LEVANTAR, RESISTIR, ENFRENTAR
A cabeça no travesseiro,
buscando o travesseiro,
empurrada para o travesseiro.
Baqueado e prostrado.
Sinto um golpe,
que elege o mau poeta,
o mau caráter,
que elege o mau.
Pesa um pesadelo real.
Esse pesadelo, não.
Empurra minha cabeça,
para baixo,
para o travesseiro,
Informações enganosas,
esganadoras.
Sobrou pouco,
quase nada,
da antiga gana.
O sonho
parece sono,
a esperança,
parece
ex-perança.
O travesseiro sugere
a exclusão do mundo,
a solidão.
No pouco sono,
sonho com a margem
esquerda de um rio
caudaloso,
que inunda açudes,
que inunda a alma.
Verde que te quero
verde,
e não oliva.
Amarelo que te quero
amarelo,
e não vergonha.
Eles se apropriaram
da bandeira
que é minha, nossa.
Minha bandeira é
paixão.
Parecem sólidos,
mas estão se
desmanchando no ar.
É preciso levantar
e seguir caminhando
e cantando,
encantando todos,
congregando todos,
com nossa fala,
com nossa palavra,
com nossa verdade.
Minha perna reage,
é o prenúncio
de que estou voltando,
de que não
abandonei
minhas verdades,
meus sonhos,
minhas utopias.
Deixo o travesseiro
para ser travesso.
Minha esperança
está de pé.
De volta.
Volto a ser
subversivo.
Com outras armas.
Da paz,
mas guerrilheiro.
Como outras vezes,
eles passarão.
Já estão passando.
Eles veem
a ponta dos pés,
o próprio umbigo,
o próprio intestino.
Nosso olhar
alcança o futuro,
vai além do
momento,
ultrapassa nosso
pequeno espaço,
nosso
pequeno mundo.
Nós, de fato,
somos
universais.
Eles são sozinhos,
manipulando
os desinformados,
os ingênuos.
Nós somos mais,
somos muitos,
somos mãos,
somos alma.
Somos afeto,
somos justiça,
somos amor.
Nós já os derrotamos,
muitas vezes.
E o faremos
novamente.
Não por nós, apenas,
mas pelos outros.
É preciso levantar,
erguer a voz,
resistir,
enfrentar.