LEITURAS E LEITORES


LEITURA, LEITORES E SIGNIFICAÇÃO

Ler é um processo diferente para cada pessoa e temos a impressão de que a cada período de nossa trajetória como leitores, vamos mudando gradativamente. Por exemplo, há que se distinguir, no mínimo, dois tipos de leitores: aqueles que estão descobrindo a leitura e os que já descobriram.

No primeiro caso, o leitor age como um desbravador bibliográfico, geralmente, lê-se sem procurar o porquê da leitura. Não se pensa que a leitura vá trazer isto ou aquilo, se é importante ou não para a formação cultural ou intelectual. Lê-se por puro prazer!

Chafurda-se nas leituras com os mais diversos teores: de um gibi sobre a história do futebol ou do fogo fátuo nos campos da vovó Donalda, das proezas de Harry Potter, de um livro sobre a balata (é isso mesmo, não é barata! é uma árvore amazônica) a Machado de Assis. Literatura clássica? Popular? De massa? Best-seller? Literatura? Subliteratura? Nada disso tem importância.

Nessa trajetória não existe a preocupação em valorar o lido, mas sim em encontrar-se com a diversidade escrita, de saciar a curiosidade. Aí encontramos uma atitude "oswaldiana", transgressora no sentido de "encaixar tudo, somar, incorporar" que os iniciantes não têm medo de fazer, pois estão menos imbuídos de idéias preconcebidas.

Após ter vivido uma experiência "antropofágica" no primeiro momento, o leitor já incorporou a leitura em seu cotidiano e passa agora a colocar-se diante dela numa atitude de distanciamento, de modo a perceber o que realmente gostou de tudo aquilo, onde se encontra, qual estilo mais lhe agrada, enfim, as exigências se ampliam.

Há um teor mais crítico na busca de obras, é um período em que o leitor está confrontando opiniões e refletindo sobre elas. A partir daí, solidifica conceitos e incorpora a leitura em sua vida. Vai-se para cada obra com algumas características já preestabelecidas que antecipam seu valor. Para a maturidade experimentada, não basta ler, mas é preciso ter "qualidade" na leitura, é um misto de postura emocional e racional ao mesmo tempo.

Leitor iniciante ou não, há entre esses extremos uma necessidade inerente aos dois, a necessidade de ler. Mas de onde vem essa necessidade? As respostas têm sido, de acordo com as épocas, as mais singulares. Por exemplo, para Antonio Candido a literatura nos é importante porque temos a necessidade constante de ficção e de fantasia, portanto, temos nela uma fonte inesgotável para suprir essas necessidades.

Para Drummond, a literatura, tal como as artes plásticas e a música, era uma das grandes consolações da vida, e um dos modos de elevação do ser humano sobre a precariedade de sua condição.

Ainda no século XX, o poeta João Cabral de Melo Neto almejava uma escrita dura, pétrea, cortante e que em nada lembrasse maciez. Talvez João quisesse mexer, incomodar àquele que o lesse, lhe trazer o estranhamento e assim, por meio desse confronto, revolver as mais recônditas emoções e percepções do leitor.

Na busca de significação para a leitura, Caetano Veloso, em Livro, entoa: "mas os livros que em nossa vida entraram, são como a radiação de um corpo negro, apontando pra expansão do Universo, porque a frase, o conceito, o enredo, o verso (e, sem dúvida, sobretudo o verso) é o que pode lançar mundos no mundo".

"Lemos, intensamente por várias razões, a maioria das quais conhecidas: porque na vida real, não temos condições de "conhecer" tantas pessoas, com tanta intimidade; porque precisamos nos conhecer melhor; porque necessitamos de conhecimento, não apenas de terceiros e de nós mesmos, mas das coisas da vida", argumenta Harold Bloom. Embora considere "a busca de um prazer sofrido" como o principal motivo quando se lê.

São muitas as razões para a leitura. Cada leitor tem a sua maneira de perceber e de atribuir significado ao que lê. Essa particularização da leitura é que estimula, por meio de um processo artístico, emoções e vivências diferentes no leitor permitindo-lhe o conhecimento de si mesmo; o reconhecimento do outro, a descoberta do mundo.


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Abril/2003

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ROVILSON JOSÉ DA SILVA

Doutor em Educação/ Mestre em Literatura e Ensino/ Professor do Departamento de Educação da UEL – PR / Vencedor do Prêmio VivaLeitura 2008, com o projeto Bibliotecas Escolares: Palavras Andantes.