LITERATURA INFANTOJUVENIL


OS CONTOS DE FADAS E OS 200 ANOS DE ANDERSEN

(Sueli Bortolin e Rovilson José da Silva)

A coluna desse mês será composta de duas vozes, a minha e a do meu amigo Rovilson (que também é colunista deste site). E essa conversa é a reprodução de uma palestra que proferimos na Feira de Livro Infantis do SESC/Londrina no mês de junho. O tema contos de fadas sempre esteve presente em nossas vidas, pois somos contadores de histórias, mas ele recebe um tom especial por se tratar de um dos autores mais importantes da literatura infantil universal - Hans Christian Andersen.

Antes de dissertar a respeito de um autor muito apreciado por nós, gostaríamos de lembrar que o ser humano sempre foi narrativo por natureza. Desde os tempos imemoriais ele sentiu a necessidade de contar sobre si, sobre o que via, o que sentia, exemplo disso é a pintura, ou escrita pictográfica e ideográfica nas cavernas e paredes (ROCHA, 1992).

Sempre as famílias embalaram suas crianças com histórias cantadas. Histórias foram e são inventadas pelos pais para que as crianças comam, vistam-se ou tomem algum remédio. Há também a história da própria família... Cada família tem uma história a ser contada. Cada história tem um tesouro a ser cultivado para ser dividida e transmitida para a geração vindoura.

Os contos de fadas fazem parte dessas histórias antigas, transmitidas de boca em boca, passadas de geração em geração. Eles fazem parte de uma herança cultural que é conhecida como tradição oral. E como "quem conta um conto aumenta um ponto" - os mesmos têm sido transmitidos ao longo dos séculos.

A estrutura dos contos de fadas, em sua maioria, possui príncipes e princesas, reis e rainhas, castelos, bruxas, madrastas, anões, gigantes e heróis que enfrentam perigo, magia e encantamento. É constante nos contos de fadas a transformação dos seres e das coisas; o uso de talismãs e objetos mágicos (lâmpada, varinha, luz azul, sangue); valores humanistas, morais, éticos (bem versus mal) etc.

Hoje as crianças não crescem mais dentro da segurança de uma família numerosa, ou de uma comunidade bem integrada. Por conseguinte, mais ainda do que na época em que os contos de fadas foram inventados, é importante prover a criança moderna com imagens de heróis que partiram para o mundo sozinho e que [...] encontraram lugares seguros no mundo seguindo seus caminhos com uma profunda confiança interior (BETTELHEIM, 1980).

Acreditando na importância desse gênero de literatura e na importância de Andersen como produtor dos contos de fadas, optamos por falar a seu respeito na coluna desse mês.

Hans Christian Andersen, nasceu na ilha Fiônia em Odensee na Dinamarca no dia 2 de abril de 1805 (em sua homenagem é comemorado nesse dia, o Dia Mundial do Livro Infantil).

Carvalho (1984) pesquisadora da história da literatura infantil comenta a respeito do autor: "as regiões nórdicas, cheias de névoas e de sonhos, guardavam o mistério de suas legendas, que tanto encantaram o menino Andersen. Andersen adormecia embalado pelas velhas lendas do Norte, contadas por seu pai. Muitas vezes visitava os abrigos dos pobres, para ouvir de alguns velhinhos as extraordinárias estórias encantadas. Tudo isso povoou sua alma de sonhos. Era de família pobre e humilde. Seu pai era um modesto sapateiro, porém de acentuada vocação literária, estimulando no filho o gosto que mais tarde veio torná-lo famoso. Durante a noite, enquanto trabalhava, narrava ao filho belos contos, lia cenas de teatro, fábulas, etc.".

Sua mãe era uma lavadeira analfabeta, que acreditava em superstições e magia. Quando seu pai morreu, Andersen tinha apenas 11 anos, ela sempre demonstrava que não o amava e, para completar sua tristeza, casou-se novamente. E ele acabou sendo criado pela irmã de um pastor (que era chamado de "poeta", e que compreendia bem o jeito sonhador de Andersen).

Certo dia chega a sua terra natal uma Companhia de Teatro vinda de Copenhague e ele, que queria ser ator, suplicou um papel até conseguir. Então aos 15 anos vai para Copenhague, se sente novamente abandonado e lá sofre muito. Pede apoio e assistência a um cantor lírico italiano chamado Siboni. Mais tarde recebeu proteção de Jonas Collin e este, passou a subsidiar os estudos até a universidade.

Seu talento começa a ser conhecido, e ele foi introduzido na casa da Família Real (rei Frederico VI). Cada vez mais estimulado ele escreve mais contos e estes lhe dão mais fama e reconhecimento.

Seu primeiro conto para crianças foi "O menino moribundo", escrito em 1827. Depois deste, vieram mais 156, sendo os mais conhecidos: Patinho Feio, Os novos trajes do Imperador ou A roupa nova do Imperador, João Pato ou João trapalhão, O isqueiro mágico, O soldadinho de chumbo, A sombra, O rouxinol e o Imperador da China, A pequena vendedora de fósforo, A pastora e o limpador de chaminés, Nicolau grande e Nicolau pequeno ou João grande e João pequeno, A pequena sereia ou Sereiazinha, Os cisnes selvagens, Pequetita, O sino, O companheiro de viagem, O homem de neve, João e Maria, O sapo, O pequeno Tuque, A menina que pisou no pão, O pinheirinho, A gota d'água, As galochas da felicidade, As flores da pequena Ida, Tininha, Tommelise, A colina dos Elfos, A verdade verdadeira e A rainha da neve.

Sem ter a pretensão de nos aprofundar, pelo contrário, apenas com a intenção de fazer uma provocação para uma possível leitura, apresentamos no quadro a seguir, algumas considerações retiradas de análises existentes em diferentes obras.

Título do Conto
Abordagem

A gota d'água
As galochas da felicidade
As flores da pequena Ida

Sátira, ironia sutil.
Sapatinhos vermelhos
A sereiazinha ou A pequena sereia
Aborda o amor de maneira lírica e trágica (amor ideal, edificante, verdadeiro).
O Pinheirinho
Tininha
O vício não é corrigido e nem a virtude é premiada, demonstra, porém que devemos ter virtudes.
O patinho feio
Esse personagem é a representação da própria vida de Andersen (desprezado pela mãe, pelos colegas da escola) tem que fugir para longe e amadurecer sozinho.
A pastora e o limpador de chaminés
Faz uma critica a desigualdade de classes.
A pequena vendedora de fósforo
Valoriza as qualidades interiores das pessoas.
O soldadinho de chumbo
O homem de neve
Aponta as situações precárias da vida.
O rouxinol e o Imperador da China
Defende que a natureza é superior às coisas artificiais da vida.
O pequeno Tuque
Os cisnes selvagens
Sugere a necessidade de resignação perante os problemas da vida.
A roupa do Imperador ou O novo traje do Imperador
João grande João pequeno ou Nicolau grande e Nicolau pequeno
Faz uma critica o ato de enganar os outros
A menina que pisou no pão
Condena a arrogância e a maldade.


Andersen parou de escrever apenas três anos antes de sua morte. Morreu em 1875 aos 70 anos, quando doou sua fortuna para as crianças abandonadas ou pobres. "Andersen é filho do povo, a sua experiência é vivida e sentida: ninguém foi mais sincera e verdadeiramente povo do que Andersen" (CARVALHO, 1984).

Sugestões de Leitura

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 7.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de. A literatura infantil: visão histórica e crítica. 3.ed. São Paulo: Global, 1984.

ROCHA, Ruth; ROTH, Otávio. O livro da escrita. 9.ed. São Paulo: Melhoramentos, 1992.

Sugerimos ainda a leitura da Coleção "Era uma vez... Andersen", publicada pela Editora Kuarup de Porto Alegre.


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.