BIBLIOTECA PARA TODOS (?): INFORMAÇÃO, LEITURA E PESQUISA
A vivência profissional já me levou a interagir com crianças de nível maternal/pré-escolar até adultos em cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado, em mais de uma área do conhecimento).
Pude, então, constatar que os adultos que tiveram uma história de biblioteca alicerçada na biblioteca escolar apresentam maior desembaraço, autonomia e sucesso na busca da informação, condição fundamental para quem necessita construir um referencial teórico adequado e confiável para elaborar sua dissertação ou uma tese doutoral, por exemplo.
Essa afirmação vale igualmente para os alunos de graduação que devem apresentar, ao final, o trabalho de conclusão de curso, conhecido como TCC.
Acontece que uma das exigências mais pontuadas do MEC, relacionadas com a credencial dos cursos universitários nos seus diversos níveis de complexidade, determinantes inclusive de credenciamento ou descredenciamento da instituição de ensino superior é a biblioteca, que figura então como sendo obrigatória e avaliada quantitativa e qualitativamente, até mesmo quanto à equipe profissional que a gestiona.
Ora, a sabedoria popular afirma que “é de pequeno que se torce o pepino”, o que, em termos de biblioteca, nos leva a questionar o hiato que existe na vida do estudante da rede pública de ensino (pelo menos, no estado de São Paulo), já que a rede privada percebe muito bem a importância da biblioteca escolar e a usa para o marketing direcionado às famílias que a valorizam culturalmente e têm poder aquisitivo para sustentar suas preferências e prioridades.
Lílian Lopes Martin da Silva, docente da UNICAMP na área de Educação, já disse, há muitos anos passados, que a leitura é/era escolarizada, isto é, que a maioria dos alunos só lê/lia enquanto estava na escola; portanto, durante o período da escolarização. O que quer dizer que o aluno lê, se informa e cria conhecimento se a escola dispuser de uma biblioteca escolar para ele e para toda a comunidade, incluindo seus colegas, os professores, corpo técnico, funcionários, familiares e a vizinhança. Incluindo todos no seu âmbito possível de ação.
Para que? Para que possam dispor de material multimídia, com assuntos de interesse, de acordo com os conteúdos programáticos e além deles, com vistas à informação factual e/ou fortuita, à leitura programada ou livre/de lazer, e à pesquisa previamente estabelecida na programação didático-pedagógica. Mas, mais do que tudo, que haja uma iniciação do estudante na familiarização com o universo da biblioteca, da informação e dos textos (em qualquer suporte ou canal), em termos de capacitação informacional.
Não tem cabimento que as nossas autoridades do ramo não enxerguem os sinais que a cada pouco o MEC emite a respeito. Das instituições universitárias, a exigência de
Entretanto, não é essa a filosofia que vem norteando as ações da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo; além do desmonte da biblioteca escolar, de tradição e de excelência, São Paulo deixou que se diluísse o quadro de bibliotecários que garantiam a existência do acervo e da leitura em cada unidade escolar. Tudo isso foi pulverizado, sem que a comunidade fosse respeitada e o contribuinte pudesse vislumbrar onde foi parar aquele patrimônio cultural imenso e valioso, constituído com o seu esforço e o pagamento dos impostos. E de quem é essa responsabilidade?
O CRB-8 elaborou a matriz de um sistema de informação para a rede pública de ensino de São Paulo que, posteriormente, o Conselho Federal de Biblioteconomia adotou e aprimorou para recomendá-lo aos demais estados brasileiros. Por ali, evidencia-se a conveniência de juntar-se o bibliotecário (para selecionar, organizar e manter o espaço e o acervo) e o professor (para interagir com o bibliotecário no planejamento e na realização de atividades culturais e pedagógicas próprias da biblioteca escolar, diferenciadas das de sala-de-aula, que complementam).
Para mim – e certamente para muitos – continuam inexplicáveis a atitude e a situação de impasse e de resistência em que se colocam as autoridades estaduais que podem tomar as decisões nesse setor. (MHTCB)