PROCURA
Às vezes quero ser um pouco do que não sou,
às vezes quero ver além do que lonjou.
Às vezes quero a clarividência do escondido,
às vezes quero o sabor do que sobrou.
Sou um pouco a busca do perdido,
a negociação do que não pode ser vendido.
Sou um pouco da febre do frio, do gelo,
estou à cata do que está abaixo da ínfima poeira.
Sou um livro inacabado, sem o início e o final.
sou o leitor, antes ávido, que perde o sabor do texto.
Cada letra, palavra, sentença, perdidas na narrativa,
escondem um pouco da vida, do mundo, do eu.
Machucado, ainda procuro um pouco do que não foi.
Trágico tráfego de acontecimentos e situações.
Do eu ficou a dor, mas dela a procura da cura.
Vale almejar momentos de paz, de felicidade.
Ainda quero ser um pouco do que não sei.
Ver além de horizontes móveis, inquietos.
Ainda quero saborear o tangível, o sensorial.
Do eu, a pro cura; da vida, ainda a procura.