ARTIGOS E TEXTOS


ROUBO, DEPREDAÇÃO DE MATERIAIS E CAMPANHAS EDUCATIVAS EM BIBLIOTECAS: PROPOSTA DE UM MODELO DE AVALIAÇÃO

1 APRESENTAÇÃO

Pretendo apresentar aqui uma proposta para avaliação não só de roubo e depredação de materiais em bibliotecas, mas, também, das campanhas educativas normalmente realizadas como uma das principais ações visando a amenização do problema.

A experiência sobre a qual estou embasando a proposta, foi realizada em 1983 e 1984, na Biblioteca da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas - EAESP/FGV. O simples relato dos trabalhos concretizados naquela época poderia não deixar aparente as idéias básicas que os motivaram. Assim, darei ênfase nessas idéias, tentando, a partir da experiência localizada, apresentar um modelo que possa ser empregado em outras bibliotecas com características semelhantes.

Vale acrescentar que a experiência ocorreu em uma biblioteca universitária, com a participação dos 30 funcionários do Serviço de Referência e alguns de outros Serviços. A coordenação esteve sob a responsabilidade da chefia do Serviço de Referência.

 

2 INTRODUÇÃO

O roubo e a depredação de materiais são um problema enfrentado por todas as bibliotecas. Apesar das constantes ações empreendidas, a solução total e definitiva não foi e nem será conseguida. A não existência dessa solução definitiva, no entanto, não deve redundar em um comodismo, em uma passividade. A tentativa para no mínimo amenizar o problema, deve fazer parte das preocupações dos responsáveis pela coleção dos diferentes tipos de bibliotecas. Todavia, diferentemente da necessidade em enfrentar o problema que defendi acima, a literatura é pobre e escassa sobre o assunto, indicando talvez uma indiferença ou um conformismo ante o que é, muitas vezes, considerado inevitável. Poucos são os trabalhos que enfocam o tema e, quase sempre, atêm-se às campanhas educativas sem uma clara e objetiva fundamentação. Invariavelmente a preocupação está voltada para a execução e implantação da campanha, esquecendo-se da avaliação e dos resultados. Estes, quando existem, baseiam-se em critérios meramente de observação, passíveis, como é óbvio imaginar, de vieses já que, inconscientemente, há o desejo e até a necessidade de obtenção de resultados numa ação que demandou tempo e trabalho.

Além das poucas experiências relatadas na literatura específica da área, muitas bibliotecas, em especial as universitárias, realizam campanhas visando combater o roubo, a depredação e até as maneiras inadequadas com as quais os usuários manipulam os materiais. Não obstante a importância desses trabalhos, quase sempre são eles também implantados sem uma discussão anterior, sem fazer parte de um plano ou programa maior; são executados isoladamente, na esperança de solucionar o problema.

Pequenas e simples atitudes administrativas podem obter melhores resultados do que uma grande, desgastante e custosa, em termos financeiros e de trabalho, campanha. Por exemplo: o funcionamento do setor de fotocópias acompanhando todo o horário de atendimento da biblioteca pode diminuir a quantidade de capítulos rasgados dos fascículos de periódicos, pois muitos usuários, na impossibilidade de retirar o material – porque não são emprestados ou porque ele, usuário, já retirou a cota máxima permitida – e de fotocopiá-lo, terminam por arrancá-lo da revista, premidos pela necessidade. Não depredam por simples desejo ou por uma compulsão ao vandalismo. Os trabalhos com roubo e depredação não podem partir de premissas desse tipo. Um outro dado, que também parece ser uma premissa dos bibliotecários, é a relação direta e indissociável entre "alunos pobres" e "roubo". Outro, ainda, é a tentativa de se atingir a consciência do usuário, imaginando que ele, refletindo sobre as conseqüências de seus atos para a comunidade, modificará seu comportamento (isso é tão utópico quanto a "biblioteca universal" ou uma sociedade moldada sob "nossos" parâmetros). Nenhum trabalho sério pode ser desenvolvido com tais pressupostos.

Outros exemplos de pequenas atitudes administrativas podem ser apresentados: - o aumento do número de funcionários no setor de "xerox", objetivando diminuir as imensas e constantes filas e a excessiva demora no atendimento dos usuários; um usuário com pressa, mesmo que, para os bibliotecários, injustificada, e a demora no atendimento da xerox, ocasiona mais um item na relação dos materiais depredados ou "desaparecidos" (eufemismo utilizado pelos funcionários do balcão de empréstimo para o termo roubados); - a liberação de determinados livros durante o período em que a biblioteca se encontra fechada; - a oferta formal de livros alternativos aos solicitados pelos professores, pois, normalmente, a biblioteca possui poucos exemplares dos livros constantes nas bibliografias básicas dos cursos, etc.

A pior solução (se é que a podemos chamar assim) em relação ao roubo talvez seja a proibição do acesso dos usuários ao acervo. Transformar o livre acesso em acervo fechado é, muitas vezes, a primeira atitude que, embora nem sempre aplicada, surge como solução imediata. Óbvio que tal solução não deve nem ao menos ser cogitada: significa o fim de um dos objetivos básicos da biblioteca universitária, ou seja, a pesquisa. Não se concebe mais uma biblioteca universitária com acervo fechado, ainda mais quando sua implantação foi motivada por problemas que podem ser amenizados com outras ações.

 

3 O PROBLEMA

Antes de abordar o problema propriamente dito, necessito frisar que considero o termo "depredação" como abrangente, e "roubo" como dele fazendo parte. No entanto, como as bibliotecas dividem suas preocupações entre o roubo e os danos causados aos materiais, resolvi destacar o termo "roubo". O alerta se faz necessário porque, no texto, pode parecer que os dois termos estejam empregados como dissociados.

A exemplo de todas as bibliotecas universitárias, a da EAESP/FGV vivenciava e enfrentava, na época, o problema do roubo e da depredação. Uma ação forte e decisiva se fazia necessária e para isso foi elaborado um plano calcado em 4 grandes tópicos: a) estudo na literatura, dos problemas de depredação e experiências relatadas; b) análise das possíveis causas dos roubos e ações administrativas para solucionar ou amenizar os problemas decorrentes dessas causas; c) avaliação e determinação quantitativa das proporções da depredação e d) criação e implantação de uma campanha educativa visando ampliar as discussões e, nelas, inserir a comunidade acadêmica.

O estudo da literatura pouco contribuiu para a determinação de ações a serem desencadeadas. As experiências relatadas, no entanto, deixaram claro que as campanhas tradicionais voltadas para a sensibilização dos usuários para o caráter coletivo do acervo das bibliotecas, não obtiveram resultados satisfatórios para os objetivos pretendidos naquele momento. Vale lembrar que nos valemos, além da literatura, de experiências relatadas por bibliotecários que não as registraram em texto.

As análises das causas de depredação e as ações para saná-las ou amenizá-las foram implantadas de imediato, antes mesmo dos resultados provenientes da campanha educativa e da avaliação das proporções da depredação. As ações desenvolvidas não serão aqui especificadas por não fazerem parte dos interesses imediatos deste trabalho.

 

4 A CAMPANHA EDUCATIVA

Cientes de que os apelos para o caráter comunitário e público dos materiais da biblioteca não atingem bons resultados – principalmente porque a tendência é considerá-los piegas, já que, no Brasil, existe pouco ou nenhum apreço pelo bem público –, eu e minha equipe optamos por uma campanha que satirizasse o usuário que depreda e rouba materiais. O humor pareceu-nos, e foi comprovado posteriormente, a forma mais adequada de se lidar com o problema: não se ofende claramente os usuários – o que poderia ocasionar uma imediata barreira, impossibilitando a reflexão –, principalmente os que não se enquadram na categoria dos "depredadores", e, o mais importante, apresenta o problema de maneira direta e objetiva, atingindo a todos de maneira indiscriminada. Além disso, o humor propicia e viabiliza a reprodução entre os próprios usuários, da campanha, pois possibilita a discussão do seu conteúdo através da forma como o problema é veiculado.

Inicialmente, optou-se pela história em quadrinhos como principal veículo da campanha. A criação de um personagem tornou-se obrigatória, surgindo então o "depredário", ironicamente cognominado "o hulk acadêmico". Um dos funcionários da biblioteca, ótimo desenhista, assumiu a responsabilidade pela criação, desenho e nome do personagem.

Posteriormente, até pelo sucesso rapidamente alcançado pela campanha, outro funcionário, que não tomara parte do grupo inicial, apresentou a proposta de outro material para fortalecer as ações contra a depredação: um pequeno folheto que, também com humor, mostrasse os diversos "tipos" de usuários depredadores. Entre eles estariam os que roubam livros; os que arrancam páginas, ilustrações e artigos de periódicos; os que escrevem e rabiscam nas margens ou sublinham palavras e trechos dos materiais e os que manuseiam descuidadamente, destruindo livros e periódicos. Sua proposta era mais ampla, devendo o novo material abordar, também, outras atitudes dos usuários que as bibliotecas normalmente consideram não compatíveis com uma postura adequada. Aqui, a exemplo dos depredadores, os usuários também seriam divididos em "tipos": aqueles que escondem livros ou fascículos de periódicos para uso exclusivo; os que reclamam das suspensões por atraso de materiais; os que retiram das estantes uma grande quantidade de materiais, além da necessidade e da possibilidade de uso; os que só falam gritando, berrando e esbravejando; os que não respeitam os funcionários da biblioteca, etc. Sua idéia era abordar o assunto apresentando esses tipos de usuários como infectados por vírus fictícios presentes nas bibliotecas. Todos os vírus foram batizados a partir de corruptelas de palavras em latim. Surge, então, o "Aviso de utilidade pública: vírus que atacam os usuários de bibliotecas". O lançamento desse novo material se fez com grande alarde, precedido de uma ampla divulgação. O espaço junto aos catálogos foi modificado e devidamente preparado para o lançamento. A comunidade acadêmica foi convidada e sua resposta superou toda nossa expectativa, esgotando-se rapidamente a primeira edição do "Aviso".

Muitas bibliotecas solicitaram permissão para utilizar esses materiais em suas próprias campanhas, algumas inclusive criando novos "vírus", adequados a suas características e realidade.

É importante alertar que a campanha só foi implantada após a primeira avaliação do acervo e a partir do que se chamou de "índice de depredação". Esse dado merece uma atenção especial, pois sem ele torna-se difícil a avaliação dos resultados efetivos conseguidos com a campanha.

 

5 ANÁLISE QUANTITATIVA DE DEPREDAÇÃO DO ACERVO

Para se obter uma avaliação correta, ou próxima a isso, da proporção de depredação do acervo (que chamo aqui de "índice de depredação"), são necessários os seguintes passos: a) amostra do acervo; b) revisão do material; c) recuperação dos materiais danificados ou reposição dos perdidos; d) análise dos dados. Esses passos devem ser executados, na primeira vez em que se analisa o acervo, em dois momentos distintos e espaçados com um critério determinado pela biblioteca executora. Apenas após o segundo momento é que se conseguirá o "índice de depredação". As campanhas educativas devem ser realizadas depois de obtido o índice. Findo o período inicial da campanha, pré-definido como idêntico ao determinado como espaço entre o primeiro e o segundo momento de execução dos passos, uma nova série desses passos deverá ser realizada (terceiro momento). A avaliação do desempenho da campanha ocorrerá com o confronto do índice obtido no segundo momento, com o obtido no terceiro momento. Para que a seqüência possa ser melhor esclarecida, convém segmentar em tópicos todos os itens envolvidos, o que farei em seguida.

5.1 Os Passos

Quase sempre as bibliotecas possuem uma grande quantidade de tipos de suportes em seus acervos. Visando facilitar a explicação da proposta de modelo de avaliação, utilizarei, a título de exemplo, apenas o acervo de periódicos. Pode-se empregar a mesma proposta para os demais tipos de suporte, fazendo-se apenas pequenas adaptações.

Como frisei anteriormente, quatro são os passos necessários para a análise da proporção de depredação do acervo, ou seja, para a obtenção do índice de depredação:

5.1.1 Amostra do acervo

O universo de títulos de periódicos correntes de algumas bibliotecas acarretaria um trabalho de análise de danos e roubos quase impossível, pois, para essa análise, é preciso verificar todos os fascículos desaparecidos e todas as páginas faltantes. Por esse motivo, deve-se trabalhar com uma amostra do acervo – o que de nenhuma forma implica em perda de qualidade. Os critérios para se definir a amostra devem ser determinados pela biblioteca que realizará a análise. Sugiro, no entanto, o seguinte critério: - divide-se o acervo em três grandes grupos: os títulos de periódicos que possuem grande, média e pequena consulta; - de cada um desses grupos seleciona-se uma porcentagem representativa dos títulos (a porcentagem deve ser a mesma para cada um dos grupos).

Exemplo: uma biblioteca possui 900 títulos correntes. Após uma rápida análise (inclusive porque algumas bibliotecas já conhecem esse dado), chega-se aos seguintes números: 100 títulos com muito uso; 500 com pouco uso e, obviamente, 300 com uso médio. A porcentagem definida pela biblioteca para a amostra foi de 10%. A quantidade de títulos a serem analisados fica assim determinada:

Títulos de periódicos

Universo

Amostra

Muito uso

100

10

Pouco uso

500

50

Médio uso

300

30

Totais

900

90

A quantidade de títulos de pouco e médio uso não deve preocupar ou "assustar" ao bibliotecário interessado em aplicar esta proposta em sua biblioteca, porque os danos e roubos são proporcionais à quantidade de uso. Isso significa que a maior quantidade de problemas será encontrada nos fascículos dos títulos de periódicos mais utilizados que, como se observa facilmente na tabela, representam a menor quantidade da amostra.

Após a determinação do tamanho da amostra, deve-se selecionar os títulos de periódicos que a comporão. Pode-se aqui, simplesmente sortear dentre todos os títulos de cada um dos três grandes grupos, aqueles que serão incluídos na amostra.

Devo enfatizar que o critério apresentado é apenas uma sugestão. Algumas bibliotecas, em função das características de seu acervo, talvez necessitem aumentar o número dos grupos de periódicos, ou fazendo subdivisões nos três grupos propostos. Essa decisão deve considerar também, as necessidades particulares da biblioteca e o conhecimento que os bibliotecários de referência têm do acervo e do uso. É possível que uma biblioteca decida incluir um título específico de periódico porque entenda ser ele um parâmetro adequado para a análise. O que não pode ser esquecido é o perigo de vieses na pesquisa em decorrência da quantidade de títulos "escolhidos".

5.1.2 Revisão do material

Definida a amostra, os materiais devem ser verificados. Todos os fascículos dos títulos de periódicos selecionados devem ser vistoriados individualmente.

Deve-se confrontar, como num levantamento de estoque, as fichas ou folhas de registro de periódicos, com as estantes. Os fascículos faltantes são anotados em fichas previamente preparadas para esse fim.

Após a verificação de roubo, procura-se os danos causados pelos usuários no acervo. Cada fascículo deve ser folheado página por página e registrados todos os problemas encontrados. Os problemas mais comuns são: páginas faltando; páginas rasgadas; trechos sublinhados ou riscados e páginas com sujeiras. No momento em que se encontra o problema, decide-se pela necessidade ou não de substituição e reparo. Óbvio que páginas arrancadas ou rasgadas exigem a reposição ou a inserção de xerox em substituição à parte danificada.

Faz-se a anotação apenas dos problemas que exigem substituição ou reparo. No entanto, ela deve ser rigorosa, registrando o tipo de problema e a parte onde se localiza. Proponho três tipos de fichas: uma para roubo, uma para páginas arrancadas e outra para páginas rasgadas. Na primeira ficha inclui-se o título do periódico, o volume, o número, o mês e o ano do fascículo; na segunda e na terceira, além dos dados anteriores, deve-se acrescentar o autor, o título do artigo e o número ou números das páginas com problemas. Esses dados são importantes, pois, nas análises posteriores, é possível detectar se a depredação tem uma incidência maior em determinadas épocas ou se atinge predominantemente os textos solicitados pelos professores como literatura básica e de leitura obrigatória.

5.1.3 Recuperação dos materiais danificados ou reposição dos perdidos

Todos os materiais detectados com problemas devem ser recuperados. No caso de páginas rasgadas ou arrancadas, é possível localizar o fascículo em outra biblioteca, "xerocar" a parte ou partes necessárias e acrescentá-las ao material danificado. Outra possibilidade é substituir o fascículo com problema. Algumas bibliotecas mantêm em depósito, duplicatas de fascículos dos periódicos mais utilizados e onde se constata a maior incidência de depredação. Nesse caso torna-se mais fácil a substituição. Não sendo possível nenhuma das alternativas apresentadas, deve-se simplesmente retirar o fascículo das estantes e excluir seu registro do catálogo de público. O material roubado deve seguir a mesma sistemática.

5.1.4 Análise dos dados

No primeiro dos três momentos apresentados como necessários para a avaliação da proporção de depredação da biblioteca, a análise dos dados pode contribuir, como afirmado anteriormente, para determinar o período ou o tipo de textos em que há uma predominância de materiais danificados, auxiliando na determinação do tipo de duplicatas que devem ser mantidas, os títulos que necessitam de mais de um exemplar de cada fascículo nas estantes, etc. Além disso, após a verificação da amostra e da reposição ou recuperação dos materiais danificados, o acervo estará completo e sem problemas nas estantes, à disposição do público. Dá-se a essa situação a designação de "índice de depredação zero", ou simplesmente "índice zero".<

 

5.2 Os três momentos

O primeiro grande momento da análise das proporções da depredação, ocorre quando a biblioteca prepara seu acervo para posteriores avaliações. Essas avaliações posteriores só são possíveis com o "índice de depredação zero", pois, sem ele, não há possibilidade de comparações. Os passos e a forma de se conseguir o "índice zero" já foram apresentados. Resta definir o tempo de espera entre o final do primeiro momento e o início do segundo (lembrando que o tempo aqui determinado deverá ser o mesmo entre o final do segundo momento e o início do terceiro). Esse tempo, na verdade, significa o período em que o material estará a disposição do usuário e, em conseqüência, sujeito a depredação. Alguns itens devem ser considerados: o período letivo, os picos de freqüência, diferenças entre semestres, etc. O ideal parece ser um período de espera de um ano, incluindo, inclusive, os meses de férias. O tempo mínimo entre os dois momentos, no entanto, pode ser de seis meses, apesar de, dependendo das análises desejadas, correr-se o risco de alguns desvios nos resultados finais. O critério novamente é da biblioteca realizadora.

O segundo grande momento seguirá os mesmos quatro passos realizados no primeiro. Porém, ao contrário deste, na análise dos dados, obteremos, com toda a certeza, um "índice de depredação" diferente de zero. A proposta de cálculo desse novo índice deve considerar os seguintes números:

- o número total de páginas de todos os fascículos de cada título de periódico que compõe a amostra; a soma do total de páginas de todos os títulos de periódicos de cada grupo da amostra (muito, médio e pouco uso) e a soma dos totais dos três grupos.

- o número total de fascículos de cada título de periódico que compõe a amostra; a soma do total de fascículos de todos os títulos de periódicos de cada grupo da amostra (muito, médio e pouco uso) e a soma dos totais dos três grupos.

- o número total de páginas rasgadas ou arrancadas de todos os fascículos de cada título de periódico que compõe a amostra; a soma do total de páginas rasgadas ou arrancadas de todos os títulos de periódicos de cada grupo da amostra (muito, médio e pouco uso) e a soma dos totais dos três grupos.

- o número total de fascículos roubados de cada título de periódico que compõe a amostra; a soma do total de fascículos roubados de todos os títulos de periódicos de cada grupo da amostra (muito, médio e pouco uso) e a soma dos totais dos três grupos.

O confronto desses números resultará no índice de depredação do acervo daquela biblioteca específica.

Para se conseguir o número total de páginas dos fascículos de um título de periódico, não é necessário "contar" página por página; basta escolher ao acaso três fascículos, somar a quantidade de páginas de cada um deles e dividir por três. Obtem-se assim, a quantidade média de páginas por fascículo. A multiplicação dessa média pelo número total de fascículos determina o número total de páginas daquele título de periódico. O número é aproximado, mas perfeitamente válido.

O índice de depredação pode se dividir em dois grandes grupos, ou seja, um índice específico para roubo e outro para páginas rasgadas ou arrancadas. Esses grupos podem, por sua vez, ser subdivididos cada um deles em três. Tem-se, então, os seguintes índices:

- índice de roubo de fascículos de cada título de periódico;

- índice de roubo de cada grupo de análise (periódicos com muito, médio e pouco uso);

- índice de roubo de toda a amostra (neste caso, como utilizamos apenas periódicos, ele representará abrangerá apenas os periódicos).

- índice de páginas faltantes de fascículos de cada título de periódico;

- índice de páginas faltantes de cada grupo de análise;

- índice de páginas faltantes de toda a amostra;

- índice de depredação geral (incluindo roubo e páginas faltantes).

Obviamente que este último deve ser considerado o mais importante deles. Como afirmado anteriormente, para se obter cada um dos índices, é necessária a comparação entre os números obtidos:

- para o índice de roubo de fascículos de cada título de periódico - confronta-se o número total de fascículos com o número de fascículos roubados. Exemplo: um título de periódicos possui registrado na biblioteca, 40 fascículos. Desses, não foram localizados na revisão do material, 2 fascículos. Dividindo-se 2 por 40, chega-se a um índice de roubo de fascículos daquele título de 0,05.

- para o índice de roubo de cada grupo de análise - confronta-se o número total de fascículos de todos os títulos de periódicos que compõem o grupo, com o número de fascículos roubados desses mesmos títulos. Exemplo: o número total de fascículos dos dez títulos de periódicos que compõem o grupo de muito uso é 398. Desses, não foram localizados na revisão do material, 26 fascículos. Dividindo-se 26 por 398, chega-se a um índice de roubo daquele grupo de análise de 0,065.

- para o índice de roubo de toda a amostra - confronta-se o número total de fascículos de todos os títulos de periódicos que compõem a amostra, com o número total de fascículos roubados. Exemplo: o número total de fascículos dos títulos de periódicos que compõem a amostra é de 4150. Desses, não foram localizados na revisão do material, 133 fascículos. Dividindo-se 133 por 4150, chega-se a um índice geral de roubo de 0,032.

O mesmo procedimento deve ser utilizado para se obter os índices de páginas faltantes de fascículos de cada título de periódico; de páginas faltantes de cada grupo de análise e de páginas faltantes de toda a amostra.

Para se obter o índice de depredação geral, soma-se o "índice de roubo de toda a amostra" e o "índice de páginas faltantes de toda a amostra" e divide-se por dois. A biblioteca terá, assim, um "índice geral de depredação".

As campanhas educativas só devem ser iniciadas após a obtenção do índice geral de depredação, pois ele permitirá, no terceiro momento, a avaliação da eficácia ou não dessas campanhas.

O mesmo tempo decorrido entre o primeiro e o segundo momento, deve separar o segundo do terceiro momento. Este terá a mesma sistemática e os mesmos trabalhos desenvolvidos no segundo. Os índices levantados no segundo e no terceiro momento devem ser comparados, diminuindo-se um do outro. No caso de um aumento do índice no terceiro momento em relação ao segundo, a campanha educativa deve ser revista, pois não atingiu o objetivo a que se propunha, pois a depredação naquela biblioteca aumentou. No caso de um resultado menor, a campanha foi bem sucedida, já que a depredação diminuiu.

 

6 CONCLUSÃO

Embora aparentemente trabalhosa, a proposta que apresentei não despende de muito tempo dos funcionários da biblioteca. Podem ser escolhidos os períodos de férias letivas para a revisão do material, momento em que os auxiliares do Serviço de Referência estão mais disponíveis para trabalhos internos. Outro momento propício pode ser o de "levantamento de estoque", utilizando-se assim o mesmo trabalho para dois objetivos diferentes.

O "índice de depredação" trará contribuições para várias atividades da biblioteca. As ações visando a educação do usuário desempenhadas pela Referência, poderão utilizar esse índice como norteador; a política de preservação da biblioteca ampliará sua eficácia a partir dos dados refletidos pelo índice; a previsão de gastos com encadernação e recuperação dos materiais será muito mais precisa; a biblioteca poderá remodelar a disposição do acervo, favorecendo o controle e a fiscalização sobre os setores com mais incidência de depredação; um trabalho com os professores e alunos das disciplinas que utilizam os materiais onde ocorre o maior percentual de depredação, pode ser implantado, etc.

A experiência desenvolvida com essa proposta na biblioteca da EAESP/FGV, indicou que a campanha educativa e as ações administrativas implantadas, levaram à diminuição da quantidade de materiais depredados.

Finalizando, vale lembrar que apesar das ações preventivas e do emprego de equipamentos inibidores, o roubo e a depredação não serão totalmente eliminados. Deve-se, então, trabalhar para amenizá-los.

Notas

- Texto publicado originalmente no IX SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 1996, Curitiba. Anais. Curitiba, 1996. (Disquete)

- O material "Aviso de utilidade pública: vírus que atacam os usuários de bibliotecas" está disponível em 8 imagens no site INFOHOME, nos links:
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Parte 4
Parte 5
Parte 6
Parte 7
Parte 8

Autor: Oswaldo Francisco de Almeida Júnior

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.