissionais com este sentimento. E nada do que você diga irá mudá-los de acusar a profissão pelos seus infortúnios.

 

Ninguém pode viver com quem não ama. Assim, prezado formando, tenha a certeza de que é a Biblioteconomia o que você quer para viver profissionalmente. Se dentro de você não pulsar o desejo de viver uma relação profícua, na qual a crítica seja construtiva, siga outro caminho que não frustre os seus sonhos e emoções.

 

Com o sentimento de paixão, planeje a carreira com afeto, como seu doce predileto. Avalie as oportunidades no ambiente de trabalho em que atuar, considerando que o futuro pertence às pessoas atualizadas com a área, e sintonizadas com as necessidades da sociedade.

 

Novas competências e habilidades são sempre necessárias para o bom desempenho de qualquer profissão, em especial a de bibliotecário. Não podemos nos negar a aprender. Negar o aprendizado é comportamento errático. O bibliotecário não se forma com a conclusão do curso, ele apenas muda de nível.

 

Lembrar, também, que o bibliotecário tem a responsabilidade de colaborar e participar nas transformações sociais, culturais, políticas e econômicas da sociedade. Não se omitir de atuar em prol do desenvolvimento humano.

 

O trabalho bibliotecário, para o bem estar social, tem este aspecto de cultivar, transformar, melhorar as pessoas. Ingredientes necessários na fermentação de uma sociedade mais justa. De dar às pessoas a possibilidade de sonhar sonhos mais coloridos e substanciosos.

 

O prazer de ser bibliotecário. O grande “barato” de ser bibliotecário, talvez seja isto mesmo. Possibilitar as pessoas sonharem, de enriquecerem seus sonhos e com isto projetarem e materializarem seus objetivos de vida. Afinal, a vida é a realização de sonhos. Sonhar e realizar. Fazer e acontecer.

 

Segundo o poeta Mário Quintana: “Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”.

 

Acrescento às palavras do poeta: “Os bibliotecários facilitam às pessoas, o acesso ao instrumento de mudança”.

 

Enfim, prezado formando que sua jornada seja de realizações e de conquistas. Que seja muito longa para que possa usufruir mais do prazer de ser um eterno bibliotecário jovial e poder vivenciar todas as mudanças e inovações que uma vida profissional deve ter, prover, e permitir desenvolver.

 

Não esqueça, seja ativo. Da mesma maneira que o corpo precisa de um coração que pulsa para viver, a profissão bibliotecária necessita do profissional ativo para sobreviver.


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.