OBRAS RARAS


VIVER E MORRER NO BRASIL HOLANDÊS

Ainda nas águas holandesas do Brasil, como no mês passado.

 

“Viver e morrer no Brasil Holandês” é o título de uma das últimas publicações da Editora Massangana, da Fundação Joaquim Nabuco, no verão de 2006. Recife é, de fato, pólo disseminador de cultura no Nordeste há séculos. O organizador da publicação é Marcos Galindo, professor do departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco e Coordenador do Liber, o Laboratório de Tecnologia da Informação da universidade. Ele também é autor, entre outros, do Guia de Fontes para a História do Brasil Holandês.

 

Publicações como essa são importantes iniciativas para desvendar fatos históricos antes somente disponíveis em holandês, uma língua pouco falada ou lida por nossas bandas (aliás, não só pelas nossas). A Holanda guarda verdadeiros tesouros que podem enriquecer em muito os estudos da área.

 

A publicação tem cinco colaboradores (um brasileiro) e um ótimo projeto gráfico, agradável e fácil de ler. Além de ilustrações e uma bela capa, ainda oferece uma pequena biografia dos envolvidos.

 

Um dos estudos do livro é a tradução anotada para o português de Benjamin Teensma e Hulsman de um folheto raro de 12 páginas em holandês, o “Descrição da conquista de Pernambuco por H. C. Lonk” (Veroveringh van de stadt Olinda, gelegen in de capitania van Phernambuco, door den E.E. manhaften, gestrenghen Heyndrick C. Lonck, generael te water ende te lande, e por aí vai), provavelmente publicado em 1630. Trata-se de um relatório que os holandeses fizeram da captura de Olinda e dos fortes de São João e Santo Antonio em fevereiro daquele ano. Igualmente, contém o texto da capitulação desses fortes, além da lista das munições encontradas.

 

Conta a história que, após a frota holandesa, sob as ordens do famoso Almirante Pieter Heyn, capturar navios da frota espanhola cheios de prata em Cuba, em setembro de 1628, a Companhia das Índias Ocidentais passou a ter fôlego financeiro suficiente para planejar uma nova investida contra o Brasil, ou seja, o descrito por Lonk. Antes, em 1624-1625, os holandeses já haviam estado na Bahia, mas por apenas um ano.

 

No texto há registros curiosos, como o do governador Matias de Albuquerque que, consciente da invasão holandesa no estado, proibira seus habitantes, sob pena de serem castigados fisicamente, de deixar o lugar com seus pertences, na tentativa de que, por amor aos seus bens, eles defendessem a cidade. Eu também aprendi, lendo o relato, que atirar de navios para terra firme não é um bom negócio, já que o tiro não pode sair em linha reta por motivo do balanço das ondas. Uma informação aparentemente boba, mas que pode sempre explicar melhor algum fato para historiadores, arqueólogos, etc. (os próprios holandeses reconhecem a “pontaria deficiente”). Enfim, de qualquer forma, e apesar de algumas surpresas, os holandeses saíram vitoriosos.

 

Outra nota interessante no relato é que os holandeses se referem aos portugueses de Olinda ora como portugueses, ora como espanhóis, talvez pelo fato de Portugal ter estado sob o domínio espanhol de 1580 a 1640.

 

Os holandeses acabaram ficando na região por 24 anos, sendo responsáveis por muitas mudanças no cenário nordestino e brasileiro.

 

O livro é, sem dúvida, publicação obrigatória em todas as bibliotecas com acervo de Brasil colonial.

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VALERIA GAUZ

Tradutora, mestra e doutora em Ciência da Informação pelo IBICT, bibliotecária de livros raros desde 1982, é pesquisadora em Comunicação Científica e Patrimônio Bibliográfico, principalmente. Ocupou diversos cargos técnicos e administrativos durante 14 anos na Fundação Biblioteca Nacional, trabalhou na John Carter Brown Library, Brown University (EUA), de 1998 a 2005 e no Museu da República até 12 de março de 2019.