O ATO DE LER
(Falar em leitura é um ato “apaixonante” e, portanto, responsável)
Ao começar este texto paro para refletir a respeito do ato de ler (paro para escrever, pois refletir acerca da leitura, é uma constante em minha vida). Tenho abordado, quando há oportunidade, a importância dos pais serem leitores e não apenas “cobradores de leitura“ dos seus filhos. Resolvi nesse mês não falar de literatura infantil e fazer você caro leitor, se transformar em um meditabundo! Ou você leitora em uma meditabunda (Oh! Desculpe-me, mas tem hora que a nossa língua coloca a gente em cada saia justa!). Caso você não acredite na existência dessa palavra, consulte um dicionário.
Então vamos lá, todos “meditabundando”...
Que leitura é um assunto de grande importância, todos sabem. Que somos responsáveis pela mediação da leitura, ainda nem todos sabem. Então, encaminhando meus pensamentos, acabo por sentir um impulso e decido que, a partir desse mês, passo a produzir mensalmente uma série que estou denominando de “Atores da Leitura”.
Começo tratando do leitor, em seguida converso acerca do texto literário para crianças e logo depois eu apresento conceito de diferentes pesquisadores a respeito do mediador de leitura; depois... Bom depois... Não sei... Leitura é isso aí! Vamos ver onde vamos parar.
Não se aflija, sejamos como as crianças que não perdem a mania de “borboletar”.
Voltando a nossa postura de cogitabundo (ops! vá novamente ao dicionário se duvidar da existência dessa palavra também!), senti a necessidade de trazer algumas “vozes” de pesquisadores que, quando ao pesquisar leitura, fatalmente acabamos encontrando.
Para Maria Helena Martins autora do livro O que é leitura (Coleção Primeiros Passos) o ato de ler é “um processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como culturais, econômicos e políticos”.
Caminhando no mesmo sentido, Ezequiel Theodoro da Silva, membro da Associação de Leitura do Brasil – ALB afirma que os indivíduos lêem por três motivos: a) informação (estar atualizado), b) conhecimento (pesquisa e estudo) e c) prazer (interesse pela palavra literária).
É possível observar que esses modos de leitura ocorrem em nossas vidas de maneira, mais significativa ou menos significativa dependendo de fatores como: desejo de ler, oportunidade para ler, formação cultural, disponibilidade de tempo para a leitura e também de condições estruturais, como: espaço e tecnologia.
É imprescindível, porém, que no momento da leitura o leitor participe, de acordo com suas possibilidades, da construção do texto, pois como afirma Jean Foucambert ler [...] “significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, [...] significa construir uma resposta que integra parte das novas informações ao que já se é”.
Assim, para alguns indivíduos o ato de ler é constante, intenso, espontâneo, prazeroso e fundamental. Outros, por diversas justificativas, lêem esporadicamente e sob pressão interior e exterior, dessa forma estando insatisfeitos, percebem a leitura como uma atividade cansativa e dispensável.
Ambas as categorias devem ser respeitadas em seus ritmos e desejos como defende Daniel Pennac no texto Direitos Imprescindíveis do Leitor na contracapa do seu livro Como um romance.
Para finalizar, quero apresentar a você um texto que escrevi num momento de exercício literário. Com ele tive a intenção de me divertir e divertir (nada mais prazeroso que isso!) os meus alunos de Biblioteconomia, quando estávamos indo para uma das Bienais do Livro de São Paulo. Ele é intencionalmente lúdico e intencionalmente composto de títulos de livros. Os títulos dos livros estão em negrito, e caso o leitor sinta “desejo” de lê-los, é só tomar posse da listagem com os respectivos autores. BOA LEITURA!
LIVRO
As palavras me faltam... Sinto a insustentável leveza do ser. Sei que todos os homens são mortais, principalmente Romeu e Julieta. O livro é como a história sem fim e os personagens são anarquistas graças a Deus e subvertem a ordem constantemente: - Iracema, como é mesmo o nome da rosa? E onde estão guardadas as memórias de Brás Cubas? Onde foi a mulher de 30 anos? Foi encontrar os três mosqueteiros? Ou foi buscar os três camaradas no analista de Bagé? - NÃO SABEMOS, gritam as meninas. E não vamos, após cem anos de solidão, limpar o cortiço. E também não mostraremos o livro: homem: manual de proprietária, nem que o coronel e o lobisomem tragam o cavalinho de platiplanto. Pois é só para mulheres... - Que confusão! Isso é um jogo de fiar ou o jogo da amarelinha? Os personagens se agitam. Os poemas chineses estão soltos no ar. Sei que todos os homens são mortais, principalmente o carteiro e o poeta. E convido: - Venha Benjamim. Venha o estudante, a Clarissa, um certo capitão Rodrigo, os capítães de areia, a velhinha de Taubaté, o Jeca Tatuzinho e São Bernardo. - Venha antes que o sol acabe, e as vidas secas fujam com o tempo e o vento. E o amante, a estranha máquina extraviada, após a meia noite e um quarto, como um gigolô das palavras, se vá... - Sei que todos os homens são mortais... mas não os que lêem!!! Uma professora maluquinha Sueli Bortolin |
LIVROS CITADOS
Livro Lygia Bojunga Nunes As palavras Jean Paul Sartre Insustentável leveza do ser Milan Kundera Todos os homens são mortais Simone de Beauvoir Romeu e Julieta William Shakespeare A história sem fim Michael Ende Anarquistas, graças a Deus Zélia Gattai Iracema José de Alencar O nome da rosa Umberto Eco Memórias póstumas de Brás Cubas Machado de Assis A mulher de 30 anos Honoré de Balzac Os três mosqueteiros Alexandre Dumas Os três camaradas Erich Maria Remarque Analista de Bagé Luís Fernando Veríssimo As meninas Lygia Fagundes Telles Cem anos de solidão Gabriel Garcia Marques O cortiço Aluisio Azevedo Homem: manual da proprietária Carlos Queiroz Telles O coronel e o lobisomem José Cândido de Carvalho O cavalinho de platiplanto J.J.Veiga Só para mulheres Sonia Hirsch Jogo de Fiar Patrícia Bins O jogo da amarelinha Julio Cortazar Os poemas chineses Cecília Meirelles Todos os homens são mortais Simone de Beauvoir O carteiro e o poeta Antonio Skarmeta Benjamim Chico Buarque O estudante Adelaide Carraro Clarissa Erico Veríssimo Um certo capitão Rodrigo Erico Veríssimo Capitães de areia Jorge Amado A velhinha de Taubaté Luis Fernando Veríssimo O jeca tatuzinho Monteiro Lobato São Bernardo Graciliano Ramos Antes que o amor acabe Patrícia Bins Vidas Secas Graciliano Ramos O tempo e o vento Erico Veríssimo O amante Marguerite Duras A estranha máquina extraviada J.J.Veiga Meia noite e um quarto Martha Medeiros Gigolô das palavras Luis Fernando Veríssimo Todos os homens são mortais Simone de Beauvoir Uma professora maluquinha Ziraldo Alves Pinto Sueli Reinaldo Santos Neves
Sugestão de Leitura:
FOUCAMBERT, Jean. A leitura
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1983.
PENNAC, Daniel. Como um romance. 4.ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura na escola e na biblioteca. Campinas: Papirus, 1986.