BIBLIOTECA ESCOLAR


  • Discussões, debates e reflexões sobre aspectos gerais e específicos da Biblioteca Escolar.

BIBLIOTECA ESCOLAR, ATO CONTÍNUO

O assunto Biblioteca Escolar e Leitura têm ocupado muito a mídia nos últimos meses, tanto a impressa quanto a televisiva.

 

Alguns jornais publicaram, com ênfase, resultado de uma ação fiscalizatória, de rotina, por parte do Conselho Regional de Biblioteconomia 8ª Região, nas escolas estaduais paulistas, sobre a questão Biblioteca Escolar: as que não tinham e as condições das que estavam em funcionamento, cujos comentários já foram devidamente tecidos pela co-autora dessa coluna no mês de julho passado. Portanto, seria redundância fazê-los novamente.

 

Algumas revistas, específicas de educação, portanto voltadas para professores e educadores de um modo em geral, também nos fartaram e ainda trazem abundantes e bem feitas matérias sobre o tema; emissoras de tv começam a fazer suas próprias enquetes em municípios da Grande São Paulo a fim de levantar quais os principais problemas enfrentados pelos munícipes da região, e repassam aos candidatos a prefeitura, para que se manifestem a respeito.

 

Infelizmente, o item EDUCAÇÃO não tem ocupado a 1ª colocação, na maioria dos locais pesquisados. Daí podemos ousar concluir que a leitura, em sua macro concepção, não atinge sua população ou, visto de outro ângulo, a população não tem acesso pleno à leitura.

 

Pois quando falamos dessa macro leitura, não nos referimos apenas à leitura de livros, revistas e jornais, recursos que devem ser diretamente trabalhados nas Bibliotecas, e sim, de uma leitura de vida, de necessidades, de mundo e é por meio da EDUCAÇÃO que um povo pode ter essa visão.

 

Muitos artigos tratam da questão do baixo índice de leitura do brasileiro: “Brasileiro lê 4,7 livros por ano... e também não costumam comprar muitos livros...” - Revista Língua, ago 2008, n.34; “...num país que tem boa parte da população composta de não-leitores que preferem ver televisão, ouvir música e rádio ou descansar em vez de ler, a tarefa de valorizar e estimular a leitura exige determinação e exemplo dos educadores...” - Revista Nova Escola, ago 2008; “O brasileiro lê pouco. Pelas contas da Câmara Brasileira do Livro, a cada ano a média não chega a dois livros por habitante...” - Revista Pátio, fev/abr 2008, n.45., e outras fontes mais poderíamos citar.

 

Como já mencionado em artigo anterior, há muito está se falando e tratando desse tema, tão importante, mas ao mesmo tempo, tão difícil de ser administrado por nossos governantes. Os próprios órgãos públicos efetuam estatísticas, mas as ações ainda são tão ineficazes e somente pontuais, sazonais, eleitorais e outros ais.

 

Desde que me conheço por gente e que a minha memória permite lembrar, quando travei um primeiro contato com política, o que ouvia de meus pais era o seguinte: “o governo não tem interesse em fornecer educação para o povo, pois povo educado é povo perigoso.” Na época aquela frase me dava um certo medo, hoje tenho ojeriza e sinto muito pois ainda patinamos demais. Tenho a sensação de que quando conseguimos progredir em 10 passos, temos que voltar 5 e o resultado desse aprendizado é ínfimo.

 

Quando tratamos sobre leitura, o primeiro problema já está no professor, pois muitos não possuem o hábito da leitura. O professor precisa ler e muito, para não ser um agente fraco e desacreditado. Para incentivar o prazer pela leitura, é necessário, antes de qualquer ação, ser leitor. E o que pode parecer óbvio não é, diante de tantas estatísticas de baixa leitura no país, diante de tantos problemas com a escrita dos alunos, que as escolas, também as particulares, vêem enfrentando atualmente. Os professores têm muitas dificuldades, e alguns também desconhecimento, de como fazer com que os alunos se apropriem da escrita e da leitura em cada série por que passa.

 

A falta de ”rotina de leitura” se aplica também e infelizmente a muitos profissionais bibliotecários, que não costumam ler nem jornais e isso é preocupante à medida que devem mediar a leitura e a informação aos usuários de sua biblioteca.    

 

O bibliotecário escolar é um dos agentes da transformação e espera-se dele uma atuação positiva enquanto mediador. A formação de mediadores é estratégica para ajudar a expandir as ações em prol do aumento de leitores.

 

“Virando o disco”, vamos nos deter nas ações que funcionam e dão frutos, que lutam contra a maré e conseguem chegar “ao ponto”. Nos concentremos nas BEs existentes que precisam ampliar seus serviços, marcar território nas instituições a que pertencem, cumprir seus objetivos,etc. 

 

No artigo anterior começamos a delinear, seguindo os preceitos ditados pela UNESCO,  como deve ser uma Biblioteca Escolar.

 

Após a parte conceitual, dos objetivos e papel, veremos a Estrutura Organizacional, a qual  deve ser estabelecida de acordo com os objetivos e estratégias delineadas para o seu funcionamento. Dois são os pontos fundamentais para que essa estrutura funcione: os objetivos previamente definidos e os recursos humanos, embora outros três pontos são também muito importantes: recursos físicos, financeiros e ambientais. A boa e correta utilização e administração desses recursos influenciará diretamente no perfil que a Biblioteca Escolar terá. 

 

Consideramos esses 5 pontos, os pilares ideais para uma Biblioteca Escolar bem organizada; entretanto, poderíamos citar vários exemplos de Bibliotecas que não conseguem ou não podem ter todos esses aspectos atendidos e assim mesmo, desenvolvem um trabalho com qualidade e eficácia, atingindo os objetivos propostos. A criatividade, quase sempre, supera a falta de verbas ou pessoal. O bibliotecário à frente da Biblioteca Escolar precisa se municiar de alguns instrumentos para validar essa estrutura, por mínima que seja, que são: a) um regulamento contendo normas e regras básicas para uso do espaço e recursos da BE, que seja bem elaborado e de acordo com as normas da Instituição a que pertence; b) formulários estatísticos que permitirão avaliar serviços, recursos e pessoal; c) relatórios que são peça-chave no gerenciamento de uma biblioteca. Um  relatório bem elaborado pode funcionar como um verdadeiro banco de dados de uma biblioteca. O relatório sedimenta o trabalho do bibliotecário e com base nas estatísticas efetuadas, pode refletir situações nas áreas de recursos humanos, acervo, serviços meio, usuários, etc.; d) a administração do orçamento da BE é de suma importância, pois dá ao bibliotecário maior autonomia. É fundamental ter-se um orçamento próprio e gerenciá-lo de forma autônoma. Algumas BEs o fazem, porém outras, creio que a maioria, ainda dependem de outros setores da escola para efetuar as aquisições da BE. Porém, esse não deve ser o impeditivo para o bom desempenho das funções da BE.

 

Não entraremos no mérito da área pública, pois o serviço de aquisição segue todos os trâmites inerentes a uma administração pública.

 

Um serviço bastante utilizado pelas bibliotecas que não possuem orçamento próprio ou onde o mesmo é exíguo: os bibliotecários lançam mão de campanhas de doação, junto a comunidade escolar ou do entorno, orientando, inclusive, em quais condições os livros e outros recursos podem e devem ser encaminhados para que sejam aceitos em doação. Temos conhecimento de que em alguns municípios paulistas, essa campanha atinge também as indústrias ali instaladas, onde familiares de funcionários e/ou de alunos trabalham. É sempre um motivo de festa quando os livros chegam, são processados e emprestados para os alunos e seus familiares.

 

A captação de recursos para o desenvolvimento dos serviços deve ser de responsabilidade do profissional bibliotecário.

 

Outros ítens, igualmente importantes, para o ideal funcionamento de uma BE é o seu lay-out e o mobiliário adequado.

 

O planejamento do espaço da BE deve ser feito em função de seu acervo e dos serviços que se propor a prestar. As BEs bem estruturadas já dispõem de uma área considerável o suficiente para diferentes ambientes e acervos. São modernas, arrojadas e funcionais. Outras ainda são mais tradicionais, com estantes antigas, em madeira, de uma face só, as quais necessitam de paredes para apoio. Tanto uma quanto outra precisam de atrativos para atrair sua clientela. À primeira vista, poderíamos supor que Instituições Particulares de Ensino, com maiores e melhores condições financeiras devam possuir grandes e amplas bibliotecas. Infelizmente ainda não é essa a realidade. São muitos os  colégios particulares que nem sequer tem uma biblioteca, como a definição assim o exige. São espaços arranjados e adaptados para receber acervos variados e tentar “constituir” uma biblioteca.

 

Em contrapartida, encontramos escolas menos abastadas, financeiramente falando, porém com altíssimo nível de criatividade, que racionalizam espaços e conseguem tornar a biblioteca aconchegante, chamativa, com decoração apropriada às diferentes faixas etárias e adequada ao ambiente, proporcionando um trabalho lúdico de qualidade.

 

À medida das possibilidades, a BE precisa ser ampla, arejada, sem umidade ou calor excessivo, dentro dos padrões previstos em lei, clara, com acessibilidade e que permita uma limpeza e higienização rápida e fácil.

 

A preocupação com o espaço deve visar, especialmente, as crianças menores, que estão em idade de descobrir o prazer em ouvir as histórias contadas ou lidas pelos professores e/ou bibliotecários.

 

Devemos considerar mobiliário, as estantes de diferentes tipos e formatos, arquivos, armários, fichários, mesas de trabalho e de leitura, cadeiras, balcões, mesas para computadores, etc.

 

Embora existam normas internacionais que regulam a distribuição do mobiliário numa biblioteca, é necessário que se tenha o bom senso e o mínimo de conhecimento no momento do planejamento para aquisição desse mobiliário e seu conseqüente posicionamento nos devidos espaços. Lembrar sempre que a BE é um espaço compartilhado pela comunidade escolar, daí a necessidade de que ela seja equipada com móveis adequados, confortáveis, seguros, práticos, de forma a facilitar a circulação.

 

Num ambiente mais infantil, móveis coloridos são fortes atrativos para a garotada. Tapetes e almofadas, principalmente as que são em formato de bichos, sugerem acolhimento e tornam a hora do conto ou da leitura muito mais prazerosa e divertida, deixando nos alunos a vontade de retornar.

 

Nesse aspecto são inúmeras as possibilidades, mesmo sem muita verba para isso, como por exemplo usar caixotes/engradados de verduras, que após uma boa limpeza e uma bela pintura, colorida, que as crianças maiores mesmo podem executar, numa aula de artes, ao ar livre, se tornam belos repositórios de livros e coleções infantis.

 

Os móveis devem ser compatíveis ao tipo de recursos existentes na biblioteca e adequados ao público que atende.

 

Quando e onde o espaço permitir, a BE precisa oferecer local para estudos em grupos e individual, ou então usar o artifício que muitas já o fazem, que é o agendamento para uso da biblioteca, quer seja com o professor ou o aluno sozinho, dependendo das circunstâncias.

 

BEs mais modernas e que contam com verbas específicas para diferentes necessidades, possuem também vários Equipamentos facilitadores na recuperação e disseminação das informações. Equipamentos esses importantes no dia-a-dia para a aula de biblioteca, para atividades especiais atraentes aos alunos, e apresentação de trabalhos por parte do corpo discente da escola.

 

Esses equipamentos variam muito de lugar para lugar, entretanto alguns se tornam imprescindíveis: computadores com acesso à Internet e ao catálogo eletrônico; DVD e filmes adequados às diversas faixas etárias e também que atendam aos projetos de cada série; rádio-gravador com CD ou outras mídias mais atualizadas; máquinas fotográficas, para registro das atividades e posterior divulgação; fantoches e fantasias, que ilustram as histórias contadas, narradas ou representadas, sempre procurando envolver o aluno; projetor multimídia e na impossibilidade deste, um retroprojetor também pode auxiliar na projeção de imagens, etc.

 

No aspecto equipamentos, também cabe a criatividade e há ainda, a possibilidade de locação dos mesmos, lembrando que são artifícios para melhorar a disseminação da informação, o desenvolvimento do prazer pela leitura e sendo assim, não devem ser usados como desculpa ao deixar de oferecer um determinado serviço por não tê-los.

 

A Revista Profissão Mestre do mês de julho de 2008, na pág.30, traz pequenas e simples dicas para motivar a leitura entre os alunos. Uma delas é a seguinte: - “sua escola tem equipamento de vídeo? Com uma simples câmera digital você pode fazer um filme em que os alunos e funcionários recomendam seus livros preferidos ou contam o enredo dos mesmos. Todo mundo vai participar!” (MB).


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MARILUCIA BERNARDI

Formada pela PUCCampinas. Atualmente elabora projetos para formação de Biblioteca Particular (Pessoal), oferece apoio a Bibliotecas Escolares e é aluna da Faculdade da Terceira Idade, da UNIVAP, em Campos do Jordão. Ministrou aulas de Literatura e Comunicação, por dois anos, na Faculdade da Terceira Idade. Atuou na Escola Estadual Prof. Theodoro Corrêa Cintra, em Campos do Jordão, pela ONG AMECampos do Jordão. Trabalhou na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo; na Metal Leve; chefiou a Biblioteca da Faculdade Anhembi-Morumbi e foi encarregada da biblioteca do Colégio Santa Maria. Possui textos publicados e ministrou diversas palestras sobre Biblioteca Escolar.?

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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior