OBRAS RARAS


IH! PASSOU O ENTRUDO!

Tudo indica que o carnaval, essa festa popular (não mais tanto assim, diriam alguns) que nos dá fama internacional há séculos, foi primeiramente registrado pelos idos de 1723, trazido ao Brasil/Rio de Janeiro por imigrantes da Ilha da Madeira e Açores, de acordo com uns. Ou, como diz a boa pesquisa de José Ramos Tinhorão sobre o assunto, “não foi ninguém que inventou o carnaval”: era o lazer das camadas populares urbanas.  Com origens na Antigüidade, ele resiste bravamente aos dias de hoje, ainda que um tanto modificado. Mas estará mesmo modificado? Afinal, em todos os tempos existiram e ainda existem máscaras, cortejos e marchas, homens vestidos de mulher, músicas com duplo sentido, confeti, irreverência, carros alegóricos, etc.

 

Claro que as famílias mais abastadas acreditavam que o verdadeiro carnaval era aquele que faziam, seguindo os moldes de Veneza e Paris, e por isso pensavam que acabar com o entrudo e suas práticas seria mais civilizado. Afinal, nos entrudos, jogar água ou outros líquidos, digamos, menos nobres, os limões-de-cheiro atirados uns nos outros, pinturas no rosto, e algumas brincadeiras que senhoritas de família não se atreveriam a brincar eram práticas já em voga mais no final do século 19 (para não falar do barulho que os zé-pereiras faziam).

 

Mas nem só de escravos, aristocracia, comerciantes, etc. era o carnaval do Rio de Janeiro composto. Às vezes coincidia ter algum estrangeiro desavisado aportando na cidade nesses dias, e artistas de outros países documentaram fartamente o entrudo, como Debret (que registra ser a festa um divertimento para todos, embora sem mistura racial). Um relato estrangeiro interessante é o que nos dá a conhecer Julio Bandeira, de uma aquarela retratando um carnaval em família. É ainda pouco conhecida dos brasileiros e encontra-se longe dos nossos olhos. Chama-se “Brincadeiras no Carnaval do Rio de Janeiro”, hoje parte da coleção da Biblioteca Nacional da Austrália.

 

Augustus Earle, o artista inglês, esteve no Brasil pela primeira vez em 1820. Conviveu com Maria Graham (a governanta da princesa Maria da Glória) e acabou ilustrando parcialmente o conhecido livro da amiga Graham, “Journal of a voyage to Brazil and residence there during part of the years 1821, 1822, 1823.”  Earle, um viajante nos seus 45 anos de vida, voltaria ao Brasil em 1823 no mesmo navio de Charles Darwin, mas pouco se sabe sobre onde morou, que pessoas visitou, por quais lugares passeou. O artista morreu em Londres em 1838, e o entrudo no final da monarquia.




Partes do presente texto foram extraídas da Revista Nossa História, Ano 2, no. 16, de fevereiro de 2005. A ilustração está disponível no endereço http://nla.gov.au/nla.pic-an2822612

 

Até a próxima!


   559 Leituras


Saiba Mais





Próximo Ítem

author image
MEIO AMBIENTE NO BRASIL COLONIAL; ALGUMAS POUCAS CONSIDERAÇÕES
Abril/2006

Ítem Anterior

author image
DOCUMENTOS (RAROS) ELETRÔNICOS - PARTE II
Janeiro/2006



author image
VALERIA GAUZ

Tradutora, mestra e doutora em Ciência da Informação pelo IBICT, bibliotecária de livros raros desde 1982, é pesquisadora em Comunicação Científica e Patrimônio Bibliográfico, principalmente. Ocupou diversos cargos técnicos e administrativos durante 14 anos na Fundação Biblioteca Nacional, trabalhou na John Carter Brown Library, Brown University (EUA), de 1998 a 2005 e no Museu da República até 12 de março de 2019.