CAFÉ COM PÓS


SIM, SENHOR! NÃO, SENHORA!

Era fulana, virou fulana de tal. E nessa tal academia, eis aí uma discussão que dá “pano pra manga”: depois de casar, mudar ou não mudar o nome?

Temos correntes que relacionam o fato da mulher adotar o nome da família do esposo como uma exposição machista, uma espécie de posse, resquício de um tempo que essa prática era obrigatória.

Há também correntes culturais onde a relação com o nome é bem diferente – em algumas culturas o nome é escolhido depois de uma certa idade, por determinada pessoa, ou ainda há o costume de trocas de nome sempre que algo significativo acontece em sua vida, ou se alguém especial passou por ela (você pode até mesmo trocar de nome com alguém, por exemplo, e esse alguém pode ter sido um amigo).

“Ah, mas aí a pessoa vai colocar o meu nome no buscador x e não recuperar todas as coisas” – Sim, e isso vai acontecer também se você não mudar o nome mas a referência estiver diferente em alguns trabalhos (alguns saem abreviados, outros sem algum nome do meio... o padrão é praticamente impossível).

No Brasil, atualmente, a adoção do nome da família do cônjuge é opcional a ambos, independente do sexo. Tem também a questão casamento-divórcio, já que é praticamente uma moda ser questionado da possibilidade de divórcio quando se menciona um casamento. Bem, se sua principal preocupação quando se casar for o que fazer quando se divorciar, desculpe, mas você está fazendo isso errado. 

Não que seja a intenção fantasiar um “felizes para sempre”, mas digamos que alguns problemas têm sua hora para serem questionados. De qualquer forma, é importante ressaltar que legalmente você pode optar em continuar com o sobrenome do então ex-cônjuge, no caso de uma separação amigável, por exemplo (e já que é pra pensar em divórcio antes de casar, que pelo menos se pense nessa possibilidade).

Temos também em nosso país a benção do Lattes, que embora seja pra lá de chato de se preencher, é extremamente importante para quem trabalha com pesquisa, já que lá, além de listar todos os seus trabalhos, você também pode listar todas as formas de citação do seu nome.

Independente da relação que se estabelece com o nome e da legislação vigente, a discussão permeia outros caminhos: o da necessidade constante da justificativa quanto a escolha.

Se é uma opção, porque a necessidade de se justificar? Por que a opção não é algo natural, sem necessidade de ouvir as variáveis discussões e opiniões de todos sobre o assunto? Outro ponto interessante é que mesmo que homens tenham a opção de mudança de nome não é nada comum vê-los sendo questionados sobre isso.

Talvez, então, não seja a mudança em si o tópico da discussão, mas sim o problema de que a mulher ainda é vista na inferioridade dentro da academia, tendo que constantemente justificar que sua opção em assuntos que deveriam ser corriqueiros na vida de todos os pesquisadores não atrapalhará sua carreira, como uma mudança de nome em virtude de um casamento ou divórcio, ou a decisão de ter filhos.

É preciso abdicar de seu direito de mudança de nome e de maternidade para ser uma boa pesquisadora? Se isso não é um aspecto apenas relacionado a mulheres, porque os homens pesquisadores não são constantemente questionados nos mesmos pontos como as mulheres são?

Não haverá mais problema quando não precisarmos mais falar sobre isso, quando o direito de ambos os cônjuges seja simplesmente aceito, sem necessidade de justificativas. Você já questionou alguém hoje? Talvez seja a hora de se questionar sobre isso.


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HELOÁ OLIVEIRA

Doutoranda em Ciência da Informação na Unesp - Marília, Mestra em Ciência da Informação pela Unesp - Marília e Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Estadual de Londrina.