BIBLIOTECA ESCOLAR


  • Discussões, debates e reflexões sobre aspectos gerais e específicos da Biblioteca Escolar.

DEWEY READMORE BOOKS

A coluna é sobre biblioteca escolar. Mas, minha inspiração teima em vir de um gato real, que emocionou uma biblioteca pública norte-americana e conquistou o público de todos os cantos do mundo.

 

Esse “best seller” – que talvez você já tenha lido – começa com a descrição de um indesejável filhote de gato sendo “descartado” por alguém de uma maneira inusitada, mas absolutamente viável: enfiado a contragosto na caixa externa de devolução da biblioteca pública, muito parecida com uma lixeira também pública.

 

O esquálido, infeliz e faminto animalzinho toca o coração da bibliotecária que o encontrou e, aí, começam as peripécias de ambos. Entre os rebuliços de “esconde o gato!” e “olha o gato!”, ele se adapta e adota o local e a equipe, depois o público e a hierarquia institucional, até tornar-se o símbolo de campanhas e chegar a celebridade internacional.

 

O livro é escrito com muita sensibilidade por alguém que se declara emocionalmente vulnerável naquele momento inicial, e para quem o gato foi um fator importante de reafirmação pessoal.

 

Mostra, também, o início e o estabelecimento de tantos vínculos afetivos entre pessoas comuns e animais, de forma positiva e insuspeitada com crianças portadoras de necessidades especiais.

 

Como mascote da biblioteca em questão, Dewey vai levando sua vidinha rotineira, de alguém com uma personalidade firme e sistemática, com preferências e idiossincrasias bastante claras.

 

Quanto ao nome que lhe deram, a autora oferece uma explicação: Dewey, porque se afina com o universo profissional da biblioteca, onde o gato passou a viver; Readmore, porque significa uma das metas daquele ambiente e, mais do que tudo, dá ao bichano a dignidade de ter um sobrenome, deixando de ser apenas um gato qualquer, apesar do nome próprio já por si inusitado. Só que Readmore (leia mais) exige um complemento: daí Books (leia mais livros).

 

Ficamos, pois, conhecendo Dewey, traduzido e vendido em várias línguas e países, estampado na capa com todo o charme e a pose de um belo gato amarelo, de olhar direto, e confiante no seu poder sedutor. Senhor de si, mais que tudo!

 

Como historinha, seria meramente interessante e curiosa. Porém, recomendo a leitura para estudantes e profissionais do ramo; ao longo do texto, a autora mostra n coisas que, em geral, não são abordadas nos cursos e que se traduzem em atitudes e decisões do cotidiano. Na realidade, “Dewey” é um passar a limpo da prática bibliotecária – mais do que a biblioteconômica –, que fala fundo da flexibilização de um mundo que costuma ser canônico e cheio de regras “inquebráveis”.

 

Apesar de ser a biografia fiel de um gato charmoso, querido e longevo, o livro é deliciosamente prazeroso quanto a uma reflexão sobre pessoas, setores e praxis que envolvem o cotidiano da biblioteca. No caso, pública; mas, poderia ser a escolar, com ligeiras adaptações. Chama a atenção do leitor a sensibilidade e a sabedoria da autora ao dirigir aquela biblioteca, ao lidar com seu “staff”, o gato (adotado também por sua família), o público e a hierarquia superior, à qual estava submetida.

 

Além de biográfico, o livro é um necrológio mas, nem por isso é um texto pesado, triste ou de leitura indigesta. Sua linguagem, na tradução para o Português, é acessível a qualquer leitor, seja ou não ligado profissionalmente ao universo da biblioteca. Para o grande público, há um toque de humor nas peripécias acontecidas entre Dewey e as pessoas que o rodeiam, e de muita emoção em momentos inusitados acontecidos entre o gato e aqueles que estão por perto e são ou estão instáveis, física e/ou emocionalmente.

 

Todo o texto é perpassado por uma saudade amorosa, pouco pungente. Muitas regras foram quebradas, ao longo da vidinha de Dewey, mas os fatos relatados demonstraram que tudo valeu a pena e que essa saudade tem muita razão de ser.

 

A autora, que se declara ela mesma a diretora da biblioteca, não chama de imediato a atenção pela literatura que poderia apresentar e, sim, pelo conteúdo de sentimentos que expressa. Na realidade, é mais coração do que razão. Entretanto, teve a sabedoria suficiente para escrever um texto que prende o leitor do começo ao fim, entrecruzando a história de Dewey com os assuntos da biblioteca que dirige.

 

Se a biblioteca em que viveu Dewey fosse a escolar, que prato cheio seria a existência de um gato entre a comunidade, tanto interna quanto entre as famílias dos estudantes e os vizinhos. Quanta polêmica poderia causar a sua presença, mas quanto movimento e vida o gato imprimiria a uma biblioteca que, lamentavelmente, inexiste no universo do ensino público do estado de São Paulo (com exceção dos CÉUS, no âmbito municipal).

 

Enquanto não muda essa realidade, fiquemos com a leitura de Dewey Readmore Books! (MHTCB)


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MARILUCIA BERNARDI

Formada pela PUCCampinas. Atualmente elabora projetos para formação de Biblioteca Particular (Pessoal), oferece apoio a Bibliotecas Escolares e é aluna da Faculdade da Terceira Idade, da UNIVAP, em Campos do Jordão. Ministrou aulas de Literatura e Comunicação, por dois anos, na Faculdade da Terceira Idade. Atuou na Escola Estadual Prof. Theodoro Corrêa Cintra, em Campos do Jordão, pela ONG AMECampos do Jordão. Trabalhou na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo; na Metal Leve; chefiou a Biblioteca da Faculdade Anhembi-Morumbi e foi encarregada da biblioteca do Colégio Santa Maria. Possui textos publicados e ministrou diversas palestras sobre Biblioteca Escolar.?

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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior