VIVÊNCIAS (DES)LATTES-LIANAS


DASEIN

Uma coisa que pode ser mencionada nesse texto é um estudante de pós-graduação que se preocupa em ser autêntico, pois, de modo em geral, ele considera-se verdadeiro. Hoje, vive-se modelos de compreensão e disputa do “ser” na academia, algo reativo, se contar a própria vivência que é encarnada no padrão científico.

Não sou daqueles que gosta de escrever o que penso, mas gosto de aprender com o outro e pensar no que já está inscrito. Prevaleço sob uma leitura que me reporta a uma certa fenomenologia do “si mesmo”, sei lá! Às vezes é preciso tentar escrever algo, mesmo em meio às responsabilidades que entremeiam a mente, corpo e espírito, pois isso pode dar sentido ao outro

Escrevo pensando, talvez, na minha pequenez, com o objetivo de enxergar algo no outro de uma forma prática, mas ao mesmo como se inclui a vida de quem é, está e estará no ‘mundo da pesquisa’. A concepção de ser e estar, ou talvez aquilo que eu mesmo acredite. A relação de “amor fati”, de não acreditar no destino, o passado perdido, ou mesmo de futuros incertos que apresentam a vida como ela é para não sofrer, mas na verdade sofre-se com alegria, talvez!

Assim, o “amor fati” é uma expressão latina, singular e nominativa, que significa "amor ao destino”. É um termo usado pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o qual permeia a vida como é. Trata-se da aceitação do que nos foi dado e tirado. Os acontecimentos no mundo são inseridos em uma forma causal, por leis naturais. É amar o destino, como ele diz em seu livro Ecce Homo (2009, p. 49) “não querer nada de diferente do que é, nem no futuro, nem no passado, nem por toda a eternidade. Não só suportar o que é necessário, mas amá-lo".

Então, quem ama a vida acadêmica? É uma certa controvérsia ao que ela indica ou o que está em nossa frente. Amar, sobretudo, encontrar e transformar ação em potência, eis a questão? Já a sociedade vivencia concepções diferentes, que não difere também no mundo da academia. Portanto, para nós é difícil, mas não menos necessário na prática dessa ideia hoje.

A questão que invade nosso ser sempre é representada com a ideia que somos ou não autênticos em nossos fazeres. Bem, para eu escrever algo, como mencionei, demoro muito. Às vezes desconsidero minhas próprias ideias, talvez por serem incompreensíveis e nada práticas. Na verdade, alcançam o outro, a vida, ou até mesmo uma prática metodológica que envolve um grande exercício ao pensar talvez numa introdução, método de pesquisa, atores, resultados ou discussões, isto é, um conjunto particular de um todo.

Aqui não falo de ideais utilitaristas, como as técnicas que te levam a executar tais composições de pesquisa, mas fazer um exercício com a própria mente. Move-se talvez em um modo autêntico com o que nós pensamos para nossas pesquisas, como aponta Heidegger (2002) em sua obra 'Ser e tempo’. O autor descreve a vida cotidiana como uma forma de existência inautêntica, marcada por três aspectos fundamentais: a facticidade, a transcendência e a ruína.

Se pensarmos como é característico, às vezes, como a concepção de uma pesquisa acontece em nossas mentes, soma-se a ela os modos em que proporcionamos uma construção, processo, potência em trânsito em que estou aqui, mas não estou, isto é, o Dasein, ou "ser-aí e o ente". Antes, há dois apontamentos, o ser-a-aí o modo como nos apropriamos das experiências do mundo da vida e a outra é o ente, o qual apontei acima, de uma concepção de um ideal pragmático utilitarista em que se desenvolve formas irrefletidas da ação que, muitas vezes, procura alcança o ser.

A concepção dada por Heidegger sobre o modo não autêntico marca-se por essas três características elencadas abaixo: façamos um exercício contrário ao que situa para servir ao que se busca sobre Dasein.

Factualidade: a característica do homem encontrar-se no mundo sem escolhas. Nós não escolhemos como e quando entramos no mundo, apenas chegamos a um determinado momento e lugar. O mundo engloba um conjunto de condições históricas, geográficas, sociais, políticas e econômicas nas quais cada pessoa está inserida.

Transcendência: corresponde à maneira como cada indivíduo percebe coisas do mundo como algo sem se apropriar, como algo que identifica seu modo "verdadeiro" de ser, como algo que ainda não se tornou. Ele entende "ser" como um ser que projeta além de si mesmo, mas que nunca pode ir além dos limites do mundo em que se encaixa. É uma maneira de se projetar dentro e com o mundo.

Ruína: uma espécie de desvio de cada indivíduo de ser autêntico em seus meios para favorecer as preocupações cotidianas das pessoas, dos problemas mais básicos que as perturbam, perdendo assim a singularidade no coletivo e da sociedade, reduzindo sua existência à maneira usual de ser, sua capacidade de tornar-se ele mesmo.

Essas estruturas rodeiam a “coisa” que o pesquisador chama intuitivamente de “objeto de pesquisa”. O sentido de “ente” no mundo acadêmico, por assim dizer, o fazer pesquisa, faz com que diante de certas angústias ou obstáculos emitidos a sua maneira diminuam as potencialidades, como aponta Espinosa sobre o enfraquecimento da potência.

Então, a “coisa” que o estudante ou pesquisador chama de sua, comparece em paixão e ela como potência passa a existir como uma alegria ou uma tristeza, dependendo de como se afeta e como os corpos se afetam ativa e passivamente. A real característica de tudo isso é como tudo nos afeta. Reagimos diante da servidão e liberdade e é aí que o desejo aproxima-se como uma forma especial de autenticidade, uma espécie de dialética das paixões que se projetam para fora de si.

REFERÊNCIAS

ESPINOSA, B. Ética. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva. Belo horizonte: Editora Autêntica, 2009.

HEIDEGGER, M. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 2002.

NIETZSCHE, F. Ecce Homo: como alguém se torna o que é. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.


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JETUR LIMA

Doutorando em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (PPGCI-UNESP). Mestre em Ciências da Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará (PPGCOM/UFPA). Graduado em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Pará.