Warning: session_start(): open(/tmp/sess_4b98e8490cc7b1d9cdea7830b35c13ef, O_RDWR) failed: No space left on device (28) in /home/ofaj/public_html/colunas_conteudo.php on line 157

Warning: session_start(): Failed to read session data: files (path: /tmp) in /home/ofaj/public_html/colunas_conteudo.php on line 157

Warning: session_start(): open(/tmp/sess_ac16a8cbd5391427f678acdc344748f6, O_RDWR) failed: No space left on device (28) in /home/ofaj/public_html/include_contador.php on line 4

Warning: session_start(): Failed to read session data: files (path: /tmp) in /home/ofaj/public_html/include_contador.php on line 4
-] INFOhome - COLUNAS - LITERATURA INFANTOJUVENIL - POR UM FIO: EXPERIÊNCIAS DE VIDA EM NOSSAS FAMÍLIAS [-
LITERATURA INFANTOJUVENIL


POR UM FIO: EXPERIÊNCIAS DE VIDA EM NOSSAS FAMÍLIAS

com Ana Paula Pereira

Gostaria de justificar a palavra experiências no título dessa Coluna, ela se faz presente quando consideramos essa palavra na amplitude dada por Jorge Larrosa (2002, p.24) de que:

[...] a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito,  ter paciência e dar-se tempo e espaço.

Eu e a Ana Paula Pereira, uma amiga graduada em Biblioteconomia e doutoranda do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina, somos colecionadoras de livros sem palavras, isto é, os livros que também são chamados de livros sem texto, termo que discordamos, pois imagem também é texto.

Na última coluna abordei o câncer no livro infantil e acabei me esquecendo de uma obra que tem o título O fio. Ana Paula me alertou esse esquecimento e eu, para me redimir, a convidei para falar sobre ele.

Antes, porém, preciso contar que gosto de fios e sei o quanto eles são importantes em nossas vidas. Desde os fios dos aparelhos domésticos até os fios afetivos.

Vou falar primeiro dos domésticos e fiquem livres para rir leitores! Não sei se foi alucinação, mas um dia, no auge da pandemia, eu estava isolada com minha mãe, resolvi contar quantos fios me ajudavam a manter um ambiente saudável para minha mãe na véspera de fazer 90 anos. Parece loucura, mas isso foi um exercício de bom humor. Descobri que foram 24 fios que permitiram esse conforto, sendo eles da: lavadora de roupa, secadora de roupa, ferro de passar roupa, geladeira, fogão, micro-ondas, chaleira, liquidificador, panela elétrica, chuveiro, secador de cabelo, umidificador de ambiente, inalador/nebulizador, ventilador, aquecedor, abajur, luz de emergência, colchão pneumático anti escara, escova dentária elétrica, telefone fixo, TV, rádio, notebook e carregador de celular.

Quanto aos fios dos afetos esses são indescritíveis, imprescindíveis e retomados com urgência em um país que esteve em estado de guerrilha nos últimos anos. O fio que nos interessa hoje é o fio de vida e como ele algumas vezes e em alguns momentos ficam mais que frágeis, ficam vulneráveis.

Em outubro de 2010 fiz uma Coluna homenageando meu tio Pascoal que nos últimos dias de vida no Hospital do Câncer pegava a ponta do lençol e fazia um nó, pegava a outra ponta e fazia o mesmo. Eu desmanchava e entregava novamente a ponta, assim ficamos algum tempo. A sensação que tive era que os nós eram uma resistência a finitude da vida.

Nessa Coluna intitulada Fios, agulhas e nós eu abordei alguns livros infantis que falam de fios. Relendo-o hoje descobri que naquele outubro fiz a seguinte promessa: “Gostaria de falar também do livro Ponto a ponto de Ana Maria Machado, um livro de rememoração, porém como tenho apenas a edição publicada pela Berlendis & Vertecchia (que é maravilhosa!) gostaria de tecer meus comentários após ler a edição da Companhia das Letrinhas.” Que prometo cumprir em 2023.

Basta de introdução, passo a palavra para Ana Paula para falar do livro O fio, livro que tem capa linda, tem texto imagético lindo.

Capa do livro O fio


Fonte: Google Imagens.

Numa longa estrada procurando livros para incrementar nossa coleção quando possível e/ou inserir na nossa listagem (sim, desde a iniciação científica lá em 2015 complementamos nossa lista de livros sem palavras que atualmente está com 559 títulos), me deparei com o livro “O fio” da autora e ilustradora Suppa e editora Escala Educacional.

Ao perceber que se tratava de um “tema dolorido” tratei logo de adquirir dois exemplares: um para mim e um para minha “concorrente”, a professora Sueli. Isso ocorreu em tempos de pandemia, portanto na época não tivemos muito a oportunidade de nos aprofundarmos na narrativa, mas com a experiência de leitura de livros sem palavras creio que ele chamou a atenção de nós duas.

Na obra há um predomínio das cores branca e bege que nos remete a palidez. Por que Suppa, a autora, optou por essa nuance ao invés de deixar a história mais colorida? Uma resposta que eu daria é a possibilidade dessas cores representarem a doença oncológica e seus estágios.

É como se a vida da personagem, com o diagnóstico, perdesse a cor e o sentido.

Isso me fez lembrar a minha prima Naná que no auge da adolescência foi diagnosticada com câncer. Foi um baque para a família e um grande desafio. Principalmente para os pais e para a irmã caçula. Essa realidade é apresentada no livro: as fases desde o diagnóstico passando pelo tratamento. Há uma ênfase numa personagem que, provavelmente, representa a figura materna. Na história é sempre ela que acompanha a menina.

O que mais me chama a atenção é o título: “O fio”. Um fio que percorre as páginas, envolve a personagem, se transforma. Analisando as imagens eu e a minha mãe chegamos à seguinte conclusão: Não é apenas um, mas vários fios. Pode ser o fio de cabelo (que cai), o fio da vida ou a sensação: “Minha vida está por um fio”.

A realidade vivenciada pelas crianças com câncer é retrata no livro de uma forma muito delicada. A esse respeito, Borba e Mattos (2011, p.207) afirmam: “Os diferentes olhares sobre a realidade a enriquecem e a mostram plurissignificativa, multifacetada. Entrar em contato com esses olhares confere ao leitor a possibilidade de, ele também, produzir múltiplos e variados sentidos.”

Com uma rede de apoio, minha prima Naná se recuperou e hoje está bem, entretanto na narrativa não temos a certeza se a personagem se recupera por completo. A autora deixa em aberto o desfecho e isso nos dá um fio de esperança.

Nesse sentido, defendemos que esta narrativa sem palavras é recomendada tanto para os pais quanto para as crianças podendo ser mediada numa biblioteca, escola ou no hospital pelo bibliotecário e demais mediadores da leitura.

Sugestão de leitura:

BORBA, Angela Meyer; MATTOS, Margareth Silva de. A leitura do livro de imagem com crianças de 0 a 6 anos: um convite à narrativa e à imaginação. In: GONÇALVES, Adair Vieira; PINHEIRO, Alexandra Santos. (org.). Nas trilhas do letramento: entre teoria, prática e formação docente. Campinas: Mercado de Letras; Dourados: Editora da Universidade Federal da Grande Dourados, 2011. 352 p.

LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras.  Educ., Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, abr. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/Ycc5QDzZKcYVspCNspZVDxC/?format=pdf&lang=pt

SUPPA. O fio. São Paulo: Escala Educacional, 2013.


   311 Leituras


Saiba Mais





Próximo Ítem

author image
DIÁRIO DE CAROLINAS
Fevereiro/2023

Ítem Anterior

author image
CÂNCER NO LIVRO INFANTIL
Novembro/2022



author image
SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.