GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM MEDIAÇÃO E COMUNICAÇÃO DA INFORMAÇÃO (GEPEMCI)


  • O Grupo de Estudos e Pesquisa em Mediação e Comunicação da Informação (GEPEMCI), vinculado à Universidade Federal da Bahia (UFBA) e ao seu Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), foi criado e certificado pelo CNPq no ano de 2006, sob a liderança das Profas. Henriette Ferreira Gomes e Raquel do Rosário Santos.

    Suas pesquisas focalizam a mediação e comunicação da informação; a mediação implícita e explícita; a mediação consciente; os dispositivos de mediação da informação; as ambiências informacionais; a mediação da leitura e da escrita; mediação e memória social; o papel, a atuação e a formação do mediador da informação; as mediações para o desenvolvimento de competência crítica em informação; mediação e cultura informacional; as novas relações entre sujeito e informação para o acesso, uso e apropriação da informação.

ATIVIDADES DE MEDIAÇÃO PARA O FORTALECIMENTO DE MEMÓRIAS E IDENTIDADES: EXPERIÊNCIA DE VIDA DE MEDIADORAS

Raquel do Rosário Santos
Ana Claudia Medeiros de Sousa

Nossa primeira experiência ocorreu em uma disciplina do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba; que mesmo tendo sido um contato breve, uma semente foi plantada no trajeto de nossas vidas. Quando nos (re)encontramos, Raquel e Ana, duas professoras do Instituto de Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia, tivemos a oportunidade de interação, de compartilharmos ideias e expectativas pessoais e profissionais. Essas partilhas genuínas nos indicaram oportunidades de entrelaçamentos de estudos e práticas que estariam pautados nos nossos repertórios culturais e experiência de vida - uma proveniente do subúrbio de Salvador e outra do sertão da Paraíba.

Perceber os entrelaces da vida nos possibilitou ser apresentadas às leituras; memórias; informações; culturas etc. que nos levaram a experienciar a alteridade. A partir de nossas trocas conseguimos perceber como as atividades mediadoras poderiam contribuir para o fortalecimento de memórias e, desde então, estamos buscando descortinar espaços e tornar visíveis ações de pessoas que agem a favor do coletivo.

De nossas trocas identificamos a necessidade de ações voltadas ao incentivo e ao gosto pela leitura de estudantes e profissionais do curso de Biblioteconomia e Documentação e de Arquivologia, que resultou na proposta do Projeto de Extensão Lapidar. E já tinha uma experiência sendo desenvolvida a 930 km de Salvador, no Projeto Acelerá Celé, realizado na Paraíba. Enquanto Ana relatava sobre as experiências desse lugar, da força do povo sertanejo, de suas memórias e experiências afetivas que se envolviam com as profissionais, apoiando a formação de leitores, também tinha sempre uma apresentação de uma referência da memória e da identidade embasando nossa discussão. Pautadas também sobre as ações diretas e indiretas da mediação da informação, discutíamos sobre a necessidade de atuar conscientemente e descortinar atos que estavam despercebidos em nosso fazer, conforme o Prof. Oswaldo Francisco de Almeida Júnior (2015) defende no conceito de mediação da informação.

O Projeto Lapidar passa a contribuir com leituras, discussões entre os estudantes, profissionais e pesquisadores que se dedicam a leitura e a mediação dessa ação, como também as vivências que Ana tem nesse espaço, o que fomenta uma ressignificação de suas práticas no Acelerá Celé. Em 2021, alguns integrantes desses dois projetos se encontraram no âmbito do Lapidar, percebemos que as discussões sobre as atividades mediadoras de leitura e cultura estavam fundamentando nossos encontros, em que sujeitos que mesmo estando em lugares geográficos distintos tinham relação em comum, o ser leitor consciente de si, do outro e do seu lugar de pertencimento.

Entre atos e discursos, memórias e desejos de novas ações, fomos descobrindo que a mediação da informação fundamenta atividades de mediação cultural e mediação da leitura, como a Profa. Henriette Ferreira Gomes nos apresenta no Grupo de Estudos e Pesquisa em Mediação e Comunicação da Informação (GEPEMCI), que a mediação da informação fundamenta os processos informacionais. Com isso, as atividades mediadoras possibilitam que os sujeitos fortaleçam seus traços de memória e identidade, e tenham nas atividades mediadoras a base para o alcance do seu agir consciente no mundo, como estamos alcançando a cada tentativa em nossas ações e estudos.

Esse breve relato sobre nossas descobertas iniciais e experiências em curso, nos ajudam a afirmar a necessidade dos profissionais da informação realizarem suas atividades mediadoras com base na leitura consciente de si, ler os espaços, o agir de pessoas que estão nesses lugares, as contribuições para com essas pessoas e o que se pode aprender com elas, compartilhar experiências e ideias, fortalecer concepções e as ressignificá-las. Só se alcança sonhos quando agimos juntos, a vida é sempre mediada por outros que nos ajudam a constituir memórias e alcançar os propósitos. Assim também é na profissão.

Precisamos de mais arquivistas e bibliotecários que desenvolvam atividades de mediação da informação acreditando na potência transformadora do acesso à informação, e para isso, realizem ações mediadoras que auxiliem os sujeitos – leitores e mediadores – a perceberem que os dispositivos informacionais estão inter-relacionados às práticas culturais e que essas revelam traços de memória e identidade.

Os traços de memória e da identidade são produzidos pelos sujeitos em sociedade e em alguns casos são registrados em dispositivos informacionais. Dentre os dispositivos que materializam tais traços estão a fotografia, as telas de pintura, a partitura, produções literárias, entre outros repertórios informacionais que cristalizam um instante, revelando os vestígios do contexto em que foram produzidos. Entendemos que o dispositivo revela traços para além das atitudes imediatas, pois, permite ampliar aspectos que inicialmente não foram intencionais, de forma a transparecer elementos representativos de seus produtores e proporcionar que o espectador/leitor possa, em alguns casos, se (re)conhecer nesse registro que terá vestígios de memórias e identitários que os conectam.

Arquivistas e bibliotecários precisam fortalecer seu entendimento de que os dispositivos informacionais presentes nos acervos dos ambientes informacionais são capazes de dar visibilidade às narrativas memorialísticas de grupos diversos, por meio de atividades mediadoras que são desenvolvidas por esses agentes, que também são responsáveis pela dinâmica de seleção desses dispositivos. Assim, essa dinâmica pode requerer um processo de ressignificação e de embates sociais, não apenas de um sujeito, mas de todo o seu coletivo.

A produção de sentido atribuída pelos sujeitos aos dispositivos socioculturais é dependente da vivência do sujeito no seu estar no mundo, da relação com o coletivo e da constituição de sua memória. Um mesmo dispositivo pode ser interpretado por diferentes perspectivas, desde um ‘não lugar’ ao de um lugar no mundo, como, por exemplo, uma fotografia de uma casa de barro situada em um meio árido em chão pedregoso, onde tem um sujeito com marcas do sol em sua pele, pode ser interpretada como reveladora de uma situação triste, onde a seca se destaca, mas, por outro lado, pode-se evidenciar a força de um ser que resiste em seu lugar de pertencimento, que cultiva naquele espaço a sua experiência no mundo, que preserva seus traços culturais característicos. Dessa maneira, essa fotografia se aproxima, para alguns, como um outro ‘não lugar’, que igualmente distante do centro urbano, possui casas muito próximas, sem um planejamento arquitetônico definido, em que se pode vislumbrar um povo que também tem suas marcas, que ao romper os limites e projetar-se diante do silêncio incômodo, pode representar um povo que (r)existe e rompe as diversidades impostas para alcançar seus objetivos.

Diante do exposto, acreditamos na postura protagonista de bibliotecários e arquivistas e demais agentes mediadores, que a partir de suas experiências nos ambientes informacionais, percebam a importância de suas interferências na vida do outro, acreditando que podem apoiar os diversos sujeitos a realizarem uma leitura de si, da força que os movem, a partir da evocação de suas memórias individuais e coletivas, de reconhecerem vestígios de sua ancestralidade etc. Esses sujeitos (usuários) são extensão de outros protagonistas e podem por meio de compartilhamento de leituras de mundo fortalecer convicções de vida, inclusive ratificando para os mediadores a importância de seu agir. Assim, precisamos exercitar o espaço da colaboração, da interação, do agir junto para o alcance de perspectivas comuns e realização de mudanças que desejamos nos espaços socioculturais.

Agindo nessa perspectiva, os mediadores da informação atuam de maneira afetiva, humanizadora, pelo viés da alteridade e proporcionam lugar de fala para grupos que historicamente foram silenciados e que têm e precisam evocar e compartilhar suas memórias. Dessa maneira, as atividades mediadoras podem ressignificar o olhar de sujeitos para os ambientes informacionais, favorecendo que esses utilizem o dispositivo para apoiar em suas demandas sociais e alcançar seus objetivos, o que pode proporcionar uma atribuição de sentido aos ambientes e agentes informacionais, alcançando um valor simbólico.

Essa reflexão parte das experiências e discussões que nós (Raquel e Ana) estamos consolidando a partir de práticas de sala aula, das atividades de pesquisa e extensão, das orientações e reuniões em grupos de pesquisa. Tais experiências nos apresentam indícios de que os sujeitos com os quais interagimos contribuem para nosso crescimento e ampliação do nosso olhar diante do mundo, reciprocamente temos buscado agir pautadas nessa (re)leitura, de olhar com cuidado o outro e subsidiar o alcance de seu protagonismo.

Reiteramos que as atividades mediadoras apoiam os sujeitos no processo de apropriação da informação, que possibilita transformações, mas só a alcançaremos se realizarmos uma leitura crítica sobre quem somos, o que precisamos e onde queremos chegar, assim, precisamos agir como mediadores para além do exercício profissional, pautados na mediação como uma convicção de vida que escolhemos seguir.

Referências

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Mediação da informação: um conceito atualizado. In: BORTOLIN, Sueli; SANTOS NETO, João Arlindo dos; SILVA, Rovilson José da. (org.). Mediação oral da informação e da leitura. Londrina: Abecin, 2015. p. 9-32.

GOMES, Henriette Ferreira. Mediação da informação e suas dimensões dialógica, estética, formativa, ética e política: um fundamento da Ciência da Informação em favor do protagonismo social. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 30, n. 4, p. 1-23, out./dez. 2020. Disponível em: http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies. Acesso em: 3 maio 2022.

 

Raquel do Rosário Santos (UFBA) 
Ana Claudia Medeiros de Sousa (UFBA)


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