MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO: FORMAS OUTRAS, UM ENTENDIMENTO POSSÍVEL?
Jetur Lima
A mediação da informação é um tema bastante discutido na literatura da Ciência da Informação (CI) e na Biblioteconomia. A discussão atual tem se concentrado em um processo complexo e constante, que visa não só a comunicação e a interação entre indivíduos, mas as experiências intersubjetivas e as competências comunicativas entre objetos, organizações e sujeitos, em diversos contextos.
O conceito é originado da fundamentação teórica do professor Oswaldo Francisco de Almeida Júnior (2015) que sugere a mediação como qualquer ação de interferência executada pelo profissional da informação em um processo, na ambiência de equipamentos informacionais. Na sua definição mais atual, a mediação da informação é toda ação de interferência, consciente ou inconsciente, que satisfaça uma necessidade informacional, gerando conflitos e novas necessidades.
A questão implica uma mediação complexa, uma vez que envolve diversas comunidades, experiências culturais, áreas e conflitos. Peres e Trindade (2020) revelam que "mediar" está ligado às dinâmicas de significados simbólicos. Isto é, o verbo "mediar" expressa sua complexidade semântica e pragmática de uso, já que “[...] a vida é atravessada de inúmeras ações mediadoras que delineiam as estradas dos sentidos do viver com o outro e em sociedade.” (PERES; TRINDADE, 2020, p. 3). Por outro lado, a construção do conhecimento existe sobre a interação entre as pessoas e as relações que as alimentam, incluindo a prática mediadora e os processos fenomenológicos associados à interferência do conhecimento.
Destaca-se formas outras de mediação da informação. A mediação é um fenômeno coletivo, emancipatório e comunicativo, em que os sujeitos envolvidos na apropriação da informação são participativos e não estão ausentes ou restritos à participação pública nos processos que envolvem as práticas informacionais. A mediação é sensível e intersubjetiva, como fenômeno coletivo emancipatório da interação entre os usuários e bibliotecários, arquivistas e museólogos e outros que trabalham com a informação.
Os participantes do processo de mediação consciente da informação se sentem acolhidos e reconhecidos como indivíduos ativos na ação mediadora, abrindo-se para a conquista da condição de protagonistas na ambiência dos equipamentos informacionais.
Como leitores do mundo, sentem-se e vivenciam emoções que devem ser analisadas pelo mediador através da escuta atenta e observação apurada. O sentimento de pertencer a um lugar onde existem grupos sociais, leva os leitores do mundo a uma análise do que está acontecendo em comunidade, o que pode resultar em um trabalho conjunto pelo bem-estar geral e gerar sensações de estranheza e autocrítica.
O fenômeno intersubjetivo da mediação sensível, representa a efetivação e estima social dos leitores de mundo e do profissional da informação no sentido de reconhecer questões sensíveis que envolvem a interação e em buscar respeitar e entender o usuário como pessoa em sua identidade e campo cultural diversificado, entre história e costumes diferentes (HABERMAS, 2011).
Ao meditar um pouco da teoria Habermasiana, essa relação pode ocorrer por intermédio da justificação, isto é, o discurso argumentativo dos leitores de mundo, uma forma de comunicação que se aproxima das condições ideais, particularmente resistente à repressão e à desigualdade. Se refere ao processo pelo qual os participantes alcançam uma compreensão mútua do problema em questão e, dessa forma, finalmente chegam a uma intersubjetividade comum (HABERMAS, 1989,1990).
A dimensão que envolve a mediação da informação está nesse viés do sensível e do conflito moral, em buscar dialogar, questionar, instigar e compreender as situações que emergem das interações entre os que leem o mundo, tornando as relações mais ricas e longe do que seja de toda forma cômoda; o ato de mediar levará formas outras de apropriação da informação ou de ações de informação, por exemplo, as potências de narrativas e sociabilidade antagônicas ao regime de informação e a transferência de informação.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA JÚNIOR, O. F. de. Mediação da Informação: um conceito atualizado. In: BORTOLIN, S.; SANTOS NETO, J. A dos.; SILVA, R. J. da (Org.). Mediação oral da informação e da leitura. Londrina: ABECIN, 2015. 278p. p.9-32.
HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
HABERMAS, J. La lógica de las ciencias sociales. Madrid: Tecnos, 1990.
HABERMAS. J. Trabalho, amor e reconhecimento. O filósofo Axel Honneth completa 60 anos de idade. Uma viagem em pensamentos de Marx a Hegel para Frankfurt: ida e volta. Revista Educação e Filosofia. Uberlândia, v. 25, n. 49, p. 337-341, jan – jun de 2011.
PERES, Clotilde; TRINDADE, Eneus (org.). Mediações: Perspectivas plurais. Barueri, SP: Estação das letras e Cores, 2020.