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  • Grupo de Pesquisa - Informação: Mediação, Cultura, Leitura e Sociedade - Textos elaborados por membros do Grupo, visando a divulgação de pesquisas específicas realizadas no seio do GP e a disseminação de discussões e reflexões desencadeadas pelos integrantes do grupo.

COMPETÊNCIA EM INFORMA…. COMPETÊNCIA EM EXPERIÊNCIA

Thamiris Iara Sousa Silva

Orledys María de Jesús López Caldera

Esta reflexão é fruto da discussão do grupo de pesquisa de Mediação da Informação (Unesp - Marília), do qual somos integrantes. O texto da vez era um que tinha por título A Ideologia da Competência, de Marilena Chauí, texto maravilhoso, revelador, e que nos levou a pensar se estaríamos pesquisando e escrevendo sobre Competência em Informação (CoInfo) da forma que acreditamos.

Tudo bem, o texto da Marilena não era sobre CoInfo propriamente dita, mas suas reflexões se aplicam a CoInfo, principalmente se adotarmos um olhar crítico sobre o ensino e aprendizagem da CoInfo, que nasce nos Estados Unidos envolta em um contexto capitalista que já via na informação a possibilidade de gerar lucro.

As questões que cercam a CoInfo no Brasil são muitas, inclusive a existência de diversas nomenclaturas, mas a pulga que foi gerada atrás de nossas orelhas foi sobre outro ponto. No texto, Marilena fala sobre uma ideologia da competência que nos faz acreditar que tudo depende de nós, mesmo sabendo das desigualdades socioeconômicas, raciais e outras que atropelam nosso continente. Fala de uma competência excludente, sim, excludente, pois enquanto uns, aqueles que detêm o capital para isso se tornam competentes, os demais se tornam incompetentes, e foi esta conclusão que nos acendeu um sinal de alerta.

Pensar que o discurso de tornar pessoas competentes em informação é só mais uma ferramenta do capitalismo é extremamente desestabilizador, é triste pensar que até quando achamos que estamos ganhando, na verdade, estamos perdendo.

Ter feito a leitura do texto da Chauí nos confirmou que não é o viés da CoInfo que serve somente para gerar mais lucros que queremos explorar. Nossa busca é por um ensino-aprendizagem de uma CoInfo que tem como princípio e finalidade a formação crítica.

Acreditamos em uma CoInfo que irá se adequar às outras competências que o sujeito já possui, entre elas, o que chamamos de competência da experiência, pois não é só o científico que tem validade na vida e na formação do sujeito, pois entendemos que dependendo do que se trata nem todos podem ser considerados competentes, mas daí afirmar que porque o sujeito não possui um conhecimento ou outro ele é incompetente, não, isso ele não é.

Parece extremista o fato de catalogar uma pessoa competente ou não competente só porque ele não tenha a oportunidade ou interesse de acessar determinados conhecimentos, como nos é apresentado por Chauí no “discurso competente”, que exclui automaticamente pessoas não vistas como “especialistas”, mesmo que essas pessoas tenham experiência de vida que facilmente lhes poderiam creditar para falar com fundamentos.

Assim, são muitas as vezes em que os posicionamentos de pessoas competentes pela experiência são apagados, ou não levados a sério pelo fato de não ter o apoio das cúpulas que ostentam o poder, quer dizer, “os especialistas que possuem conhecimentos científicos e tecnológicos", sendo estes atributos postos com maior valor, se comparados à experiência laboral, acadêmica e da vida.

Talvez por isto, usando como exemplo as questões sociais, quando um especialista vai às mídias e discorre sobre determinado assunto, e em contrapartida um cidadão comum é entrevistado sobre o mesmo tema, a sociedade tende a dar maior credibilidade ao especialista do que ao cidadão, mesmo este tendo a experiência de quem vive. Entendam, não queremos aqui validar mais a competência de um ou de outro para fazer o discurso, o que queremos é que um não seja invalidado em detrimento do outro.

Nesse contexto, é comum desqualificar a competência em experiência das pessoas pela ausência de um diploma, um certificado ou aval outorgado por uma comunidade reconhecida, o que resulta em maiores dificuldades para ser aceito como uma pessoa competente, mesmo tendo os conhecimentos e habilidades adquiridos ao longo da vida. Nesse sentido, acreditamos na importância de uma CoInfo voltada à formação crítica, fundamentada na problematização, e na contextualização, como elementos a serem considerados na análise da competência que possam ou não ter as pessoas em diversos campos do saber e do fazer. 

Assim, sabendo do desequilíbrio entre a competência em informação e a competência em experiência, nos questionamos se nosso trabalho está sendo significativo para o reconhecimento de todas as competências, ou apenas estamos retroalimentando com nossas estruturas, e aqui destacamos a ciência da informação, uma ideologia excludente de competência.

Referências

CHAUÍ, Marilena. A ideologia da competência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Autêntica, 2014 (Escritos de Marilena Chauí, 3)


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