João Arlindo dos Santos Neto

No âmbito do Grupo de Pesquisa “Informação: mediação, cultura, leitura e sociedade” os Ofajers (1) desenvolvem diferentes pesquisas, vinculadas ou não aos seus projetos de dissertação ou tese, por exemplo. A minha vinculação com o Grupo permanece mesmo após a defesa da tese em 2019 e, dentro do possível, busco realizar aproximações entre as discussões empreendidas pelos Ofajers e o meu projeto de pesquisa (ligado à Instituição que estou vinculado).

O Projeto de Pesquisa intitulado “Mediação da informação científica e dos saberes na amazônia brasileira” – com início neste ano de 2022 – está vinculado a Faculdade de Biblioteconomia e ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Pará (UFPA). Nele, participam orientandos de iniciação científica (Jair e Nicole) e de mestrado (Meibe e Miracy), além de docentes da FABIB/PPGCI/UFPA (Hamilton e Franciele) e uma docente externa (Sueli), com vínculo ao PPGCI/UEL, a cujo Programa também estou credenciado.

Após realizar algumas pesquisas com profissionais da informação e dispositivos informacionais do sul e sudeste do Brasil, com a oportunidade de estar situado em Belém é que alguns questionamentos surgiram, dentre eles: de que forma acontece a mediação da informação científica na Amazônia brasileira a partir de diferentes dispositivos informacionais e culturais? Como ocorre a mediação dos saberes nas comunidades? Quais são as implicações decorrentes de uma supervalorização da informação científica e da desvalorização dos saberes? Como os povos originários medeiam saberes e se apropriam da informação? Essas e outras questões circundam o referido Projeto.

A mediação da informação, tema amplamente debatido na Ciência da Informação (CI), Biblioteconomia, e mais recentemente na Arquivologia, refere-se a um processo contínuo e complexo que tem por essência a comunicação e a interação entre sujeito, objetos, instituições, em diversas instâncias e com a finalidade de que os sujeitos se apropriem da informação e possam construir conhecimento. A presente pesquisa se sustenta na fundamentação teórica proposta por Almeida Júnior sendo a mediação toda ação de interferência realizada em um processo por um profissional da informação na ambiência dos equipamentos informacionais. As perspectivas contemporâneas no âmbito das investigações sobre mediação compreendem os estudos métricos, as aproximações com a organização e representação da informação e do conhecimento, a competência em informação, os marcadores sociais de diferença, dentre tantas outras.

A informação científica refere-se a uma tipologia de informação específica que requer mediadores, fontes, processos e instrumentos também específicos para que seja mediada e compartilhada com vistas a obter tanto visibilidade no âmbito acadêmico-científico, mas também na comunidade. Considera-se informação científica toda manifestação escrita ou oral que carregue consigo, em potência (2) conteúdos sobre a diversidade da Amazônia sob a ótica do pensamento científico. As fontes que preservam e provem acesso a essa informação são variadas, dentre elas, pode-se indicar os portais de periódicos científicos; as bases de dados de patentes; os repositórios institucionais, temáticos e de dados de pesquisa, entre outras. Algumas já podem aqui ser mencionadas como:

• Repositório Institucional da UFPA;
• Repositório Institucional da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA);
• Biblioteca Digital de Monografias da UFPA;
• Portal de Revistas Científicas da UFPA;
• Portal de Periódicos da Universidade do Estado do Pará (UEPA);
• Portal de Periódicos da UFRA;
• Biblioteca do Centro Universitário Metropolitano da Amazônia (UNIFAMAZ);
• Biblioteca da Universidade da Amazônia (UNAMA);
• Biblioteca e Unidade de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG);
• Arquivo e Museu da UFPA;
• Bibliotecas das Usinas da Paz em Belém;
• Bibliotecas Comunitárias e Públicas de Belém;

Além desses dispositivos, outros ainda estão sendo identificados e compõem o universo de pesquisa do Projeto.

A mediação dos saberes, por sua vez, refere-se ao modo como os atores de uma comunidade têm mediado e compartilhado seus saberes com ela, visando perpetuar costumes, crenças, valores, comportamentos, considerados tão relevantes na sociedade quanto a informação científica. Na perspectiva de Jesus Martín-Barbero (in memoriam), semiólogo, antropólogo e filósofo colombiano, referência nos estudos das mediações, os saberes das comunidades precisam ser reconhecidos e valorizados como tão relevantes quanto a informação científica é.

Na amazônia poder-se-ia elencar muitos saberes, mais especificamente em Belém, tem-se o cultivo do açaí, preparo da maniva/maniçoba, extração do cacau, manipulação e uso das ervas e óleos de cheiro, pesca, como também os saberes relacionados as manifestações culturais e religiosas como o Círio de Nazaré, o Arrastão do Pavulagem, além de muitos outros. Há também os saberes dos povos originários, dos povos indígenas, dos quilombolas, ribeirinhas. Todos esses saberem são mediados de diferentes modos e por distintos elementos mediadores e têm sido compartilhados há anos pelas gerações.

Assim, quando se pretende investigar como se dá a mediação da informação científica e dos saberes na amazônia brasileira, tem-se em mente que, como toda pesquisa, delimitações serão necessárias.

A Amazônia legal é composta pelos estados do Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapa, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso e Rondônia. À princípio, pretende-se realizar uma pesquisa de campo junto à diversos dispositivos informacionais e culturais, como: arquivos, bibliotecas, museus, parques etc., e também, a comunidades ribeirinhas e quilombolas de Belém/Pará e região.

O intuito das visitas junto às comunidades será o de identificar os mediadores e o modo com eles têm dado visibilidade a informação científica no contexto amazônico, bem como auscultá-los na ambiência em que atuam quanto à compreensão de mediação da informação e de saberes comunitários. O discurso dos mediadores será analisado sob a ótica da abordagem teórico metodológica da Análise do Discurso.

Por ser uma Região de grande extensão e recursos (sobretudo os naturais), a Ciência da Informação na Amazônia brasileira encontra-se em desenvolvimento para a consolidação de uma infraestrutura de pesquisa e pós-graduação que permitam colaborar com o desenvolvimento de todas as frentes da Ciência da Informação e mais especificamente, devido ao interesse da pesquisa, ao campo da Mediação, desenvolvendo soluções adequadas para as problemáticas e conflitos informacionais locais que desencadeiam em outros tipos de conflitos em escala regional e nacional.

As discussões realizadas pelos e com os Ofajers no âmbito do Grupo de Pesquisa “Informação: mediação, cultura, leitura e sociedade” têm contribuído para o surgimento de novas inquietações e conflitos informacionais. Além disso, existem Ofajers que também residem na Amazônia legal (Jetur - Pará, Marcela e Simone - Rondônia, Thiago - Amazonas, Thamiris - Maranhão) e muito terão a colaborar com o Projeto aqui descrito.

Este foi um breve relato do projeto de pesquisa em andamento vinculada à UFPA, que logo terá resultados para ser divulgados tanto aqui quanto em outros veículos de comunicação científica.

NOTAS

(1) Termo afetivo utilizado pelos membros do Grupo para fortalecer a identidade dos pesquisadores vinculados ao Prof. Oswaldo Francisco de Almeida Júnior (suas iniciais: OFAJ)

(2) Alusão ao termo “protoinformação”, que se refere a uma informação em estágio potencial, que pode ou não se tornar informação a partir da relação com o sujeito (ALMEIDA JÚNIOR).