LEITURAS E LEITORES


UM LIVRO IMPRESCINDÍVEL À BIBLIOTECA DA ESCOLA

A educação escolar, resultado histórico e social, melhor se desenvolve quando existe uma cadeia que abranja teoria, prática, reflexão e ação. A partir de então, torna-se possível, contestar práticas, sedimentar outras e propor novas maneiras de se educar. No entanto, a dinâmica educativa, tal como a própria sociedade, exige pesquisas e alternativas de intervenção constantes, de modo a adequar os princípios educacionais à sociedade a qual pertence.

 

Nos estudos publicados acerca do fazer pedagógico, encontramos resultados de pesquisas, de estudos e de vivências que vêm encontrar-se às nossas necessidades, que compartem nossas dúvidas e, quase sempre, nos colocam outras. Outras vezes nos auxiliam a nos sentirmos integrados a um grupo de pesquisadores que busca o mesmo que nós. Tudo isso, além de contribuir e confrontar os resultados da pesquisa, dá alento à alma do pesquisador que percebe que não está só com seus questionamentos, que há outros que também se inquietam pelas mesmas coisas.

 

Uma das dúvidas que permeiam a mente de milhares de pesquisadores no mundo é: como mediar a leitura? Como fazer que a criança se torne leitora? Muitos compartilham a idéia de que um dos aspectos dessa resposta se encontra na biblioteca da escola, por isso, o que está escrito sobre ela, quer seja relativo ao atendimento ou encaminhamento pedagógico; ao funcionamento; à estrutura física ou ao mobiliário, interessa aos que comungam essa idéia.

 

Nesse sentido, aqui em Barcelona encontrei alguns livros que estão no âmbito dessa temática e passo a destacar preferencialmente três autoras, que acredito ainda desconhecidas no Brasil, mas não na América do Sul, são elas Teresa Maña, Mônica Barò e Inmaculada Vellosillo.

 

A pergunta já vem estampada no título “Bibliotecas escolares, para quê? *, as duas primeiras autoras são de Barcelona, professoras da Faculdade de Biblioteconomia e Documentação da Universidade de Barcelona (UB), mas trabalharam em bibliotecas públicas e escolares. Inma Vellosillo é formada em Ciências da Educação e trabalha na Escola Universitaria de Biblioteconomia da Universidad Complutense de Madrid.

 

A estrutura do livro permite que qualquer pessoa, da área ou não, compreenda os princípios elementares para se estruturar uma biblioteca escolar. A composição baseia-se na “conversa”, por meio de correio eletrônico, entre uma professora primária e duas bibliotecárias, a cerca dos procedimentos mais indicados para montar a biblioteca em sua escola. A professora pede à amiga para que lhe ajude a criar e a organizar a biblioteca da escola, aponta as dificuldades, a quantidade de volumes que possui etc. Enfim, oferece um quadro geral e típico de uma biblioteca de escola que ainda não está organizada e que precisa de informações para melhor atender a demanda de seu espaço.

 

As “conversas” das autoras giram em torno de 10 temas básicos sobre a biblioteca escolar, a saber: 1 – criação de uma biblioteca; 2 – funções da biblioteca escolar; 3 – condições para s biblioteca escolar; 4 – o projeto da biblioteca escolar; 5 – o espaço da biblioteca escolar; 6 – a coleção da biblioteca escolar; 7 – tratamento técnico dos fundos; 8 – serviços da biblioteca escolar; 9 – uso pedagógico da biblioteca; 10 – avaliação da biblioteca escolar, além dos anexos com modelos, referências, entre outros aspectos.  

 

Para quem está acostumado à escola de ensino fundamental, ao ler o livro de Maña, Barò e Vellosillo, encontra-se não apenas com o discurso frio de pesquisadoras da universidade sobre a biblioteca escolar, mas sim, com um discurso sólido sobre esse gênero de biblioteca que é tão descaracterizado em nossa sociedade. A vivência das autoras com a sala de aula no ensino fundamental, talvez tenha contribuído para que o livro fosse um pouco da fala direta e eficaz utilizada por tantos professores no dia a dia.

 

Dentre as inúmeras vantagens de ser ler o livro, uma delas é que os capítulos não são extensos, são muito diretos, mantêm uma objetividade que, sem sombra de dúvidas, pode auxiliar a qualquer profissional a montar uma biblioteca, seja professor, bibliotecário, ou não. Mas não pára por aí, o livro não está preocupado se as informações são oferecidas a profissionais não graduados em Biblioteconomia. A preocupação recai no compromisso em se divulgar e implantar bibliotecas em escolas.

 

A eficiência do livro é tal que nem nos damos conta dos termos que, aparentemente, parecem assustar a professores e ou estudantes de biblioteconomia. Pouco a pouco somos levados pela mão aos procedimentos necessários para se criar uma biblioteca na escola.

 

Além de tudo que já foi dito, na seção “Anexos” há desde o Manifesto da Unesco para a Biblioteca Escolar, passando por uma bibliografia básica sobre bibliotecas escolares, sugestão de questionários para avaliar o serviço da biblioteca a exemplos de como organizar um calendário para melhorar, pouco a pouco, a biblioteca da escola.

 

Enfim, é um livro que vale a pena para todos aqueles que acreditam que a biblioteca da escola é um veículo essencial para o desenvolvimento da aprendizagem e da leitura na escola. O livro ainda não foi traduzido para o português, mas esperamos que num futuro bem próximo isso possa acontecer. 

 

 

*titulo original: Bibliotecas escolares, ¿para qué? – Grupo Anaya, 2001

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ROVILSON JOSÉ DA SILVA

Doutor em Educação/ Mestre em Literatura e Ensino/ Professor do Departamento de Educação da UEL – PR / Vencedor do Prêmio VivaLeitura 2008, com o projeto Bibliotecas Escolares: Palavras Andantes.