BIBLIOTECA ESCOLAR


  • Discussões, debates e reflexões sobre aspectos gerais e específicos da Biblioteca Escolar.

SERVIÇOS ESSENCIAIS NA BIBLIOTECA ESCOLAR

Deixando um pouco de lado as questões Salas de leitura, ausência de profissional bibliotecário nas Escolas Públicas e ainda a incapacidade dos governos municipal e estadual paulista resolverem essa problemática, vamos retomar o caminho das bibliotecas escolares que funcionam.

Essa retomada de caminho é necessária e fundamental para alavancar e auxiliar as frentes de batalha que foram criadas para “atacar” as questões já, intensamente, identificadas. Tanto no âmbito regional quanto no federal, os conselhos estão unidos numa tarefa que é levar ao poder público de cada estado as necessidades básicas para um bom, perfeito e ideal funcionamento de uma biblioteca escolar, assim como apresentar sugestões para a possível solução do problema.

E falar de bibliotecas escolares que funcionam, mostrar serviços que devem e podem ser executados, é essencial para exemplificar que na área pública também pode acontecer, só falta vontade política.

A título de revisão elencamos os temas já abordados neste espaço, em meses anteriores, que norteiam o funcionamento de uma biblioteca escolar: 1) conceituação; 2) objetivos; 3) missão; 4) papel; 5) público-alvo; 6) estrutura organizacional; 7) regulamento; 8) formulários estatísticos; 9) relatórios; 10) orçamento; 11) lay-out; 12) mobiliário; 13) equipamentos; 14) perfil do bibliotecário numa biblioteca escolar; 15) organização e gerenciamento; 16) formação e atualização de acervo.

Os serviços acima citados são basicamente administrativos; precisam estar em conformidade com as normas estabelecidas pela instituição a qual a biblioteca escolar faz parte, e também devem estar aliados aos serviços culturais e aos pedagógicos, funções precípuas de uma biblioteca escolar. Podemos considerar, inclusive, que estes últimos serviços não funcionam bem sem aqueles, ou seja, para que a biblioteca possa oferecer um leque de trabalhos pedagógicos, indo ao encontro dos projetos de sala de aula, é fundamental que ela tenha uma estrutura bastante organizada

Para uma biblioteca escolar ter uma estrutura bastante organizada não significa, necessariamente, ter muitos recursos. Aí entra muito a criatividade e disponibilidade de quem a gere.

Numa biblioteca escolar podemos separar os serviços em 3 categorias, a saber: os administrativos, os técnicos e os pedagógicos. Os administrativos já foram abordados, conforme citado acima; os técnicos são os pertinentes a qualquer tipologia de biblioteca: classificação, catalogação, indexação de artigos de periódicos, hemeroteca; tendo sempre o cuidado com a linguagem documentária, ou seja, estabelecendo critérios para a organização e confecção, se necessária, de cabeçalhos de assunto.

O processamento técnico merece uma análise atenta do bibliotecário escolar, pois é por meio desse serviço que a informação será melhor e mais rapidamente recuperada e o usuário atendido. Em se tratando de acervo escolar, o cuidado precisa ser redobrado pois nessa fase a comunicação entre o usuário e a fonte de informação é feita, quase sempre, de forma indireta, por meio do bibliotecário, que o ensinará a utilizar as ferramentas necessárias para alcançar o objeto da busca – a informação, o livro, a enciclopédia, etc.

Cada biblioteca deve ter estruturados os seus mecanismos de representação documentária, de modo a atender prontamente às suas necessidades e às de seus usuários. Muitas bibliotecas ainda utilizam a CDD para classificar todos os livros, inclusive os infanto-juvenis; já outras podem se beneficiar de tabelas de classificação mais modernas; outras ainda organizam o acervo infanto-juvenil utilizando-se de letras como F para designar a ficção e FI para a ficção infantil, deixando a categorização fornecida pela CDD para os livros paradidáticos, de apoio pedagógico, de referência, etc; e há aquelas que organizam os infanto-juvenis por cores, ou seja, os livros para cada série, são identificados, nas estantes, com uma etiqueta colorida na lombada e dessa forma são melhor localizados pelos alunos.

Quanto a catalogação, que descreve os dados referentes a um documento para sua identificação, conteúdo e localização, creio que a maioria das bibliotecas utilizam o AACR2 – Código de Catalogação Anglo Americano.

Atualmente são poucas as bibliotecas escolares, em pleno funcionamento, que ainda se utilizam de fichas catalográficas tradicionais para a recuperação da informação. A maioria já tem seu catálogo eletrônico, com sistemas informatizados de gerenciamento adequado à sua realidade e necessidades.

A hemeroteca, coleção de recortes de jornais e revistas separados por assunto, ainda é muito utilizada nas bibliotecas escolares, embora os bancos de dados de muitos jornais e revistas já estejam disponibilizados na Internet, podendo ser acessados caso a biblioteca seja assinante dos mesmos, por meio do código de assinante. O mais importante, porém, na hemeroteca, é a sua atualização. Requer trabalho contínuo e específico.

O conhecido cabeçalho de assunto é muito valioso na recuperação da informação, porém precisa ser bem e claramente definido para não se tornar geral demais dificultando a recuperação até mesmo para o bibliotecário e funcionários da biblioteca.

É muito comum o aluno procurar por um assunto, específico demais, que esteja localizado num livro de química, por exemplo. Mas ele não encontrou por esse descritor, foi necessário localizar os livros de química para que ele procurasse pelo índice ou sumário. Pois bem, na biblioteca escolar, principalmente, é necessário perceber, sentir, como os alunos irão procurar determinados temas; como estão sendo solicitados em sala de aula, e assim o bibliotecário vai se adequando melhor, e criando novos descritores para um mesmo livro.

Existem bibliotecas escolares que se dedicam mais ao desenvolvimento da pesquisa escolar, outras dão maior ênfase ao incentivo ao prazer da leitura, e tem aquelas que agregam esses dois trabalhos e muito outras modalidades nas chamadas aulas de biblioteca, consideradas totalmente pedagógicas.

As aulas de bibliotecas precisam ter um projeto específico, levando-se em conta o projeto macro da biblioteca; precisam ser planejadas de acordo com as necessidades levantadas em sala de aula para que estas complementem aquelas; precisam ter um desenvolvimento e avaliação.

Em muitas escolas, essas aulas já fazem parte da grade curricular, são consideradas como disciplina especialista, e são ministradas pelo próprio bibliotecário; auxiliar da biblioteca, com formação em pedagogia; o auxiliar de biblioteca, sem formação específica ou ainda pelo professor da classe, que se desloca até a biblioteca para a contação de história ou outra atividade que tenha planejado fazer, usando, como suporte, o acervo da biblioteca.

Podemos considerar, dessa forma, que temos as aulas de biblioteca diretas e indiretas. As diretas são ministradas por profissionais da biblioteca; já nas indiretas o professor se utiliza do espaço e serviços da biblioteca. Em ambos os casos, além de muito louvável, são inúmeras as atividades que podem ser desenvolvidas. Apenas para citar algumas: hora do conto; momento da poesia; bingo de autores e títulos; jogos de adivinhação, tendo-se por base parte do conteúdo de uma história; teatro de fantoches; teatralização da história contada ou lida; orientação à pesquisa escolar; orientação de estudos; troca de gibis; dicas sobre o livro lido que mais gostou; biografia do autor; autor do mês no mural da sala de aula de biblioteca e trabalha-se com os livros dele; etc.

Ainda dentro dos serviços pedagógicos, existe outro leque de serviços culturais necessários e altamente recomendáveis para bibliotecas escolares, tais como: feira de livros; encontro com o autor, fantástica oportunidade para o aluno ter contato com o escritor ou escritora cujo livro leu e o despertou para o mundo da leitura; concurso de poesias; comemoração de datas importantes, cívicas ou didáticas; sarau literário; exposições temáticas, que podem ser apenas para visitação ou onde os usuários podem interagir, ativamente, com o ambiente de exposição; etc.

Em muitas escolas, essas exposições podem ser feitas não somente no âmbito interno da instituição, mas também, dependendo da atividade proporcionada e da estrutura da escola, ser estendida à comunidade externa.

A pesquisa escolar e a referência bibliográfica são outros dos serviços que muitas bibliotecas escolares já desenvolvem, e também são muito importantes.

A pesquisa escolar é uma maneira de estudar, aprender e adquirir conhecimento. Nas séries iniciais se usa mais o termo coleta de dados, para depois, nos 4°s ou 5°s anos, dependendo de cada escola, aprender, realmente, o que é pesquisar e partir desde a escolha do assunto, até a apresentação do trabalho finalizado, com a devida bibliografia. E esse trabalho deve ter o acompanhamento do bibliotecário, de algum funcionário da biblioteca ou mesmo do professor de sala, ou, melhor ainda, que seja mais um trabalho de parceria biblioteca e sala de aula.

O ensino de como fazer uma bibliografia, assim como a pesquisa escolar, precisa ser iniciado, primeiramente, com os professores, os quais na sua maioria, desconhecem como proceder. Essa orientação deve partir da biblioteca, que possui maiores e melhores informações de como realizá-la.

Numa biblioteca escolar não pode faltar o serviço de divulgação ou marketing, cuja função é o de combinar a capacidade do serviço com as necessidades dos usuários, de forma a gerar uma ação proveitosa e retorno em termos de ganho e troca de valores com a comunidade da escola. A divulgação do que a biblioteca representa e serviços que oferece é parte de um processo que vai determinar o interesse da instituição naquele ambiente.

Nessa área podemos citar alguns exemplos práticos usados para a divulgação da biblioteca escolar: boletim informativo, que atualmente está sendo elaborado via intranet, ou seja, nos locais, dentro da escola, onde haja acesso por parte do cliente interno e via e-mail, para os professores e orientadores; divulgação das novas aquisições por meio do boletim intranet e também pela exposição de cópias das capas dos livros recém adquiridos; lista dos títulos novos, em forma de referência bibliográfica, encaminhadas aos orientadores/coordenadores de área para que estes circulem entre seus professores; divulgação seletiva dos títulos para os professores especialistas; divulgação na página WEB da escola, que deve ter uma área somente para a biblioteca, e apresentar sugestões de leitura do mês, fazendo escaneamento das capas; etc.

Uma outra experiência, interessante e gratificante, que atrai público e divulga a biblioteca é o trabalho realizado com a família. A biblioteca promove um encontro de Escritores na Família, onde os pais, tios, avós, etc, que tenham tido a oportunidade de publicar livros, possam estar reunidos numa feira de livros e até disponibilizarem esses livros para a venda ao público. É uma atividade onde o aluno participa muito, com muito gosto e traz a família inteira.

Todos os serviços acima citados devem fazem parte de uma biblioteca escolar, além, é claro, do serviço de empréstimos e atendimento em geral.

Em qualquer tipo de biblioteca, com ou sem acervo aberto, o atendimento bem feito, personalizado, com critérios, com conhecimento, e acima de tudo, com atenção, é o seu cartão de visitas.

O atendimento é tão importante ou mais que os demais serviços, pois ele permitirá e medirá a freqüência do aluno na biblioteca escolar, assim como o nível de aprendizado que ele conseguirá obter por meio dos serviços oferecidos.

Cada vez mais é necessário que os funcionários da biblioteca escolar sejam, de fato, mediadores e promotores da leitura; sejam partícipes no processo de aprendizagem e aquisição de conhecimento; estejam engajados na missão da instituição e da biblioteca; se reciclem periodicamente afim de poderem atuar, direta e ativamente na formação de leitores críticos que seguirão vida afora buscando ampliar suas experiências por meio da leitura.

A biblioteca escolar é o ponto de partida, o marco inicial da vida acadêmica do indivíduo, e, sendo assim, é o que ele adquirir e aprender nessa fase, que o fará lembrar e o alimentará, culturalmente, em toda a sua vida adulta. (MB)


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MARILUCIA BERNARDI

Formada pela PUCCampinas. Atualmente elabora projetos para formação de Biblioteca Particular (Pessoal), oferece apoio a Bibliotecas Escolares e é aluna da Faculdade da Terceira Idade, da UNIVAP, em Campos do Jordão. Ministrou aulas de Literatura e Comunicação, por dois anos, na Faculdade da Terceira Idade. Atuou na Escola Estadual Prof. Theodoro Corrêa Cintra, em Campos do Jordão, pela ONG AMECampos do Jordão. Trabalhou na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo; na Metal Leve; chefiou a Biblioteca da Faculdade Anhembi-Morumbi e foi encarregada da biblioteca do Colégio Santa Maria. Possui textos publicados e ministrou diversas palestras sobre Biblioteca Escolar.?

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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior