LITERATURA INFANTOJUVENIL


CONVERSA MEDIADA POR GAARDER

Aparecida de Almeida da Silva
(aluna de Biblioteconomia da UEL)

 

CIDA: Sueli eu trouxe para te emprestar dois livros de Jostein Gaarder.

 

SUELI: Que legal, estou sentindo uma saudade de ler literatura! Agora fazendo doutorado, acabei reduzindo o tempo de leitura literária. Que livros são?

 

CIDA: A biblioteca mágica de Bibbli Bokken e Através do Espelho.

 

SUELI: Não li nem um deles. Você, heim! Sempre mediando as minhas leituras!

 

CIDA: Chumbo trocado é bom!

 

SUELI: Confesso que eu também não li o livro O Mundo de Sofia desse autor, mas consta naquela listagem que eu chamo de “retardo literário”. Aquela em que eu vou anotando livros que eu quero ler e que ainda não foi possível.

 

CIDA: Pois eu te aconselho a ler. Em minha opinião, é o melhor livro que o autor já publicou.

 

SUELI: Para de me provocar, pois estou com uma pilha de texto científico.

 

CIDA: E não é isso que você faz quando tem um texto que ainda não li?

 

SUELI: Tá bom. Nisso eu tenho que concordar.

 

ALGUNS DIAS DEPOIS...

 

CIDA: E então gostou dos livros que te emprestei?

 

SUELI: Gostei dos dois. Mas quero falar do Através do Espelho, por vários fatores, primeiramente porque ele nos mostra a importância de pequenas coisas como: conversar com os amigos, com os familiares, aproveitar cada momento que temos para desfrutar dos que amamos. E para quem acredita em algo além da matéria, ele nos aponta a possibilidade da existência de “seres especiais” que nos protegem.

 

CIDA: Eu ainda não terminei de ler, então você poderia comentar para que o nosso leitor saiba do que se trata.

 

SUELI: Narra a história de Cecília, uma menina que está com uma doença incurável e que devido a sua fraqueza, tem passado seu tempo numa cama. Seus familiares: mãe, pai, irmão, avô e avó revezam para fazer companhia a ela. Mas um dia acontece algo diferente...

 

CIDA: Credo! Sueli, a história me parece muito triste!

 

SUELI: É, coração de mãe sofre dobrado. Mas a história é linda! Um dia ela começa a “enxergar” um anjo (que pode ser um duende, um espírito amigo ou qualquer outra denominação). Nesse livro o autor chama-o de anjo de Ariel, mas as características dele são diferentes das descrições comumente dadas aos anjos. Não tem asas, cabelos, nem sobrancelhas e cílios. Não tem a capacidade de sentir odor, paladar, temperatura, tristeza, alegria etc., e não dorme e nem sonha.

 

CIDA: Realmente parece um anjo esquisito! Meio sem vida.

 

SUELI: As aparências enganam. Ele é silencioso, mas agitado e engraçado. Só faz afirmações quando é necessário, na maioria das vezes ele deixa a Cecília chegar as suas próprias conclusões, o que a deixa muito irritada, mas interessada nesse jogo de provocação.

 

CIDA: Os demais familiares conseguem ver o Ariel?

 

SUELI: Não, porque Ariel tem a capacidade de perceber a aproximação de cada um deles e se esconde nesse momento. Além disso, ele costuma desacatar algumas proibições dos médicos, como por exemplo: esquiar para sentir a neve no Dia de Natal. E faz isso carregando a menina no ar, enquanto os pais estão dormindo.

 

CIDA: Mas esse anjo está me parecendo muito “safado”!

 

SUELI: De fato o que o anjo Ariel faz e fala a respeito do Céu, não é muito ortodoxo.

 

CIDA: O que mais ele conta do “Reino dos Céus”?

 

SUELI: Conta que os anjos nem sempre estão contentes, que também brigam, brincam de amarelinha, ficam descansando nos asteróides durante incontáveis dias.

 

CIDA: Acho que essa descrição é mais interessante do que aquelas que costumamos ler por aí, pois nesse caso, a distância entre as pessoas e esses seres é anulada. O mesmo acontecendo com o Céu, esse “espaço” tão desejado, mas tão misterioso.

 

SUELI: O livro é muito mais interessante do que relatamos aqui, mas o objetivo dessa conversa é provocar o interesse em lê-lo. Será que conseguiremos?

 

CIDA: Bom, essa resposta é “irrespondível”! Toda tentativa de mediação é válida, mas não é rígida, pois pode provocar em cada leitor um desejo ou desejos de novas leituras.

 

SUELI: Conta-me agora como é o livro A biblioteca Mágica de Bibbi Bokken, pois ainda não terminei de ler. Será que é uma obra para bibliotecários?

 

CIDA: É uma história fascinante entre dois primos que depois que um deles passa férias na casa do outro, começam a se corresponder.

 

SUELI: E o que há de fascinante nesta história?

 

CIDA: Bom, para não te deixar confusa vou começar de novo e direito.

 

SUELI: Assim é melhor, pois não estou entendendo muita coisa.

 

CIDA: Bom, então lá vai. É a história dos primos Berit e Nils, que pra não ficarem sem se corresponder resolvem comprar uma espécie de diário para que possam manter contato.

 

SUELI: Não vi nada de interessante até agora?!

 

CIDA: Calma você já vai se interessar. Continuando... Enquanto Nils decide qual diário comprar, se depara com cena muito estranha. Vê uma mulher olhando os livros de uma forma que parece um prato de comida, pois ela babava...

 

SUELI: Nossa, que mulher estranha?

 

CIDA: Estranho achou Nils quando foi pagar a conta e a mulher lhe ofereceu dez coroas para ajudar no pagamento.

 

SUELI: Isso é mais estranho ainda!

 

CIDA: Bom, esse é o primeiro relato que Nils coloca em seu diário para a prima Berit.

 

SUELI: Continue contando, você já está me deixando curiosa.

 

CIDA: O que é interessante nessa história é que após terem estranhado a atitude dessa mulher começam a investigá-la.

 

SUELI: E o que eles descobrem?

 

CIDA: Berit se encontra novamente com a mulher misteriosa e resolve segui-la e ao chegar à casa dela encontra na caixa de correio a carta de uma mulher contando sobre um fato inacreditável.

 

SUELI: E que fato é esse?

 

CIDA: Um sebo que vende livros que ainda não foram publicados.

 

SUELI: Como assim? Livros que ainda não foram publicados?

 

CIDA: Berit escreve para Nils e ele também não acreditou nela e isso a deixou muito irritada e ela quase desistiu de manter contato com seu primo.

 

SUELI: E daí eles continuam a investigação?

 

CIDA: Sim, eles continuam. E é muito interessante que mesmo investigando essa fantástica história eles conseguem intercalar com outras leituras e vão colocando isso em seu diário de adolescentes imaginativos. Isso acaba reforçando que a leitura é capaz de fazer a gente viajar pela história e se sentir parte dela. Como disse Nils: “Quando leio um livro que gosto, parece que o que estou lendo, faz meu pensamento sair voando do livro.”

 

SUELI: Que delícia, ser leitor assim! Eu também faço muitas viagens ao ler literatura. Brigo com os personagens, choro, sofro e me alegro com eles.

 

CIDA: Continuando... Por causa dessa investigação Nils acaba escrevendo uma história solicitada pelo professor, redação esta que desencadeia em um grande sermão, pois havia escrito uma história muito fantasiosa de uma assassina em série chamada Bibbi Bokken.

 

SUELI: E o que o professor fez com Nils?

 

CIDA: Nada, mas pediu que ele não escrevesse mais histórias fantasiosas sobre pessoas que existem realmente. Foi então que eles descobriram que o professor (na realidade a mulher dele, conhecia Bibbi Bokken). E é claro que ele fez de conta que não sabia de nada.

 

SUELI: Ainda bem que ele foi esperto. E daí o que mais aconteceu?

 

CIDA: Eles aprendem que Dewey foi um homem que criou a Classificação Decimal de Dewey, uma forma de se dar um número ao assunto de cada livro de uma biblioteca.

 

SUELI: Continua contando.

 

CIDA: Sabe uma coisa que eu estava deixando para contar no final, é que na verdade eles estavam investigando uma biblioteca mágica que Bibbi Bokken criou.

 

SUELI: Uma biblioteca mágica? Uma biblioteca mágica até eu correria atrás.

 

CIDA: Sim, uma biblioteca mágica. Acho, porém, que devemos deixar o leitor acabar a leitura do livro sozinho, pois acredito que conseguimos deixá-lo curioso com toda essa conversa.

 

SUELI: Não acho isso muito justo, mas a responsabilidade da Coluna deste mês é sua... E eu pergunto: e se o leitor desse texto for um serial killer? Você quer correr o risco de ser uma ex-colaboradora?

 

CIDA: Vou correr o risco, pois não quero estragar o fim da história que é surpreendente.

 

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Outros livros do autor:

http://www.esnips.com/web/JOSTEINGAARDER


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.