AÇÃO CULTURAL


PONTO DE PARTIDA: O BOM E VELHO ESTUDO DO USUÁRIO

Pelos e-mails que recebo, posso imaginar que tenho leitores desde o início da coluna, mas que também tenho outros que se tornaram assíduos a partir de uma determinada etapa dos textos, e até aqueles que o sejam apenas desde o último artigo que escrevi.

 

Dentre outras vantagens, o formato de Infohome permite aos interessados resgatar cada matéria publicada em qualquer coluna, para que o leitor possa inteirar-se de como o tema foi se desenvolvendo e de como o autor o desenvolveu ao longo do tempo.

 

Como se pode ver, é uma via de mão dupla, que estabelece um diálogo interessante entre autor e leitor. No momento em que me preparo para escrever cada matéria mensal, sinto-me como se estivesse me dirigindo a cada um em particular e com a experiência adquirida em sala de aula, procuro sintetizar o pensamento que me chega do leitor, seja em termos de necessidade de melhor compreensão, de maior curiosidade, ou de complementação de conhecimento. E, aí, decido o que e como escrever.

 

Como sei que sou lida por profissionais e por alunos da área da informação, principalmente dos cursos de Biblioteconomia, consigo inferir que os currículos desses cursos, em todas as regiões do Brasil, têm diferenças que ultrapassam os conteúdos obrigatórios e comuns a todos. Além disso, cada professor tem suas preferências temáticas, suas ênfases e seus estilos, donde cada aula é uma aula,  bem como cada classe é uma classe.

 

Portanto, o título deste artigo nos remete a uma das matérias iniciais que publiquei anteriormente em Infohome.

 

Para elaborar um projeto de Ação Cultural, é necessário conhecer o usuário do centro de informação e cultura (biblioteca, arquivo ou museu). Porém, não é conhecer empiricamente, sem profundidade. É preciso conhecê-lo cientificamente, isto é, fazendo uso de metodologias científicas disponíveis. Elias Sanz Casado, em 1994, publicou uma obra fundamental sobre o assunto – Manual de estúdios de usuários – que,  por ser um manual, ensina, a partir de uma conceituação, os procedimentos para a coleta e a análise de dados, os recursos disponíveis, com exemplos de questionários e de tabelas, além de apresentar uma excelente bibliografia referenciada (da qual não consta nenhum título ou autor aparentemente português ou brasileiro!).

 

Recomendo autor e obra pela sua qualidade e pelo fato de que o espanhol é uma língua próxima do nosso idioma e, portanto, de uma compreensão relativamente fácil.

 

Além disso, o estudo do usuário, por extensão, permite e pode levar ao estudo da comunidade, suplementado com a leitura de textos de ciências sociais, de psicologia social e outros. Essa fundamentação teórica certamente dará mais consistência e maior segurança operacional à equipe encarregada dos projetos de Ação Cultural e da sua realização. Alguns cursos são mais atentos a isso do que outros, mas é sempre bom que ofereçamos aqui um lembrete, nesse sentido.

 

Embora cada usuário tenha características próprias, até por sua história de vida ser singular e diferente de cada colega, cada comunidade também será única, embora seus membros possam ter traços semelhantes. Por exemplo, uma comunidade de uma determinada periferia de Porto Alegre terá características diferentes da comunidade de uma periferia de Aracaju, bem como a periferia de Capão Redondo, em São Paulo-SP, apresentará outras características em relação às do Jardim Ângela, também em São Paulo-SP, embora possam ser levantados alguns traços comuns a ambas. Note-se, ainda, que o tempo real de ação pode se deparar com  novos dados sobre essa comunidade, que não será mais a mesma, embora continue no mesmo lugar geográfico. As décadas são diferentes e mostram essas diferenças, bem como os dias, as semanas, os meses e os anos. Com isso, quero dizer que o estudo de usuário não pode se resumir a um só; ele precisa ser rotineiro e periódico para se poder afirmar que o centro de informação e cultura sabe quem é o seu público.

 

Tudo isso significa, também, que não é produtivo aplicar um mesmo projeto de Ação Cultural em toda e qualquer comunidade usuária de informação, embora bons projetos possam passar por adaptações, de acordo com o perfil levantado do usuário ou da comunidade, evitando-se os meros transplantes.

 

Sanz Casado levanta alguns pontos que levam a reflexões importantes:

1-           a tipologia dos usuários de informação;

2-           variáveis dos dados: quantitativos e qualitativos;

3-           representação dos dados (numéricas e gráficas);

4-           uso dos documentos e outros recursos informacionais;

5-           indicadores bibliométricos;

6-           eficácia do centro de informação e cultura.

 

Neste mundo produtor de um manancial de informações, é preciso que o progresso esteja calcado em conhecimento e, certamente, em sabedoria, ambos intrinsecamente ligados por sua vez à informação.

 

Se estamos preocupados com o avanço e a qualidade que os centros de informação e cultura possam atingir, voltamos à antiga tecla: os recintos vetustos e sombrios cederam espaço a outros mais acolhedores, alegres e confortáveis, sem perder de vista a organização e o tratamento técnico de seus conteúdos – bibliográficos ou não – entendidos sob o enfoque das midiatecas, inclusive. Entretanto, há um outro “espaço” que esses centros têm para preencher, diante do apelo pedagógico e concomitantemente lúdico oferecido pelas possibilidades trazidas pela diversidade eletrônica para crianças, jovens e adultos, por exemplo. Fazendo uso da informação divulgada por qualquer meio, a Ação Cultural promove e consolida o conhecimento, tornando os referidos centros dotados de uma dinâmica que imprime vida e movimento a eles e, conseqüentemente os torna mais chamativos e atraentes, como opção alternativa aos descaminhos enfáticos atuais da vida moderna para os indivíduos, entre jovens e não tão jovens. Voltamos, com isso, ao chavão de tempos antigos: a biblioteca (e os centros afins) como um lugar de salvação da alma!

 

Referência:

 

Sanz Casado, Elias. Manual de estúdios de usuários.Madrid: Fundación Germán Sánchez Ruipérez: Pirâmide. 1994. (Biblioteca Del Libro, 62).


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior