AO PÉ DA ESTANTE… NA CHINA
Biografias costumam ser tão interessantes quanto livros policiais ou romances. Em geral, trata-se de novelas da vida real, porque ninguém se daria ao trabalho de escrever sobre uma pessoa insignificante ou sem marcante personalidade; a menos que seja o próprio, em autobiografia (geralmente tendendo à ficção – quem quer contar o seu pior lado?).
Para esta coluna escolhi Cixi (1835-1908), a última imperatriz da China, retratada por Jung Chang, escritora chinesa nossa contemporânea. Jung Chang recebeu em 1992 o NCR Book Award, maior prêmio de não-ficção do Reino Unido, por sua obra Cisnes Selvagens. Foi coautora de uma biografia sobre Mao Tsé-Tung (ou Mao Zedong, entre outras transliterações) - Mao: a história desconhecida.
Quanto à biografia de Cixi, intitulada A imperatriz de ferro: a concubina que criou a China moderna, apesar de alentada, em virtude dos inúmeros acontecimentos históricos e mudanças sofridos pela China no século XIX até a queda do Império, possui uma leitura de fácil compreensão, fluida, e que desperta interesse imediato, além de ser fruto de pesquisa séria e confiável. A personalidade da imperatriz é a de uma grande estadista, mulher forte, idealista, devotada aos interesses nacionais, que buscava o melhor para a China e conseguiu conservar o Império até sua morte.
E, uma vez que estamos falando de China, aos que desejarem conhecer um pouco mais de sua longa e complexa história recomendo também as obras do sinólogo Jonathan Spence. O autor, nascido em 1936, estudou em Cambridge (Inglaterra) e Yale (Estados Unidos), onde obteve seu doutorado e lecionou por vários anos, além de receber inúmeros prêmios e honrarias. Há dois fatos muito interessantes sobre o mesmo: escolheu como nome chinês 史景遷/Shǐ Jǐngqiān, em homenagem a um autor por ele admirado; e foi indicado em 2010 para ministrar a conferência anual Jefferson Lecture, da americana Library of Congress, a maior honraria do governo federal dos Estados Unidos na área de Humanidades, além de ter sido indicado membro do Conselho desta Biblioteca. Tornou-se cidadão americano em 2000.
Este inglês de formação ocidental especializou-se nessa temática, e aqui destaco dois de seus livros. Cabe salientar que, tal como a biografia de Cixi, a leitura não se torna pesada, ao contrário.
O primeiro, O palácio da memória de Matteo Ricci, conta a trajetória deste jesuíta que conseguiu chegar a Pequim no Império da Dinastia Ming, de certo modo abrindo o caminho a outros europeus, especialmente jesuítas. Pode-se afirmar que seu método de ensino pela memorização - o Palácio da Memória - ainda é válido na atualidade.
A segunda recomendação, Em busca da China moderna, alentada e fidedigna, tanto quanto instigante, retrata a história chinesa a partir do século XVI até o século XX.
Assim, caro leitor, espero que a indicação de qualquer uma dessas belas leituras (ou todas elas, por que não?) tenha estimulado a sua curiosidade sobre este país tão significativo no mundo de hoje e que nos deu tantos avanços tecnológicos no passado.