OBRAS RARAS


LIVROS RAROS E PRESERVAÇÃO: ÁREAS AFINS EM TRANSIÇÃO

O livro raro tem qualidades que o tornam diferente dos demais numa biblioteca. Ele é, normalmente, subutilizado, requer pessoal especializado (ou seja, caro) e a manutenção da coleção não é barata, pois segurança contra roubo e incêndio e sua conservação, fora os aspectos relacionados ao tratamento técnico, também oneram a instituição.

 

Há muitas diferenças entre os livros raros/antigos e os modernos. Nos livros raros o tratamento técnico é mais detalhado e as normas de descrição física são diferentes, para que informações como estilo de encadernação, nome do impressor, de antigos proprietários de um determinado exemplar, etc. possam ser representadas e recuperadas; o manuseio deve ser diferenciado, pois a oleosidade das mãos algumas vezes afetam o papel (embora o papel artesanal seja mais duradouro do que o papel industrializado que surgiu depois de 1820, aproximadamente); como há poucos exemplares, o alto valor monetário sugere conservação e segurança com maior cuidado; muitos livros raros são considerados patrimônio cultural; o usuário é especializado, não sendo infreqüente que conheça o assunto mais do que o bibliotecário de referência. Normalmente, essas coleções se localizam em seções à parte das demais, em uma biblioteca, pois o acervo raro não oferece acesso livre às estantes. Por fim, a questão dos direitos autorais também é distinta entre um livro antigo e outro moderno na seleção para candidato à digitalização.

 

A relação do profissional da área de Preservação com o de coleções especiais (livros raros, manuscritos, iconografia, etc.) é muito próxima. Cabe ao primeiro a elaboração de uma série de procedimentos que irá auxiliar e direcionar os bibliotecários quanto às melhores decisões em algumas situações, por exemplo,  nos cuidados especiais em casos de empréstimo para exposições. Estudos adicionais devem fazer parte da vida de um profissional da área de Preservação que lida com livros raros, uma vez que essas coleções possuem características distintas. Cursos como história da encadernação, da ilustração, do papel, do livro e bibliografia descritiva são alguns exemplos.

 

Na era digital em que vivemos, orientação quanto a doações encaminhadas para a biblioteca que contenham documentos eletrônicos também devem passar pela área de Preservação primeiramente. É importante que se faça avaliação do conteúdo digital com vistas a uma possível migração para outra mídia, etc. Há vários casos conhecidos de acervos digitais já perdidos devido à dificuldade de se encontrar programas e equipamentos para leitura de seus conteúdos. Há originais eletrônicos raros entre nós.

 

Embora sejam os computadores um suporte especial também para os livros raros, eles não foram os primeiros a surgir no cenário da reprodução de acervo (sempre é bom lembrar). Edições facsimilares e microfilmes, por exemplo, constituem os suportes mais conhecidos e confiáveis para a preservação dessas coleções há muitos anos. Entretanto, nesses casos, a presença física dos usuários ainda se faz necessária para consulta local com esses suportes – o que não acontece na era digital com a internet.

 

Um dos principais aspectos da importância das bibliotecas digitais de acervo raro é a capacidade de preservar o original do uso e de oferecer acesso mais rapidamente. Preservação, aqui, deve ser entendida como uma ação a curto prazo, pois o microfilme ainda é o suporte mais confiável que se conhece. Acesso, sim, é um aspecto relevante em toda a sua amplitude para as coleções em questão.

 

Graças às novas tecnologias de informação os livros raros mudam de status. Eles agora ocupam também um outro lugar nas instituições, além do físico: o virtual. A beleza, a inexistência de problemas de direito autoral e a singularidade dos exemplares raros contribuíram para serem essas as primeiras coleções de bibliotecas digitalizadas e disponibilizadas na internet. Não há dúvidas quanto ao papel central que as tecnologias ocupam na área de bibliotecas e instituições, em geral, nos últimos 25 anos. Com isso, um novo campo se abre: a preservação da informação digital – assunto dos mais importantes hoje em dia no âmbito de bibliotecas e outros segmentos de várias áreas do conhecimento.


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VALERIA GAUZ

Tradutora, mestra e doutora em Ciência da Informação pelo IBICT, bibliotecária de livros raros desde 1982, é pesquisadora em Comunicação Científica e Patrimônio Bibliográfico, principalmente. Ocupou diversos cargos técnicos e administrativos durante 14 anos na Fundação Biblioteca Nacional, trabalhou na John Carter Brown Library, Brown University (EUA), de 1998 a 2005 e no Museu da República até 12 de março de 2019.