LITERATURA INFANTOJUVENIL


COM DEDICAÇÃO A UM LEITOR NOJENTO

Só pelo título você deve estar imaginando que lá venha coisa escatológica. Relaxe e curta!

 

Mais uma vez (já fiz isso em julho de 2005) quero fazer uma dedicação aos adultos que torcem o nariz para qualquer brincadeira nojenta que as crianças fazem. Estou falando dos exagerados, não daqueles que reprimem quando a criança fica “limpando o salão” e colocando a “poeira” na boca. Isso tem que ser reprimido sim porque não faz parte da nossa cultura, deve ter por aí afora povos que aceitam isso numa boa. Não é nosso caso.

 

Essa semana mesmo, eu reprimi uma menina linda (3 anos) que sentou ao meu lado e meteu o dedão no nariz e ali ficou catando catota (uma grande meleca). Quando a peguei no colo eu disse, nada de colocar sujeira de nariz na minha roupa! (foi mais para provocar, pois de criança não tenho nojo).

 

Ah! E foi só dizer isso e a próxima saída do dedo do nariz, aquela pequena mão veio chegando até minha calça. Não pude rir para não deseducá-la, mas um dia, quando ela crescer é claro, eu conto isso pra ela.

 

Coincidência ou não estava preparando uma palestra, quando me encontrei com esse texto maravilhoso. Sei que não estarei infringindo o direito autoral, pois vou citar autoria e os créditos de publicação. Peço desculpa pelo atrevimento e desde já mando um beijo de “coração para coração” a escritora Rosane Pamplona pela criatividade e coragem.

 

 

O POBRE COCOZINHO

 

Era uma vez um cocô. Um cocozinho feio e fedidinho, jogado no pasto de uma fazenda.

Coitado do cocô! Desde que veio ao mundo, ele vinha tentando conversar com alguém, fazer amigos, mas quem passava por ali não queria saber dele:

- Hum! Que coisa fedida! – diziam as crianças.

- Cuidado! Não encostem na sujeira – avisavam os adultos.

E o cocozinho, sozinho, passava o tempo cantando, triste.

 

Sou um pobre cocozinho

Tão feinho, fedidinho

Eu não sirvo para nada

Ninguém quer saber de mim...

 

De vez em quando ele via uma criança e torcia para que ela chegasse perto dele, mas era sempre a mesma coisa:

- Olha a porcaria! – repetiam todos.

Não restava nada para o cocô fazer, a não ser cantar baixinho:

 

Sou um pobre cocozinho

Tão feinho, fedidinho

 

Um dia ele viu que um homem se aproximava. Já imaginando o que ia acontecer, o cocozinho se encolheu. “mais um que vai me xingar”, pensou. Mas... Oh! Surpresa! O homem foi chegando, abrindo um sorriso, e seu rosto se iluminou:

- Mas que maravilha! Que belo cocô! Era exatamente disso que eu precisava.

O cocô nem acreditava no que estava ouvindo. Maravilha, ele? Precisando?

Aquele homem devia ser maluco!

Pois aquele homem não era maluco, não. Era jardineiro.

E, usando uma pá, com todo o cuidado, ele levou o cocozinho para um lindo jardim.

Ali, acomodou-o na terra, ao pé de uma roseira. É, depois de alguns dias, o cocozinho percebeu, feliz e orgulhoso, que, graças a sua força, a roseira tinha feito brotar uma magnífica rosa vermelha, bela e perfumada.

 

 

Desabafo:

Que pena que em 2005 no Londrix – Festival Literário de Londrina – quando eu e ela estivemos juntas em uma mesa/debate denominada “Literatura infantil: fenômeno de mercado ou necessidade de leitura?”, eu não conhecia esse texto, pois com certeza, aquele encontro teria sido muito mais divertido.

 

Fonte:

PAMPLONA, Rosane. O pobre cocozinho. Revista Nova Escola, São Paulo, v. 4, p.48, abr. 2007. (Edição Especial).


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.