BIBLIOTECA ESCOLAR


  • Discussões, debates e reflexões sobre aspectos gerais e específicos da Biblioteca Escolar.

BIBLIOTECA ESCOLAR: ENTRE A PRÁTICA, A NÃO-PRÁTICA E A POLÍTICA PÚBLICA

Os poucos bibliotecários que estão à frente da biblioteca escolar – os legítimos profissionais – sabem como atuar, conhecem o “métier”, estão preparados e associam o preparo à instituição que lhe é própria. O resultado, em geral, é bom e a sua prática é adequada e satisfatória.

 

Entretanto, precisamos lembrar que existem também aqueles que atuam sem o suporte da formação, sem preparo, e que, às vezes, nem tiveram a chance de optar por este ou aquele posto de trabalho. Sendo assim, exercem a “anti-atuação” na biblioteca, inadequados e insatisfatórios, agindo mal em todos os sentidos, principalmente por falta de informação, de orientação e de supervisão. A isso podemos chamar de “não-prática”, por ser tudo que não deveria caracterizar a prática em biblioteca escolar.

 

Num outro aspecto, temos as diretrizes da IFLA/UNESCO que, por meio do Manifesto para a Biblioteca Escolar, declara o fundamento filosófico que norteia e tem norteado essa biblioteca, em abrangência internacional.

 

Em nível nacional, regional ou estadual, essa filosofia é expressa em políticas públicas (ou, até mesmo, pela ausência delas); adaptada ou adequada a cada situação, com mais ou menos rigor, de acordo com o que coincide com as idéias/a ideologia de autoridades e governantes. Isso, na prática, vai significar que não existe uma uniformidade de entendimento, de aceitação, de ações e de políticas. Inclusive no Brasil; em cada estado e em cada município.

 

Estudos históricos e sociológicos nos mostram que a leitura (primeiro) e a informação (posteriormente) tiveram pouco destaque na nossa formação e na nossa cultura. É tudo muito novo. Daí a intensidade que se imprime às campanhas por mais leitura, mais leitores, mais informação, tentando encontrar atalhos que melhorem o desempenho e os resultados do povo brasileiro, principalmente do alunado jovem.

 

Outros estudos e matérias da mídia nos mostram que a situação sócio-econômica de grande parte dos nossos estratos sociais interfere no processo de aproximação, acesso e aproveitamento do material disponível de informação e leitura. De conhecimento, enfim.

 

Nos tempos mais recentes, talvez premidos pelos rankings nacionais e internacionais que dão conta dos baixos (baixíssimos) níveis de desempenho comparativo da grande maioria dos estudantes brasileiros, os Conselhos de Biblioteconomia vêm apontando as dificuldades do setor, como possíveis causas dessa situação caótica. Diferentemente de épocas anteriores, vêm apresentando propostas que, se adotadas, contribuiriam para promover a alteração desse quadro: acabou-se o tempo das mãos vazias, por parte das principais entidades representativas do setor ligado diretamente à informação, ao livro e ao conhecimento.

 

Então, de um lado temos a movimentação das entidades ligadas aos profissionais que vêem, com aflição, o hiato existente para os estudantes, em relação a outros tipos de bibliotecas, o que causa danos e perdas no processo de saber encontrar a informação necessária (até mesmo em textos literários e outras fontes), selecioná-la, organizá-la e fazer uso dela.. Essa falta de continuidade referida é danosa e imperdoável, porque é imputável, no mais das vezes, a quem toma as decisões como autoridade legislativa e/ou executiva.

 

No outro lado temos, então, o aparente desinteresse (ou algum possível interesse escuso dos tomadores de decisão) que impede ou dificulta que os “meninos de periferia”, por exemplo, tenham as facilidades desejáveis para usufruir das mesmas facilidades informacionais que os meninos e jovens das classes econômicas mais altas conseguem, até para dizerem “isto eu quero” e “isto eu não quero”. O que é questão de sobrevivência para uns é mera questão de opção para outros.

 

Em permanecendo, esse tipo de conflito fará, também, que sejamos eternos sub-desenvolvidos, ligados à sina de estarmos “deitados em berço esplêndido”.

 

Se é “de pequeno que se torce o pepino”, por que não se modifica essa situação? Sala de leitura nem é sinônimo, nem substitui a biblioteca escolar. Precisamos disponibilizar o melhor, na escola, pelo bem da educação dos jovens brasileiros.

 

Menino de bairro classe A não depende de biblioteca escolar de rede pública de ensino: se quiser, ele monta a sua própria biblioteca, conectada à Internet, porque tem poder aquisitivo para tanto, ou usa a biblioteca escolar de qualidade que, até como estratégia de marketing, o seu colégio oferece. Menino de periferia não tem condição de comprar os livros ou jornais que queira ou precise, nem de freqüentar o circuito cultural que, às vezes, desconhece e ao qual não tem oportunidade de acesso.

 

Acontece que, numericamente, o menino de periferia suplanta o menino de classe A. Tal situação acaba virando um absurdo deslavado e o País não se safa da posição inglória de sub-desenvolvido, de segundo ou de terceiro mundo.

 

Ensino sem informação e leitura não existe no mundo formal de hoje; e leitura, grosso modo, só existe em livraria, nas diversas modalidades, e na biblioteca, a começar pela biblioteca infantil e pela escolar, numa seqüência lógica e aplicada ao nível de escolaridade que acolha.

 

É preciso estar de olhos bem abertos e exercer a crítica necessária; se há bons projetos disponíveis, que se liguem as pontas: projeto-biblioteca escolar-bibliotecário (não individualmente, mas em regime de sistema constituído)-estudante usuário/comunidade ligada à escola, tendo como meta melhores resultados em termos de educação, conhecimento e desenvolvimento. (MHTCB).


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MARILUCIA BERNARDI

Formada pela PUCCampinas. Atualmente elabora projetos para formação de Biblioteca Particular (Pessoal), oferece apoio a Bibliotecas Escolares e é aluna da Faculdade da Terceira Idade, da UNIVAP, em Campos do Jordão. Ministrou aulas de Literatura e Comunicação, por dois anos, na Faculdade da Terceira Idade. Atuou na Escola Estadual Prof. Theodoro Corrêa Cintra, em Campos do Jordão, pela ONG AMECampos do Jordão. Trabalhou na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo; na Metal Leve; chefiou a Biblioteca da Faculdade Anhembi-Morumbi e foi encarregada da biblioteca do Colégio Santa Maria. Possui textos publicados e ministrou diversas palestras sobre Biblioteca Escolar.?

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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior