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FERRAMENTAS PARA OBTER REGISTROS BIBLIOGRÁFICOS MASTIGADOS

Como canta Jair Rodrigues, “Deixa que digam / Que pensem / Que falem / Deixa isso pra lá / Vem pra cá / O que que tem ? / Eu não estou fazendo nada / Você também / Faz mal bater um papo / Assim gostoso com alguém ?” (Composição: Edson Menezes / Alberto Paz).

 

Deixa que digam, mas o catálogo bibliográfico é ainda a principal representação dos recursos da biblioteca. Recursos impressos e eletrônicos. É ajuda essencial para encontrar material relevante sobre um determinado assunto. A eficiência do catálogo representa melhoria tanto no acesso às coleções da biblioteca, quanto no oferecimento de serviços aos usuários.

 

Catálogos bem estruturados e qualificados são ferramentas úteis de gestão para os bibliotecários. Apoiam o pessoal envolvido nos processos de seleção e aquisição de materiais. Permite rapidamente determinar se um item já existe no acervo, além de  evitar a duplicação de pedidos e, principalmente, o desperdício de tempo e dinheiro. Para as Bibliotecas que sobrevivem com orçamentos irrisórios, essa capacidade de resposta na política de aquisição é essencial.

 

Outro aspecto, que se torna comum às bibliotecas brasileiras é a aquisição de livros eletrônicos. Apesar do apelo tecnológico envolvido na comercialização deste tipo de publicação, nem todos os fornecedores e/ou editores disponibilizam junto ao produto eletrônico, os registros bibliográficos.

 

No caso do livro impresso, em sua maioria, há a chamada catalogação na fonte no verso da página de rosto, acompanhando o material. O livro eletrônico deveria estar acompanhado do registro bibliográfico legível por computador, ou seja, registro em MARC – metadados especializado.

 

Talvez essa sensibilização ou pressão pela inclusão do registro na publicação eletrônica, deva ser feita pela comunidade bibliotecária brasileira junto ao mercado editorial. Porém, é mais uma discussão entre outras, dentro do vasto universo informacional.

 

Vale salientar é que mesmo não tendo disponíveis os registros MARC, os catalogadores dificilmente se apertam. Afinal, eles mesmos podem elaborar o registro (apesar do custo de tempo e de recursos humanos), ou obter o registro de alguma outra fonte bibliográfica (custo de tempo e financeiro).  Se a biblioteca participa de alguma rede de catalogação cooperativa, a obtenção de registro MARC torna-se mais rápida e vantajosa.

 

Vários programas de computador têm sido utilizados para facilitar a edição de registros bibliográficos existentes no catálogo ou para importar registros de outras bases bibliográficas. Em texto anterior, foi comentado o caso do MarcEdit, um programa freeware utilizado por muitos catalogares como apoio ao serviço técnico.

 

Há outras ferramentas interessantes para aprimorar a atividade catalográfica. Neste sentido, apresentamos algumas que, provavelmente, muitos leitores podem já conhecer. Ferramentas que permitem gerenciar o conteúdo das bases bibliográficas em padrão MARC, realizando uma consistência de dados mais eficaz.

 

MARC Wizard é um programa desenvolvido pela Mitinet Labrary Solution. É composto de um conjunto de recursos para suporte ao trabalho catalográfico. Oferece opções de importação, exportação, criação e edição de registros bibliográficos. Entre os recursos do pacote, há o MARC Magician que permite realizar alterações globais em uma base de dados, além de outras explorações para consistência dos registros. Possibilita ainda programar mudanças dentro de condições específicas. Apesar de ser um produto comercial, no site do fabricante é possível obter um Demo (demonstração) do produto para avaliação por tempo determinado. No site há vídeos tutoriais de apresentação dos recursos. É uma oportunidade de visualizar ferramentas que podem ser úteis a atividade de catalogação, e mesmo servir de ideia na solicitação de recursos similares junto aos fornecedores brasileiros de software bibliográfico.

 

MARC Report e MARC Global são dois programas desenvolvidos pelo The MARC of Quality – TQM, fundada por dois bibliotecários, em 1992. A empresa, além de softwares, fornece treinamento em catalogação, prestação de serviços no desenvolvimento de bases de dados bibliográficas, e consultoria para apoiar bibliotecas que desejam se adequar às normas e padrões bibliográficos, como: AACR2, MARC 21. O MARC Report é um sistema para validar registro de acordo com o Formato MARC 21. Ele também analisa o banco de dados bibliográfico em MARC para identificar erros de codificação. Inclui um editor MARC e algumas utilidades integradas. Segundo os desenvolvedores, é uma ferramenta para aplicar qualidade na catalogação. Além das validações de registros ou CatChecks (espécie de controle cruzado dos registros), o sistema verifica a lógica interna de catalogação de cada registro. O MARC Global é uma ferramenta para localizar e substituir em um arquivo MARC, dados do registro. Diferentemente das ferramentas de correção global em uma base de dados MARC, o software permite o acesso ao registro completo. Pode-se fazer referência a qualquer etiqueta ou a qualquer ocorrência da etiqueta. Da mesma forma, a qualquer subcampo e a qualquer ocorrência do subcampo. Idem para qualquer indicador, qualquer ocorrência de padrão de dados, e assim por diante. O catalogador tem a possibilidade de baixar os softwares para um teste de avaliação por 30 dias.

 

Um aspecto a comentar sobre a empresa TQM é o caráter de empreendedorismo existente: criada e gerenciada por bibliotecários. No Brasil, ainda é pouco comum iniciativas empreendedoras na área de sistemas automatizados para biblioteca. Apesar da existência de casos de sucesso na área da automação bibliográfica. A maioria das iniciativas dominante é do pessoal da computação. Nada contra, ao contrário, é um mercado que cresce no país e que oferece oportunidade para muita gente. Por oferecer oportunidades aos bibliotecários, se não como desenvolvedores, então como fornecedores de produtos e de suporte – software livre está ai disponível.

 

Retornando ao objeto do texto. Outro produto é o Mercury Z39.50 Client, e como o próprio nome informa é baseado no protocolo Z39.50. Permite realizar pesquisa simultânea em vários catálogos bibliográficos, exportar registros em Formato MARC, estrutura XML e TXT (texto puro). A distribuição do programa é gratuita, porém a última versão disponibilizada é a 1.3 de fevereiro de 2008. Opera em plataforma operacional MS/Windows (2000/XP/Vista).

 

Softwares para o catalogador tratar sua base bibliográfica não se restringem aos produtos citados acima. Na página eletrônica sobre MARC, localizada no site da Library of Congress, há uma lista de ferramentas especializadas em Formato MARC. Produtos comerciais e de distribuição gratuita ou livre. Alguns links estão quebrados, mas a maioria permite ao catalogador acesso a recursos que podem ser úteis ao seu trabalho na edição de registro ou aplicando protocolo Z39.50.

 

Da lista citada, destaque para a ferramenta  FRBR Display Tool, que analisa e transforma os dados bibliográficos encontrados em arquivos MARC, agrupando os dados segundo o modelo FRBR de relação de entidades: "Obra", "Expressão" e "Manifestação" FRBR. No site do produto há todo um detalhamento de aplicação do mesmo.

 

Enfim, o trabalho do bibliotecário de catalogação no atual cenário de influência das tecnologias da comunicação e informação, torna-se mais complexo. É impossível pensar que solitário irá organizar uma coleção impressa ou digital, ainda que local. Potencializar o processo de tratamento e gestão dos documentos bibliográficos é essencial. Os recursos tecnológicos são ferramentas importantes nas atividades catalográficas.

 

Tanto no mundo analógico e, principalmente, no ambiente digital, não catalogar novamente um material que alguém em algum lugar já catalogou. Poupe o tempo do usuário, e disponibilize o registro bibliográfico o mais rápido possível.

 

Em suma, evite agir como catalogador “pai de santo”. Faz todo um ritual demorado para incorporar a obra, antes de colocá-la em contato com o público.


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.