HORACIO QUIROGA: FÁBULAS NA SELVA TROPICAL
Em janeiro passado estive
Aquela manhã nada tinha de fria, o calor era intenso na capital portenha. O que fazer? Busquei um café que estava
Caminhei para lá e pude constatar que aquele homem mostrava-se multifacetado nas fotos: a figura de aparência inóspita, o olhar longínquo, o trabalho braçal numa oficina na selva; um vestido desenhado para sua amada; aparência embrutecida daquele homem contrastava com ações delicadas. Era Horacio Quiroga. Jamais tivera qualquer informação acerca dessa personalidade, era inteiramente ignorante a respeito dele e de seu fazer.
Aqueles cartazes divulgavam uma exposição da Biblioteca Nacional sobre Quiroga, intitulada “Horacio Quiroga. Del banquete a
Horacio Quiroga (Uruguai/1879 – Buenos Aires -1937) é considerado um dos expoentes do conto modernista hispano-americano, seus contos estão plenos de elementos sangrentos de amor e de morte, mas me reportarei aqui a Cuentos de la selva*, obra que o escritor compôs pensando em seus filhos quando ainda eram crianças. Aqui no Brasil temos alguns exemplos de autores que escreviam para adultos e que, quando tiveram seus filhos, escreveram obras destinadas a crianças, dentre eles destacamos Clarice Lispector, Jorge Amado.
As Missões, região do rio Paraná que faz fronteira entre Paraguai, Brasil e Argentina, é o cenário das histórias de Cuentos de
No conto a Tartaruga Gigante, a narrativa inicia-se com aquela frase que abre as portas da imaginação para a criança:
Era uma vez um homem que vivia
Certa vez, quando caçava, o homem encontrou uma tartaruga gigante e pensou em aproveitar sua carne, mas constatou que ela estava ferida e resolveu tratá-la de seus ferimentos até curá-la. A partir de então surge uma amizade entre ambos que salvará a ambos.
E assim são as histórias, ora de amizade entre homens e animais, ora de hostilidade, como é o caso da A guerra dos Jacarés:
Em um rio muito grande, num país deserto onde nunca aparecera humanos, viviam muitos jacarés. Eram mais de cem mi (...). O vapor passou (...)
E como os jacarés tinham fome foram atrás de peixes, mas não encontraram nenhum (49-51).
A paz dos jacarés é violada pelo homem e seus barcos (vapores) barulhentos que assustavam os peixes e causavam fome na população réptil. Trava-se uma batalha entre jacarés e humanos, cada um com sua estratégia, mas a sagacidade e união dos jacarés foram decisivas para por fim ao conflito.
As fábulas clássicas têm enredo simples, direto e, ao mesmo, uma intensidade na mensagem que veicula. Assim, também são os contos de Horácio Quiroga, pois conquistam pela simplicidade e uma aparente ingenuidade a qualquer o leitor, seja ele de que idade for.
* Cuentos de la selva, editorial Losada, Buenos Aires, 2004. No Brasil, Contos da Selva foram publicados pela Iluminuras.