BIBLIOTECA ESCOLAR


  • Discussões, debates e reflexões sobre aspectos gerais e específicos da Biblioteca Escolar.

BIBLIOTECÁRIO E PROFESSOR: PARCERIA E INTEGRAÇÃO

O Manifesto da Biblioteca Escolar, da UNESCO/IFLA, fala com muita clareza sobre o trabalho conjunto em prol da biblioteca escolar e do conhecimento de seus usuários.

 

Essa é uma parceria que deveria ser harmoniosa, em cada escola (e na totalidade), e, em geral, não costuma ser. Por que?

 

O bibliotecário dificilmente costuma acompanhar o trabalho desenvolvido em sala de aula, a partir dos conteúdos obrigatórios, na seriação da escolaridade, até o efetivo planejamento das atividades letivas. Isso é o mínimo que se poderia esperar dele, como membro participante de uma entidade primordialmente educacional, como é a escola. Além de que são ainda raros os cursos de especialização que ele poderia ter freqüentado para se preparar melhor e formalmente para o seu trabalho como bibliotecário-educador, do qual nem sempre ele tem consciência de que é.

 

Como educação é um projeto e um processo conjunto, que envolve muitos e diferentes profissionais, esse alheamento acaba deixando o bibliotecário à margem, sem conhecer nem aderir ao que fazem os outros educadores à sua volta, mantendo-se na posição desconfortável e de menosprezo de mero guardador de livros, sem que se lembrem, ao menos, que ele é o organizador da informação que ali se encontra.

 

Sem se articular e sem acompanhar o trabalho de cada professor, ele perde enormes e preciosas oportunidades de se empenhar, repito, no projeto e no processo educacional da escola, onde poderia estar agregando valor a ambos – projeto e processo – para o encontro com as fontes de informação, com vistas ao conhecimento.  Como educador, também, o bibliotecário poderia direcionar melhor o acervo – em todos os tipos, formatos e meios impressos e eletrônicos – que pudessem ser úteis, atrativos e prazerosos (por que não?) para a comunidade usuária: estudantes, professores, técnicos, funcionários e demais pessoas ligadas, de alguma forma, à escola. Mas, antes de tudo, que pudesse contribuir para tornar a aula do professor (qualquer aula, de qualquer professor) mais criativa e esclarecedora.

 

A biblioteca escolar ideal busca a simbiose entre ela própria e a sala de aula.

 

Mas, essa é uma moeda que, como tal, tem seus dois lados: o professor, em geral, não tem o hábito de freqüentar bibliotecas e desconhece o potencial de trabalho e de serviços produzidos pelo bibliotecário, com os quais poderia contar para benefício próprio, em termos profissionais. Para ele, talvez, perdure a imagem negativa do “guardador de livros”, inoperante em atividades culturais e educacionais, da qual somos culpados, em grande parte.

 

O professor tem o status de educador, quase sempre garantido pelo seu diploma. O bibliotecário, por mais que se insista, ainda não percebeu que o é; ao não se dar conta de que, por omissão, pode estar sendo um não-educador, “quebra” ou impede que se atinja a plena qualidade educativa na unidade escolar em que ambos se encontram. O desconhecimento mútuo do que um e outro fazem cria fantasmas e gera a dificuldade de aceitação e de colaboração; estabelece barreiras e uma animosidade sutil entre ambos.

 

Há anos atrás, com a parceria de uma lúcida e interessada professora do curso de Magistério, em nível técnico, consegui inserir um projeto experimental numa das séries daquele curso, para abordar a importância e o papel da biblioteca escolar e da literatura infantil e juvenil para a comunidade da escola fundamental. Lamentavelmente, não consegui finalizar o projeto porque o curso foi extinto, pelo menos no estado de São Paulo.

 

Em outra oportunidade, pude oferecer palestras sobre esses mesmos temas, no curso de Pedagogia, em nível universitário.

 

Entretanto, essas duas situações não foram uma constante.

 

Por isso, chamo aqui a atenção dos leitores para alguns pontos que considero significativos:

 

1-     os currículos antigos de Biblioteconomia incluíam disciplinas dedicadas à Pedagogia e à Psicologia, oferecendo noções básicas para o profissional exercer o seu papel de educador e compreender melhor o papel do professor em sala de aula, em atividades ao mesmo tempo diferentes e complementares, beneficiando enormemente o alunado e favorecendo a integração na escola. Hoje, essas disciplinas desapareceram do currículo;

2-      a meu ver, os professores e outros membros da equipe gestora da escola deveriam ser motivados e insistentemente convidados a participar de nossos eventos e reuniões científicas, para que conhecessem melhor nosso potencial de serviços, dos quais pudessem confiantemente usufruir e se beneficiar;

3-      do mesmo modo, os bibliotecários deveriam freqüentar eventos e reuniões científicas de áreas próprias da Educação, tanto para aprender quanto para divulgar o que pode ser tentado e desenvolvido conjuntamente em benefício da escola e dos projetos escolares;

4-     os cursos de Biblioteconomia voltados para a especialização em biblioteca escolar ainda são raros e esparsos no imenso território geográfico do Brasil. Entretanto, as escolas estão garantidas por lei em todo esse mesmo território, pelo menos até a 8ª série da escolaridade, configurando-se um paradoxo e uma disparidade;

5-     os cursos de Biblioteconomia, na graduação, são e devem continuar sendo generalistas, já que os egressos assumem os mais diversos tipos de centros de informação e documentação, e não é possível predizer onde estarão atuando no futuro, mesmo próximo. Assim, os cursos de especialização precisariam se multiplicar, atendendo as necessidades das diversas regiões geográficas;

6-     essa discussão, a meu ver, precisaria ser objeto dos diversos cursos de Biblioteconomia e, se e quando possível, perpassar as demais áreas ligadas à Educação.

 

Penso que esse seria um passo importante para evitar que houvesse o hiato, já comentado em artigo anterior, da falta de familiaridade do usuário com a informação e a leitura, por falta tanto de biblioteca e do bibliotecário escolar (e a pública, também) na sua história de vida, quanto pelo sofrimento e pelo constrangimento desnecessários que o atingem em cheio na biblioteca universitária. (MHTCB)


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MARILUCIA BERNARDI

Formada pela PUCCampinas. Atualmente elabora projetos para formação de Biblioteca Particular (Pessoal), oferece apoio a Bibliotecas Escolares e é aluna da Faculdade da Terceira Idade, da UNIVAP, em Campos do Jordão. Ministrou aulas de Literatura e Comunicação, por dois anos, na Faculdade da Terceira Idade. Atuou na Escola Estadual Prof. Theodoro Corrêa Cintra, em Campos do Jordão, pela ONG AMECampos do Jordão. Trabalhou na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo; na Metal Leve; chefiou a Biblioteca da Faculdade Anhembi-Morumbi e foi encarregada da biblioteca do Colégio Santa Maria. Possui textos publicados e ministrou diversas palestras sobre Biblioteca Escolar.?

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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior