BIBLIOTECA ESCOLAR


  • Discussões, debates e reflexões sobre aspectos gerais e específicos da Biblioteca Escolar.

BIBLIOTECA ESCOLAR – O PROFISSIONAL FAZ A DIFERENÇA

Após tantas e tantas leituras sobre estatísticas do baixo nível de leitura no Brasil, creio, infelizmente, e sendo otimista, que ainda teremos um “bom chão” a percorrer para alterar esse quadro sinistro.

 

Assim que enviei o texto do mês de agosto para o Infohome, com citações de 2007 e 2008, portanto recentes, acabei por encontrar um periódico - Páginas Abertas, n.22, 2004, que continha um artigo intitulado: “Das pedras no caminho (ou dos sentidos da leitura)” e trata justamente da falta de leitura dos professores e menciona um livro que a UNESCO havia lançado naquela época contendo resultados de uma pesquisa sobre o perfil do professorado brasileiro, o que fazem, o que pensam, o que almejam...

 

O resultado demonstrou que grande número de professores não lê livros nem jornais, não tem acesso à internet, muito menos freqüenta espaços como teatros e cinemas. Excluído do acesso ao mundo da cultura e da leitura, como poderia esse professor estar minimamente preparado para “educar” outras pessoas?

 

Incrível, mas passados 4 anos, ainda nos debatemos sobre os mesmos pontos, ainda lemos as mesmas pesquisas e os mesmos pífios resultados e é aqui que faço um gancho para continuarmos nossa abordagem sobre como deve ser uma Biblioteca Escolar atuante, de acordo com os preceitos traçados pela UNESCO.

 

Já citamos no artigo anterior que a questão da má qualidade de leitura não é prerrogativa somente de professores, é também e infelizmente, de muitos bibliotecários e isso influi diretamente nos serviços prestados na BE.

 

Não tenho lembrança alguma e desconheço se há, efetivamente, uma pesquisa que tenha tratado sobre o perfil do bibliotecário, principalmente em Biblioteca Escolar. É sabido que as Faculdades de Biblioteconomia têm procurado acrescentar em seus currículos alguma disciplina que contemple conhecimentos dessa área, porém de nada adiantará se o estudante e futuro profissional não se cotizar, não se atualizar, não procurar se informar mais e melhor, pois a formação que a Faculdade lhe concede não será suficiente.

 

Fala-se muito da importância de ter na escola uma biblioteca que represente o centro de apoio  pedagógico da instituição de ensino e para tal é mister que o Bibliotecário também tenha um perfil adequado e um requisito imprescindível -  O A MOR PELO QUE FAZ.

 

Se o profissional for um apaixonado pela profissão e acreditar em si, com certeza fará a biblioteca acontecer.

 

O profissional diferenciado precisa ser ágil; dinâmico; pró-ativo; bem informado; diplomata; atualizado; audacioso; curioso; “antenado” em tudo o que se passa ao seu redor; “ter jogo de cintura” para driblar situações; ter um pouco de bruxo, sem perder a pose de fada; saber se relacionar com pares e com o público em geral; ser organizado; deve criar e manter um clima agradável e de convívio propício aos usuários da biblioteca; ter habilidade para perceber e aceitar mudanças e que a forma tradicional de administrar deve estar aliada à tecnologia, fazendo com que a biblioteca não fique estagnada e distante de toda a transformação pela qual o mundo da informação passa constantemente; deve proporcionar oportunidades diversas para o usuário obter a informação desejada e ter contato com toda e qualquer leitura disponível na biblioteca.

 

O bibliotecário escolar é um agente educativo cuja principal função é a mediação da leitura e da informação e para tanto precisa abrir caminhos para seus leitores; precisa criar vínculos e parcerias com o corpo docente, participar de reuniões pedagógicas, sempre que possível, estar presente em todos os eventos culturais da instituição, representando a biblioteca.

 

Lendo a Revista Nova Escola, de jan./fev.2002, subtraí um texto muito interessante, que era indicado para professores, porém cabia perfeitamente para nós, os bibliotecários:

 

“Só ensina bem quem souber fazer. Não são só os usuários (leitores) que precisam desenvolver competências. O bibliotecário precisa saber dominar seu ofício”.

 

E citava as competências necessárias – a) ler e escrever; b) apreciar a leitura; c) tornar-se criativo; d) localizar informações; e) trabalhar em grupo e f) ser ético, acima de tudo.

 

Vale lembrar que o processo educativo não se esgota na sala de aula, muito menos numa escola, mas deve ser vivido por todos, em todos os lugares e em todas as horas.

 

Ensino e pesquisa não podem ser pensados sem a parceria bibliotecário/professor, daí também a necessidade de o profissional bibliotecário ter, ainda que mínimos, conhecimentos de  PCNs, LDB, Piaget e outros educadores que formam a base da Pedagogia.

 

Em 2001, uma importante revista americana perguntou a notáveis empreendedores, inventores e professores, entre eles Steve Jobs, o inventor da Macintosh; a Dra. Linda Darling-Hammonn, de Stanford; Bill Gates, da Microsoft; e a senadora Maria Canwell, como seriam as escolas no ano 2025 e como o ensino mudaria.

 

Além da visão em profundidade que alguns deles indicaram para os próximos anos, a resposta incluía um registro singular sobre o papel duradouro e indispensável do bibliotecário.

 

“Quanto mais avançarem os meios tecnológicos de acesso ao conhecimento e mais se reconfigurar o professor, também, como mediador entre os alunos e as fontes do conhecimento, mais necessário será o bibliotecário como apoio de uns e outros no centro de tal processo transformador”.

 

Em artigo de Elizabeth Adriana Dudziak – mestre em Ciências da Informação e Documentação pela ECA/USP - “A biblioteca deve rever seu modelo de atuação, buscando transformar-se em um centro de aprendizado, um ambiente multicultural e inovador e ao bibliotecário caberia o maior desafio: o de se transformar em agente educacional, ativamente envolvido com os conteúdos e práticas pedagógicas, também visto como cidadão atuante na comunidade. Neste sentido, mais do que nunca devemos nos abrir para o aprendizado, buscando a renovação, o questionamento de nossas práticas, de nossas relações, aceitar desafios.

O caminho é o diálogo construtivo com nossos pares, a leitura, atualização constante, a busca de respostas às nossas inquietações, almejando transformar nossa realidade e a realidade que nos cerca”.

 

E isso dito e escrito em 2002... O que buscamos ainda????

 

Já dizia Waldomiro Vergueiro, em outro artigo: “...o bibliotecário é o canal de comunicação entre a informação e aquele que dela necessita, esteja ela onde estiver, seja num livro ou com alguém que ainda não a registrou”.

 

De acordo com Ortega y Gasset, em seu El libro de las misiones, de 1942, onde ele trata da missão do bibliotecário, tem essa citação: “Nos seus contatos pessoais com o leitor, o bibliotecário dever ser, igualmente, um conselheiro de leitura. Nesse particular, ele pode opinar com eficácia seja na leitura dirigida, seja na edição dirigida, se não impedindo o conhecimento e a publicação de certos livros, pelo menos aconselhando ou sugerindo a leitura e a publicação de outros realmente necessários”.

 

O bibliotecário pode, e eu diria ainda, deve, sugerir livros para que sejam adotados nas diferentes séries da escola, assim também, como diz Ortega y Gasset, dar feed-back para as editoras a respeito de seus livros, uma vez que, em muitas escolas, é na Biblioteca que os divulgadores se concentram e trazem as novidades.

 

Como podemos perceber, o leque de habilidades e características que o bibliotecário escolar necessita possuir é imenso e variável, carecendo ainda de, além da função técnica, uma pitada de simpatia, de bondade, de tolerância e compreensão, afinal lidamos com pessoas de todas as idades, faixa etária e classe social.

 

No Jornal Zero Hora, do Rio de Janeiro, antecipando o 12 de Março, dia do Bibliotecário, (se não me engano, em 2004), foi publicado um texto escrito por Luiz Antonio de Assis Brasil –Sobre a bibliotecária.

 

É um pouco longo, mas ele faz citações interessantes que mereceram de minha parte um registro:

 

“...ela tem coração, tem emoções e paixões, chora com a dor, alegra-se com os bons momentos da vida, mas há algo que é seu território exclusivo, algo sério em que põe o melhor de seus nervos e sangue: os livros. Ela sabe que não lhes pertencem de papel passado, mas ela os possui pelo afeto dos incontáveis dias em que, durante toda uma vida, a eles se devota”.

“...Por isso a profissão exige, além da ciência específica, uma intensa carga de generosidade.

A bibliotecária sabe que seu trabalho não é um fim em si, mas uma ponte entre o que se ignora e o que se sabe. Até hoje não encontrei uma bibliotecária egoísta; ao contrário, é recompensador ver como transbordam de alegria em poder indicar caminhos, seja ao tumultuário adolescente que busca a mais rápida informação sobre os músculos humanos, seja àquela taciturna dama que procura uma obra sobre criação de orquídeas.Que ninguém tire da bibliotecária o requintado prazer da busca. E quando ela descobre o livro, faz-se a vida. Mesmo que estejamos no mais sufocante verão, há um frescor à nossa volta. Até Machado de Assis parece sorrir, naquele retrato à porta da Biblioteca”.

“Assim, não temamos o futuro nem os desastres, as pestes e inundações. Tudo pode se subverter, o sol mudar de rumo e as estrelas se apagarem: ELA SEMPRE ESTARÁ LÁ”.

(MB)


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MARILUCIA BERNARDI

Formada pela PUCCampinas. Atualmente elabora projetos para formação de Biblioteca Particular (Pessoal), oferece apoio a Bibliotecas Escolares e é aluna da Faculdade da Terceira Idade, da UNIVAP, em Campos do Jordão. Ministrou aulas de Literatura e Comunicação, por dois anos, na Faculdade da Terceira Idade. Atuou na Escola Estadual Prof. Theodoro Corrêa Cintra, em Campos do Jordão, pela ONG AMECampos do Jordão. Trabalhou na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo; na Metal Leve; chefiou a Biblioteca da Faculdade Anhembi-Morumbi e foi encarregada da biblioteca do Colégio Santa Maria. Possui textos publicados e ministrou diversas palestras sobre Biblioteca Escolar.?

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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior