A NEBLINA DO TEMPO
O tempo demora pra chegar.
O tempo demora pra passar.
Chegando, chegando, chegando.
Chega e passa. Rápido, voando.
Onde está o tempo?
Deixa marcas no espírito,
no corpo. Sulcos, rugas,
rusgas, impropérios na alma,
calçadas calcadas nos pés,
corrimãos nas mãos,
nuvens dispersas no cérebro.
O fog do tempo. A neblina do tempo.
Aterro de experiências,
enterro de vivências.
Encontro-me inteiro?
Entrevero intento,
entre verdades, perdido.
Tenho um arquivo na memória,
uma história nas costas.
Tenho saudades nos olhos,
sons perdidos nos ouvidos,
areias entre os dedos.
Tenho palavras rangendo nos dentes,
gritos esquecidos na garganta, no peito,
no estômago. Tenho dores do passado
no rosto. Ventos relegados nos cabelos.
Sou renegado pelos que não me conhecem.
Sou vítima do futuro, sou dicotômico.
Sou sins e nãos, risos e choros, vidas e
mortes.
Sortes em cada momento, acasos
que me mantêm vivo. Ou quase morto.
Uma morte inatingível. Que se aproxima.
A morte principal, irreversível, já está
Moribunda. Está aí.
Amor. A morte. Amorte.