BIBLIOTECA ESCOLAR


  • Discussões, debates e reflexões sobre aspectos gerais e específicos da Biblioteca Escolar.

ALFABETIZAÇÃO INFORMACIONAL

Alguns temas estão na moda: “information literacy” é um deles que, traduzido livremente, daria literacia informacional.

 

O que isto quer dizer? O meu Aurélio – que não é dos mais recentes – não traz esse verbete; mas, por aproximação, posso intuir ou até deduzir que se refere a letramento, isto é, alfabetização como sendo “ação de alfabetizar, de propagar o ensino da leitura”. Entretanto, como a alfabetização é informacional, neste caso, desloca-se o eixo do texto para a informação, qualquer tipo de informação, relacionada com qualquer sujeito, independentemente de idade ou de classe social.

 

Há décadas atrás, falava-se em educação do usuário, pela qual o profissional da informação – o educador – seria a pessoa mais indicada para, no recinto da biblioteca, do arquivo ou do museu, orientar esse usuário a usufruir melhor do que lá era oferecido/disponibilizado em termos de suportes, formas e conteúdos de leitura, com ênfase em textos gráficos. Conseqüentemente, essa orientação estava ligada ao uso do espaço físico, das instalações e das coleções, mas também ao convívio adequado com os demais usuários, o que se esperava do usuário “educado” nesses moldes.

 

Posteriormente, o conceito foi ampliado, ao se verificar que ele não dava conta e deixava de fora a desejável autonomia do mesmo usuário ao se deparar com um acervo complexo, com o qual ele apresentava dificuldades de interação. Assim, percebeu-se que, com o eixo deslocado para a informação, na abordagem agora mais envolvida com as tecnologias, foi necessário orientar e ensinar o usuário a lidar com o universo ao mesmo tempo conhecido e desconhecido da informação presente/manifesta ou ausente/virtual.

 

Nesse sentido, essa faceta do bibliotecário ganhou nova acentuação e nova responsabilidade, porque orientar-ensinar como lidar com a informação, desde supor onde ela possa estar no repositório local ou distante (muito ou pouco) até recuperá-la e organizá-la em benefício próprio, pode ser uma tarefa aparentemente hercúlea para quem necessita dela, seja uma criança ou um adulto.

 

É mais provável e mais comum que o que chamamos de “information literacy” ou entendemos como alfabetização informacional seja mais adequado para usuários da informação ainda noviços, de pouca idade ou de níveis elementares de escolaridade. Mas, pode se direcionar para pessoas sem convívio com centros de informação, por falta de oportunidade, mesmo que já estejam na fase adulta. No nosso país, o leque de tais contingências é abrangente e deixa o bibliotecário ou outros profissionais da informação em situações de “saia justa”.

 

Com tal percepção e em várias partes do mundo, está sendo discutido esse ângulo das competências e da formação do profissional. Pergunta-se: a nossa formação engloba o aspecto de capacitar os alunos, no sentido de orientar o usuário “a buscar, avaliar, utilizar e criar informação eficazmente com o fim de conseguir suas metas pessoais, sociais, ocupacionais e educativas?”.

 

Vejamos: os cursos de Ciência da Informação (Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia), no Brasil, até onde me é dado saber, não estão formando os formadores de usuários, com vistas aos aspectos didático-pedagógicos da questão; não incorporam disciplinas da área da educação que facilitem essa importante vertente de atuação.

 

Lembro-me que, angustiada com essas questões, troquei idéias a respeito com pessoas que, na minha opinião, tinham gabarito para discutir “a formação dos formadores” e que me diziam: não é necessária essa instrumentalização para o docente, pois a própria prática e os exemplos (os bons) vão conformá-lo para isso. Minha aceitação do argumento não era tranqüila; e o tempo foi passando.

 

Houve uma época em que até cheguei – ingenuamente – a organizar uma Jornada Pedagógica de Biblioteconomia: um fracasso, pela falta de interesse dos colegas da própria casa. E poucos participantes de fora.

 

Com tudo isso, quero dizer que a angústia que trago comigo encontrou eco numa reunião até certo ponto restrita que aconteceu há poucos dias na Escola de Comunicação e Artes/USP, em que, nos debates, essa questão veio à baila, explicitada nos seguintes termos: 1- o formador do usuário não é formalmente formado, 2- o usuário da informação não tem quem o forme/eduque competente e eficazmente, 3- a alfabetização informacional e a decorrente autonomia em relação aos estoques informacionais, estejam eles onde estiverem, provavelmente deixam incólumes e à deriva os usuários que não têm maior traquejo.

 

Uma coluna dedicada à biblioteca escolar é o lugar certo para levantar esta questão, atinente aos cursos de graduação, de especialização ou de educação continuada. Porém, como cada profissional é também responsável pelo seu próprio encarreiramento, é preciso que esse seja um ponto estratégico para ser debatido entre as partes envolvidas.

 

Os recém-terminados Fórum Internacional sobre Bibliotecas Escolares e o 4º Seminário Bibliotecas Escolares, evento conjunto realizado em São Paulo, evidenciou uma fantástica demanda reprimida e levantou questões da maior relevância. Não podemos esquecer que a nossa profissão nos prepara para servir: de um lado está o incomensurável estoque de informações e, de outro, o usuário que precisa, que deseja e que busca encontrar informações. No afã de servir, deveremos estar capacitados para promover o encontro entre ambos; não só promover o encontro, mas orientar, preparar e oferecer condições para o usuário ganhar autonomia nesse processo de busca e resgate da informação – seja ele criança ou adulto – no sentido de que saiba como atingir “suas metas pessoais, sociais, ocupacionais e educativas” que envolvem permanentemente a informação.

 

Todavia, essa não é uma cadeia espontânea ou aleatória. Na minha opinião e pela experiência profissional, depende de uma formação mais direcionada, específica, entendida como “formação do formador”, que ultrapassa o terreno da disciplina “Estudo do Usuário”, embora tenha tudo a ver com ela. (MHTCB)


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MARILUCIA BERNARDI

Formada pela PUCCampinas. Atualmente elabora projetos para formação de Biblioteca Particular (Pessoal), oferece apoio a Bibliotecas Escolares e é aluna da Faculdade da Terceira Idade, da UNIVAP, em Campos do Jordão. Ministrou aulas de Literatura e Comunicação, por dois anos, na Faculdade da Terceira Idade. Atuou na Escola Estadual Prof. Theodoro Corrêa Cintra, em Campos do Jordão, pela ONG AMECampos do Jordão. Trabalhou na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo; na Metal Leve; chefiou a Biblioteca da Faculdade Anhembi-Morumbi e foi encarregada da biblioteca do Colégio Santa Maria. Possui textos publicados e ministrou diversas palestras sobre Biblioteca Escolar.?

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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior