CÂNCER NO LIVRO INFANTIL
Para iniciar nossa conversa, devo informar que ela não será longa. Não será longa porque é uma conversa dolorida.
A palavra câncer entrou na minha vida quando um tio muito querido entrou em estágio vegetativo por causa de um câncer na garganta. Ele, assim como meu pai, se chamava José. No dia de sua morte eu tinha uns 9 anos e fiz questão de ajudar minha tia a colocar as meias em seus pés. Pareceu-me na época, que as meias iam protegê-lo do frio. Devaneio de criança!
Essa palavra reapareceu um pouco depois quando outro tio, o Antônio veio morar em casa. No começo, olhar para o tio Antônio dava uma sensação esquisita, pois seus lábios não eram iguais aos nossos, tinha uma protuberância. Um pedaço de carne e pele que foi tirado da barriga que possibilitava o movimento no falar e no comer. Esse tio não faleceu de câncer, pelo contrário, viveu conosco até aos 84 anos.
A conclusão dessas duas narrativas é que a duração do câncer é algo imprevisível. Então, não podemos deixar de falar nele.
Para alguns, esse é um tipo de temática que não deveria estar nos livros infantis. Mas, e se as crianças tiverem que enfrentar essa doença? Sendo nela mesma ou em um parente querido, como falar?
Que pergunta heim!? Permitindo que as crianças tenham acesso a pluralidade de temáticas. Se você adulto não der conta dessa tarefa, deixe que o livro faça. Sugiro aqui dois que com delicadeza e amorosidade abordam essa doença:
ROCHA, Eliandro. Passa Passará. São Paulo: Paulinas, 2021.
MEBS, Gudrun. Íris: uma despedida. São Paulo: Pulo do Gato, 2012.
Destaco que o primeiro foi ilustrado por Mateus Rios e o segundo por Beatriz Martin Vidal e que as ilustrações de ambos são apresentadas com muita sensibilidade e sutileza, dignas de serem consideradas obras de arte.