GP - INFORMAÇÃO: MEDIAÇÃO, CULTURA, LEITURA E SOCIEDADE


  • Grupo de Pesquisa - Informação: Mediação, Cultura, Leitura e Sociedade - Textos elaborados por membros do Grupo, visando a divulgação de pesquisas específicas realizadas no seio do GP e a disseminação de discussões e reflexões desencadeadas pelos integrantes do grupo.

O SINDICATO ENQUANTO MEDIADOR DA INFORMAÇÃO NA FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA DE CLASSE: UMA ATUAÇÃO POSSÍVEL E NECESSÁRIA

Simone Maria Gonçalves de Oliveira Ulian

 

Algumas discussões estão sendo travadas no âmbito da Ciência da Informação no tocante ao objeto desta ciência. Alguns autores defendem que o objeto da CI seja a mediação da informação e não a informação. Contudo, mesmo que se desloque ao status de objeto da CI, a mediação da informação não é um conceito aplicável (e útil) apenas a esta ciência. A mediação da informação é multidisciplinar e seu estudo em conjunto com outras áreas do conhecimento propicia um melhor entendimento de comportamentos, estruturas e fatos sociais.

O objetivo deste texto é tentar demonstrar que a mediação da informação é um aspecto a ser considerado e explorado quando se trata de estudar o movimento sindical e sua influência na formação da consciência de classe. Fala-se, agora, da relação do processo de mediação da informação com a teoria marxista da luta de classes. Sim, estão relacionadas!

Vários autores, mesmo no âmbito da Ciência da Informação, alertam e descrevem que a mediação da informação possui uma dimensão política, sendo que, por meio dela, é possível desenvolver nos indivíduos competências informacionais que os permitam atuar na transformação do meio social ao qual estão inseridos por propiciar nestes sujeitos novas maneiras de enxergar a realidade de forma crítica e ativa. Ocorre, portanto, a transformação de indivíduos em protagonistas sociais e políticos!

Mas, qual a relação da dimensão política da mediação da informação com o movimento sindical?

Aqui, se faz necessário uma abordagem, mesmo que superficial, do movimento sindical e sua importância para a classe trabalhadora.

Karl Marx e Frederich Engels, em O Manifesto do Partido Comunista, afirmam que a história do homem é a história da luta de classes e que, na sociedade capitalista, tal luta é travada entre a burguesia (detentora dos meios de produção e representante legítima do capital) e a classe operária (representante dos trabalhadores – aqueles que vendem sua força de trabalho). Neste sentido, o movimento sindical surge como uma organização do operariado que visa seu fortalecimento e direcionamento para uma atuação no âmbito político afim de derrotar o capital e extinguir um sistema baseado na exploração e opressão de uma classe sobre a outra.

De fato, para Marx e Engels, o sistema capitalista se pauta na opressão e exploração da classe operária, sendo que é por meio da exploração do trabalho que ocorre a obtenção de mais-valia/lucro e o fortalecimento e a expansão do sistema/capital. Ainda, de acordo com os autores, o único capaz de extinguir, superar este sistema e instaurar uma sociedade mais justa e igualitária, é o operariado. No entanto, para que a classe operária realize seu desígnio histórico, é necessário que ela compreenda o seu papel e a sua importância neste processo. Além, é necessário que a classe operária entenda que é possível tal transformação social, e isto só ocorre por meio do alcance da verdadeira consciência de classe.

Ainda, é válido ressaltar que não existem várias consciências de classe. Marx ressalta que a consciência de classe é única, no entanto, o operariado experimenta momentos de lucidez em relação ao seu papel revolucionário. Quanto mais se aproxima da compreensão de sua função na luta de classe, mais o operariado adquire a verdadeira consciência de classe, e, quanto mais distante desta compreensão, tal classe se encontra mais próxima da falsa consciência de classe.

Contudo, tal conscientização não se dá de forma livre e espontânea no interior do proletariado! Aqui reside a importância e o papel dos sindicatos e dos partidos políticos, sendo que os primeiros são responsáveis pela organização inicial dos trabalhadores, ou seja, devem estabelecer a base para o movimento organizado do operariado. Ocorre, porém, que, atualmente e sob a hegemonia do capital, o movimento sindical se afastou da atuação revolucionária e pauta sua ação no âmbito dos direitos trabalhistas. Vale ressaltar que este tipo de reivindicação é legítimo mas, por si só, não resolve a questão da exploração e opressão dos trabalhadores, muito pelo contrário! Significa a imersão da classe na lógica do capital e a perpetuação da opressão e da exploração, ou seja, o operariado se encontra submerso na falsa consciência de classe. 

Neste sentido, e nos voltando para a CI, o sindicato age como um mediador entre os preceitos marxistas da luta de classe e os trabalhadores, visando a aquisição por estes últimos de competências que os tornem aptos a atuar ativa e conscientemente na seara da luta de classes com o objetivo único de extinção de um sistema pautado na exploração e opressão de uma classe sobre a outra e, consequentemente, a instauração de um sistema social e econômico mais justo e igualitário.

Desta forma, o sindicato passa a ser considerado como um instrumento informacional, um dispositivo de mediação por meio do qual o processo de mediação da informação ocorre, visando a apropriação da informação pelo trabalhador e a aquisição por ele de competências informacionais que possibilitem à classe operária a realização de seu desígnio histórico.

Ainda, estamos tratando de uma ideia embrionária acerca da relação deste processo informacional com a formação da consciência de classe nos moldes propostos pela teoria marxista. No entanto, esta discussão é pertinente e necessária para o desenvolvimento e fortalecimentos não apenas destas categorias próprias da CI, como também, de conceitos e categorias oriundos de outros campos científicos como a sociologia e a política. Também, é por meio de pesquisas deste tipo que a práxis passa a ser possível, afastando a difusão de uma ciência vazia e construindo pontes para o diálogo concreto entre a ciência e a realidade efetiva do homem.

Simone Maria Gonçalves de Oliveira Ulian - Doutoranda do PPGCI – Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação da UNESP – Universidade Estadual Paulista e docente da UNIR – Universidade Federal de Rondônia, campus “Professor Francisco Gonçalves Quiles”. Participante do Grupo de Pesquisa: Informação: mediação, cultura, leitura e sociedade.


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