AO PÉ DA ESTANTE... EM CUBA
Um dos autores contemporâneos mais interessantes e de belíssima escritura, Leonardo Padura Fuentes, ou simplesmente Leonardo Padura, oferece uma obra de muitos títulos traduzidos, prometendo outros mais.
Padura nasceu em 1955, em Cuba, onde vive até hoje. Foi por 15 anos jornalista e no início dos anos 90 decidiu dedicar-se apenas à literatura, sobretudo aos romances policiais, dos quais se destaca a tetralogia formada pelas excelentes tramas de Passado perfeito (1991/premiado), Ventos de Quaresma (1994), Máscaras (1997) e Paisagem de outono (1998).
Nesses e em outros títulos, por intermédio de seu protagonista Mario Conde, um detetive politicamente incorreto (fuma e bebe desbragadamente), o autor nos apresenta o passado e o presente de seu país.
Porém, a primeira obra abordada hoje – O homem que amava os cachorros - caracteriza-se como histórica e biográfica, com laivos ficcionais, cenários para a vida do revolucionário comunista conhecido como Leon Trotski (nome real: Liev Davidovitch Bronstein) e de seu algoz, Ramón Mercader. O assassinato de Trotski, encomendado por Stalin, revela um crime bem premeditado e cuidadosamente organizado e realizado. Ao longo de todo o livro, história oficial e biografia entremeiam-se e tornam o enredo apaixonante, prendendo nossa atenção da primeira à última página. Esta verdadeira obra-prima fascina sob diferentes aspectos: o literário, pela beleza da narrativa; o histórico, pelo interesse sobre fatos nem sempre contados; o biográfico, pelo significado de Trotski para o comunismo, o neo-marxismo e para a História.
O autor veio ao Brasil em julho de 2015, por ocasião do lançamento desta sua obra, tendo sido uma das principais atrações da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), além de participar de uma polêmica entrevista no programa Roda-Viva da TV Cultura (vale a pena conferir na Internet).
A segunda obra que indico – Hereges – a mais recente e também premiada, é um romance com o detetive Mario Conde, só que vai muito além da trama policial. Esta se desenrola a partir de um quadro, pintado por Rembrandt e doado a um de seus discípulos, rapaz judeu que serviu de modelo à figura de Cristo. Padura mergulha no Renascimento, dá lições sobre história da arte, enquanto narra fatos históricos da época e subsequentes, enfocando sobretudo a questão judaica. O leitor fica preso a um enredo arrebatador, no qual a liberdade individual e a situação cubana são temas complementares e recorrentes. Exemplifico com um breve trecho do personagem Rembrandt: “Para um artista, todos os compromissos são um peso: com sua Igreja, com um grupo político, até com seu país. Eles reduzem seu espaço de liberdade, e sem liberdade não há arte”. Compararam Padura a outro autor policial, Vázquez Montalbán (merece um texto próprio), talvez por referências daquele autor ao detetive Pepe Carvalho desse último; porém o considero mais próximo de Arturo Pérez-Reverte (fica também a promessa de um comentário particular).
Sugere-se a inclusão de Padura em todas as listas de leitores amantes dos livros e das belas palavras, policiais ou de quaisquer gêneros.